Andando pelas ruas de Cuiabá tem sido cada vez mais comum as pessoas se depararem, de tempos em tempos, com uma nova drogaria. Algumas parecem “brotar” do nada, às vezes uma ao lado da outra.
A grande quantidade alterou a paisagem de muitas ruas da Capital, com os estabelecimentos tomando o lugar que antes eram de casas noturnas, lojas e restaurantes.
Em um movimento que se acentou nos últimos 10 anos, as grandes redes têm dominado o mercado na Capital com suas lojas que mais parecem pequenos “shoppings centers”. Nelas o cliente encontra de produtos de perfumaria a acessórios, bebidas não alcoólicas, balas e “inclusive” medicamentos.
A expansão do setor na cidade é real e não só uma mera impressão. Segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, houve um aumento de 67% no número de aberturas de novas farmácias e drogarias em Cuiabá apenas no último ano.
Enquanto a Capital registrou a abertura de 31 novas lojas no ano de 2022, em 2023, que ainda nem acabou, esse número saltou para 52.
O avanço reflete uma tendência nacional. Segundo o portal Inova Farma, em apenas quatro anos o faturamento do setor de drogarias e perfumaria cresceu 78% no Brasil. Enquanto em 2019 houve uma receita de R$ 72,8 bilhões, em 2022 esse valor subiu para R$ 129,6 bilhões. Neste mesmo período, a economia brasileira como um todo cresceu na casa dos 10%.
O presidente do Sincofarma (Sindicato das Farmácias e Drogarias de Mato Grosso), José Antônio Parolin, afirma que esse o movimento de expansão teve início com a Copa do Mundo, em 2014, que colocou Cuiabá na mira dessas grandes redes.
“Até 2012 não existiam essas redes aqui. Algumas vieram e já até foram embora. Invadiram Mato Grosso porque viram que aqui tinha certa fragilidade por só existir redes locais, farmácias de pequeno porte”, afirma.
Parolin explica que parte das grandes redes está na Bolsa de Valores. Isso significa que a captação de investimentos para abrir uma nova loja é muito maior e mais rápido do que um único empresário seria capaz de conseguir.
“Enquanto um empresário independente gasta em média R$ 500 mil a R$ 800 mil para montar uma farmácia bem montada, uma dessas grandes redes gasta de R$ 5 milhões a R$ 8 milhões. É difícil as pequenas e médias competirem”, explica.
Engolidas pelos concorrentes
De acordo com Parolin, Cuiabá e Várzea Grande somaram uma média de 430 farmácias e drogarias em funcionamento até fevereiro de 2023. Em Mato Grosso esse número chegou a 2.439 empresas ativas.
Mesmo que seja notório o aumento significativo no número de farmácias e drogarias na Capital, o presidente afirma que isso não representa, necessariamente, o “aumento potencial de farmácia” na cidade.
“Sempre que abre uma drogaria de uma grande rede em um bairro, ela fecha em pouco espaço de tempo três ou quatro de micro e pequeno porte que antes funcionavam na região”.
“A gente chama essa concorrência de injusta, porque os laboratórios dão muitos descontos e verbas para as grandes redes que compram em grandes quantidades. As grandes vão sufocando e engolindo as micro e as pequenas empresas”.
As micro e pequenas não conseguem, portanto, competir com as grandes redes se os parâmetros forem os preços. Para Parolin, então, a alternativa que resta é investir naquilo que “mais ninguém tem”.
Enquanto o diferencial das grandes redes é a estrutura com estacionamento, a variedade de produtos e os preços, as micro e pequenas se garantem no atendimento. “Elas sobrevivem com o serviço”, disse.
“As grandes estão focadas nos produtos e preços; as micro e pequenas focam naquele atendimento mais caloroso e pessoal do farmacêutico”.
“Embora a grande farmácia ofereça preço, o tratamento é frio. Enquanto isso, na farmácia de bairro, os farmacêuticos fazem até o primeiro atendimento e se eles não podem resolver encaminham para o SUS (Sistema Único de Saúde)”, afirmou.
De tudo e mais um pouco
A legislação permite a venda de artigos de conveniência em farmácias e drogarias e as grandes redes têm explorado com maestria essa possibilidade.
“As farmácias hoje vendem a maioria desses produtos que a conveniência autoriza, por exemplo, sorvete, refrigerante, pode carregar cartão de celular, da SMTU, tudo isso traz uma renda a mais para manter a empresa mais tempo no mercado”, disse.
“Tem farmácia em que o dono diz que ganha mais vendendo Halls do que Captopril, que é um remédio de pressão. O remédio a pessoa passa e compra um por mês, já o Halls compra um todo dia de manhã antes de pegar o ônibus para ir trabalhar”.
“Cabe ao empresário ter essa visão”, disse. Parolin alerta para a necessidade desses produtos de conveniência estarem em gôndolas separadas, para não conduzir o cliente ao erro.
“A gente sempre enfatiza a responsabilidade no uso do medicamento, se até água em excesso mata, com o medicamento não é diferente”, disse.
Segundo o presidente do sindicato, os prognósticos para os próximos anos ainda são de expansão.
“Tem muita cidade grande em Mato Grosso que comporta. Acredito que a ‘São Paulo’ vai expandir mais aqui e a Drogasil continua em plena expansão. Eles captaram dinheiro no mercado e têm capital para expandir”, afirmou.
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