Preso por suspeita de ligação com o Estado Islâmico, Leonid El Kadri, de 32 anos, se converteu ao islamismo enquanto cumpria pena por homicídio e roubo, em um presídio de Tocantins. A informação é de sua irmã, Zeina El Kadre De Melo, que acredita na inocência dele.
Leonid foi detido em Comodoro (644 km a Oeste de Cuiabá) no começo da noite de domingo (24). Ele estava sendo procurado desde que foi deflagrada a Operação Hashtag, na semana passada. Desencadeada pela Polícia Federal, a ação deteve 12 simpatizantes do Estado Islâmico em solo brasileiro.
Para a irmã, a conversão ao islamismo teria sido uma forma que Leonid encontrou para suportar os anos em que passou preso. Ele ficou detido em regime fechado durante pouco mais de seis anos.
“Ele se apegou à religião. Não sei como conheceu o islamismo, acredito que alguém tenha mandado algum material de estudo, porque ele estudou muito sobre o assunto dentro da prisão”, conta.
Zeina acredita que o irmão passou a seguir o islamismo por se encantar com as crenças da religião. Para ela, Leonid nunca planejou nenhum tipo de ataque terrorista.
“Eu sabia que ele era convertido, mas não acredito que fosse praticar algum ato de extremismo. Não consigo acreditar no que estão falando, nunca vi nenhuma manifestação dele que pudesse indicar que fosse praticar algum ataque”, frisa.
Ela relata que a família não foi informada sobre os motivos que teriam levado a Polícia Federal a relacionar o irmão aos supostos planejamentos de ataques. A mulher não acredita que Leonid tenha participado ativamente de grupos de extremismos.
“O meu irmão não usa o Whatsapp nem o Telegram. Ele tem um celular simples, sem internet. Eu também vi a página dele no Facebook e não há nada que motivasse a prisão. Vou esperar para ver o que vão alegar, porque até agora não há motivos para a prisão”.
Conforme Zeina, que mora em Tocantins, a última vez em que ela e o irmão se falaram foi na noite do dia 19 de julho. Ela relata que o homem planejava conseguir a guarda do filho, um garoto de quatro anos, e ir para Tocantins, onde vive parte de sua família.
“Fazia muito tempo que eu o chamava para vir para cá, mas ele não tinha vindo ainda porque estava esperando a Justiça autorizar que ele trouxesse o filho. Na última vez em que nos falamos, ele me disse que estava prestes a conseguir a guarda e viria para cá”, diz.
Ao comentar sobre a postura do irmão no cotidiano, Zeina o classifica como “uma pessoa tranquila e muito querida”. Ela garante que Leonid é um bom pai e muito apegado ao filho.
“Ele e o filho são muito grudados, tanto é que a ex-mulher deu a guarda do menino para ele, porque sabia que ele cuidaria bem do garoto”, conta.
Nos últimos meses, para garantir a guarda do filho, a irmã comenta que Leonid havia abandonado o trabalho como mecânico em uma empresa do interior de Mato Grosso. Para sobreviver, ele estaria fazendo trabalhos autônomos como pedreiro, carpinteiro e mecânico.
Reprodução
Polícia Federal realizou prisão de 12 suspeitos de planejarem ataques nas Olimpíadas do Rio de Janeiro
“Ele estava desempregado, porque teve que largar o emprego, que era em um alojamento, para cuidar do filho. Para dar uma boa condição de vida para o garoto, ele estava fazendo bicos e trabalhando demais”.
Operação Hashtag
A primeira informação que Zeina afirma ter tido sobre a Operação Hashtag foi na última quinta-feira (21). Na data, ela detalha que recebeu uma mensagem da ex-mulher e mãe do filho do irmão.
A ex-cunhada teria avisado que a Polícia Federal estava à procura de Leonid. Ela teria passado o número do delegado que estava responsável pela busca, na região de Vila Bela da Santíssima Trindade, e pedido para Zeina entrar em contato com ele.
“Eu liguei para o delegado para saber o que estava acontecendo, porque até então ninguém sabia de nada. Ele disse que falaria somente com o meu irmão. Eu insisti e ele me disse que era algo relacionado ao Valdir e, por eles serem muito amigos, o Leonid também seria escutado pela polícia”, revela.
O “Valdir” ao qual o delegado se referia é Valdir Pereira da Rocha, de 37 anos, conhecido como Mahmoud. Ele foi preso na tarde da última sexta-feira (22), também durante a Operação Hashtag. Os dois tiveram mandados de prisão temporária, pelo período de 30 dias, expedidos pela Justiça.
Valdir e Leonid são amigos desde a adolescência. Eles teriam se conhecido durante eventos de Moto Show, em Tocantins. Juntos, os dois teriam praticado um homicídio e um roubo. Eles foram condenados a 18 anos e 8 meses de prisão.
