Golpe do “carro finan” é cada vez mais frequente na Capital

É cada vez mais frequente, em Cuiabá, a aplicação do conhecido golpe: "carro finan”, ou ainda “carro NP”. As siglas significam, em resumo, carros luxuosos a preço de sucata.

Um exemplo: uma S10, ano 2013, flex, completa. A tabela da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe), usada como referência em todo o país, diz que esse veículo vale hoje R$ 50.490,00. Mas, na internet, em um site da Capital, é fácil encontra uma grande oferta - o carro sendo vendido pela "bagatela" de R$ 25 mil.

De acordo com o delegado José Carlos dos Santos Damian, da Delegacia de Estelionato da Capital, a prática do denominado golpe do “carro finan” já existe há anos e tem se intensificado por todo o Brasil. E Cuiabá não é exceção.

Contudo, a Polícia Civil do Estado tem atuado de forma a coibir essa prática criminosa, que pode trazer muitos transtornos a quem se dispõe a tomar parte nesse tipo de ação.

É um golpe tradicional, antigo, cada vez mais frequente. Quem pratica esse crime é uma pessoa mais refinada. O 'finan' é um cara que tem boas relações bancárias, além de ter conhecimento de revenda de carro e técnica de habilidade de convencimento para vender o produto

“É um golpe tradicional, antigo, que está cada vez mais frequente. Quem pratica esse crime é uma pessoa mais refinada. O 'finan' é um cara que tem conhecimentos bancários, que conhece pessoas de boas relações bancárias, além de ter conhecimento de revenda de carro e técnica de habilidade de convencimento para vender o produto”, afirmou.

Conforme o delegado, atualmente, há aproximadamente 60 inquéritos sobre o golpe em investigação na delegacia.

Damian explicou que existem duas maneiras de o golpe ser aplicado.

A primeira funciona assim: uma pessoa compra o veículo de boa fé, mas não consegue dar conta das parcelas e repassa o carro por pouco dinheiro aos golpistas, que prometem assumir as prestações. Isso não acontece, as prestações deixam de ser pagas, até que então o agente financeiro decide pela busca e apreensão do veículo. O processo é moroso.

Enquanto isso, o veículo é revendido a um preço muito baixo e segue rodando.

“A morosidade do processo de busca de apreensão fomenta o crime. A concessionária pede a busca e apreensão do veículo depois de três meses, sem a realização de pagamento. No fim, o Poder Judiciário demora mais três meses para conceder a ação. Na soma, são mais de seis meses”, relatou o delegado.

O segundo esquema ocorre da seguinte forma, conforme Damian: o estelionatário vai até a concessionária, compra um carro financiado, no valor de R$ 40 mil, por exemplo, dá  uma entrada de R$ 10 mil e o revende por R$ 20, 25 mil. O veículo fica em nome de "laranjas", que fornecem os dados em troca de dinheiro.

Quem compra esse tipo de carro, muito abaixo do preço de mercado, não possui a menor intenção de executar o pagamento das prestações que o veículo possui, já que o financiamento foi feito em nome de  outra pessoa.

“Na maioria das vezes,  a pessoa compra nesse sentindo, faz um seguro em cima do carro e, depois, dá um perda nele, inventa um acidente, resolve o problema do B.O. do financiamento e segue andando com o veículo”, disse o Damian.

O delegado observou que tanto as pessoas que atuam como laranjas no esquema, como também as que adquirem veículos por quantias muito abaixo do valor real, incorrem em crime e podem ser responsabilizadas não apenas civil, mas também criminalmente por isso.

Marcus Mesquita/MidiaNews

Na Capital, conforme o delegado Damian, nenhuma pessoa ainda chegou a ser presa pelo golpe do “carro finan”

Na Capital, conforme Damian, nenhuma pessoa ainda foi presa pelo golpe do “carro finan”.

No entanto, de acordo com o delegado, a Polícia Civil tem o conhecimento de que, pelos menos,  seis pessoas sobrevivem com esse golpe em Cuiabá.

Damian não quis dar mais detalhes sobre os suspeitos para, segundo ele, não atrapalhar as investigações.

Anúncio

Nesta infinidade de anúncios da internet, encontramos um de Cuiabá. O carro é um Fiat Stillo 2014, com muito conforto, teto solar panorâmico, câmbio automático, ar-condicionado digital, direção hidráulica, airbag - o sonho de consumo de muita gente.

 Pela tabela, o preço deste veículo é R$ 31.943. Na Capital, no mercado clandestino dos veículos finan, ele custa R$ 15 mil. 

Entramos em contato com o vendedor, que afirmou ter passado o carro para frente, há meses.

Porém, estava vendendo uma caminhonete S-10, ano 2008, por R$ 17 mil.

Ao ser perguntado se o esquema poderia trazer alguma complicação jurídica ou criminal, ele disse: “De jeito nenhum. Esse negócio de financiar carro velho e ficar pagando a vida toda não existe mais”.

No final da ligação, o vendedor destacou as qualidades do carro, assegurou que a caminhonete está em perfeito estado de uso, apesar de ter cerca de 100 mil km rodados, e que o pagamento só poderia ser à vista.

Prejuízos

Quem amarga os prejuízos do golpe do “carro finan” são os bancos.

MidiaNews

O Detran não soube informar se há veículo do golpe "carro finan" circulando por Cuiabá

Após aprovar o financiamento do carro, as agências bancárias são obrigadas a repassar o valor da parcela dos veículos para as concessionárias, mesmo que o cliente não faça o pagamento.

A reportagem entrou em contato com a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), porém, a assessoria de imprensa não soube informar o valor do prejuízo que as agências têm com o golpe.

O MidiaNews também entrou em contato com o Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso, para saber se há conhecimento de veículos do golpe “carros finan” rodando na cidade.

No entanto, de acordo com a Coordenadoria de Renavan, o Detran não tem acesso a esses dados, pois eles são incluídos no sistema do Detran pelos bancos financiadores.

Conforme a coordenadoria, são os bancos que fazem o financiamento e também são eles que são lesados e incluem no sistema a restrição judicial.

Orientações

O delegado José Carlos Damian faz algumas orientações, com o objetivo de evitar problemas relacionados a financiamentos de veículos.

• Quando o cidadão deseja comprar um carro já financiado de terceiros e se, por ventura, suspeitar da procedência ou documentação do veículo, deve proceder à verificação junto às instituições especializadas, como o Detran ou a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos.

• Procurar adquirir o veículo em concessionárias ou lojas idôneas, onde as garantias são maiores.

• Ao vender um carro financiado a terceiros, mesmo parentes ou amigos, providenciar a transferência do financiamento e da documentação do veículo imediatamente.

• Recusar ofertas de veículos vendidos muito abaixo do valor praticado no mercado.

O delegado lembrou ainda, que quando uma pessoa revende um veículo a terceiros e a transferência não é providenciada e, esse mesmo veículo for utilizado em práticas criminosas ou mesmo se envolver em acidentes com vítimas fatais, o antigo proprietário do carro responderá criminalmente pelos delitos.