Depois de receber a informação de que a PF estava em busca do irmão, Zeina revela que ficou preocupada. Ela acredita que o Leonid não sabia da operação antes de ser preso.
“Creio que ele não sabia, porque ele estava na rodoviária comprando passagens. A pessoa que está foragida e escondida não vai para a rodoviária comprar passagem”, diz.
Leonid teria ido à casa da ex-mulher no dia 20 de julho e deixado o filho com ela. No mesmo dia, teria seguido para Comodoro. Zeina argumenta que o irmão não estava em casa quando a PF foi ao local e, por isso, ele não foi encontrado.
“Na quinta-feira (21), quando foi deflagrada a Operação, ele já tinha saído de casa, pois estava em viagem para buscar documentos que iriam garantir a sua liberdade condicional. A Polícia até fez buscas na casa dele, mas não localizaram nada”.
Prisão
Leonid foi preso pela Polícia Militar em uma rodoviária de Comodoro, enquanto tentava comprar uma passagem para Pontes e Lacerda.
Depois que a PM o prendeu, ele foi encaminhado à Polícia Federal.
Os parentes do suspeito teriam descoberto a prisão por meio da imprensa. Eles não acreditam na possibilidade de que o irmão estivesse tentando fugir.
“Não acredito que ele estava iniciando uma fuga quando foi preso. Ele foi para a rodoviária comprar passagens, quem quer fugir não faz isso. Uma pessoa foragida se esconde, não fica em lugares públicos. Quando ele foi preso, não encontraram nem arma nem nada”, explica.
As alegações de que as prisões teriam sido motivadas para evitar ataques terroristas, durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro, não convencem a irmã.
“Acusaram ele de ter ajudado a preparar o ato de terrorismo, mas eu não acredito nisso de maneira alguma. Pelo que conheço do meu irmão, ele não se envolveria com essas coisas”, afirma.
A irmã afirma que a família não recebeu nenhum comunicado sobre o paradeiro de Leonid após ele ter sido levado pela PF. Segundo Zeina, a família está preocupada com a falta de notícias.
Montagem/MidiaNews
Leonid foi preso pela Polícia Militar no último domingo (24), em Comodoro
“A gente fica apreensiva para saber onde ele está, porque somos familiares e temos esse direito. Estou com medo do que pode acontecer com o meu irmão, porque ele está incomunicável. Não recebemos notícia oficial nenhuma. Estamos com receio”, lamenta.
O suspeito foi encaminhado para um presídio de segurança máxima em Campo Grande (MS). A mãe dele, que é advogada, teria ido à capital sul-mato-grossense para obter informações sobre o filho.
“A minha mãe está tentando saber sobre o meu irmão, mas até agora ela não obteve nenhuma notícia. Estamos mandando mensagens e ligando para a Polícia Federal, mas não conseguimos respostas”, conta.
Amizade com Valdir
Zeina acredita que o irmão possa ter sido envolvido na Operação Hashtag por ser amigo de Valdir. Ela conta que a relação entre os dois não trouxe bons resultados.
“Eu conheço muito pouco o Valdir, tive contato com ele somente na adolescência, mas logo eles foram presos. Essa amizade não fez bem para ele [Leonid], porque acabou que eles se envolveram em um crime”.
Em relação ao crime pelo qual o irmão foi condenado na juventude, Leonid afirma aos familiares que não teve envolvimento na morte.
“Meu irmão garante que não cometeu o homicídio. Ele assume que praticou o roubo, mas o homicídio ele jura que não participou”, comenta a irmã dele.
Assim como o amigo, Valdir também se converteu ao islamismo durante o período em que esteve preso em regime fechado.
A prisão da dupla de amigos, pelo homicídio e pelo roubo, ocorreu em 2002. No ano de 2008, Leonid obteve direito ao regime semiaberto, cumprido em Vila Bela da Santíssima Trindade.
“Ele conseguiu o semiaberto quando completou seis anos e alguns meses de prisão. Então, ele decidiu cumprir a pena em Vila Bela, porque meu avô estava doente e ele cuidava dele nos momentos em que ficava livre da prisão”, relata.
Cerca de seis meses depois, ele teria conseguido cumprir a pena em regime aberto. Pouco antes de ser preso na Operação Hashtag, segundo a irmã, Leonid estava em Comodoro para buscar as documentações da liberdade condicional, que teria sido concedida pela Justiça.
Por fim, Zeina pede que o irmão não seja tratado como terrorista, pois acredita na inocência dele.
“Para a gente é muito triste ver tudo isso o que está acontecendo. É ruim ver o nome dele estampado em todos os jornais e a gente não poder fazer nada”, conclui.
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