Daniel Fernandes mostra diamantes

Entre barro e cascalho, sol escaldante e mãos calejadas, em meio ao garimpo, um sonho segue inabalável: o de encontrar “a” pedra “encantada” que trará riquezas e transformará a vida do “escolhido”.
O recente achado de um diamante gigante de 646 quilates em Coromandel (MG), considerado o segundo maior já encontrado no Brasil, reacendeu a chama do sonho de riqueza e atiçou a cobiça nos garimpeiros, inclusive em Mato Grosso.
O geólogo e gemólogo Daniel Fernandes, de 35 anos, formado pela UFMT, afirma que Mato Grosso tem o maior potencial de produção de diamantes do país e, embora o Estado ainda não tenha registrado diamantes gigantes, o valor científico das pedras mato-grossenses é reconhecido no Mundo.
“Os piores diamantes para a joalheria são os melhores para as universidades. Eles trazem registros do manto da Terra que ajudam a entender como o planeta funciona. O Mundo inteiro vem buscar diamante de Juína para estudar. É realmente fascinante”, explica.
“Aqui temos o maior registro de corpos kimberlíticos do Brasil. São centenas de corpos encontrados. Diamante, ouro, quartzos, fora argila, areia e cascalho usados na construção civil, granitos, rochas ornamentais, mármore e calcário... Temos muito bem mineral, é um Estado muito rico. Mas diamante... 87% da produção brasileira é aqui. O diamante aqui é festa”, afirma.
Municípios como Juína, Chapada dos Guimarães, Paranatinga, Poxoréu e a região de Araguaiana, no Araguaia, são conhecidos pela diversidade de gemas encontradas.
“Sai muito diamante colorido, de diferentes qualidades. Em Juína, por exemplo, temos alguns dos vulcões mais profundos do planeta, que trazem pedras com inclusões valiosas para estudos científicos a nível mundial”, diz.
Todo dia um milionário
Fernandes conta que, após divulgar a imagem da gema de Coromandel no Instagram, sua agenda lotou. Se antes recebia, em média, três mensagens por dia, hoje são mais de cem pedidos diários, de todo o país, para analisar algum mineral. “Mudou minha vida”, comemora.
Segundo o especialista, é comum confundir o diamante com outros minerais, e é preciso levar a pedra a um laboratório gemológico. “Cada dia é um ‘milionário’ diferente. Muita gente encontra esses quartzos, cristais, e acha que são diamantes”, diz.
“Na prática, confunde muito, mas todo mineral tem características físicas que são só dele. O diamante tem a maior dureza do Mundo. Dureza não quer dizer resistência à quebra, mas sim tenacidade: ele risca todas as outras rochas e minerais. A maioria dos diamantes tem fluorescência, densidade específica, sistema cúbico, uma forma meio piramidal, brilho adamantino”, explica.
Quanto vale?
O diamante de Coromandel foi avaliado, segundo a Prefeitura da cidade, em R$ 16 milhões. Fernandes explica que os critérios para precificar um diamante são o peso, a transparência e a cor, mas que no Brasil é quase impossível estimar o valor porque não há padronização de avaliação.
“Na minha experiência, depois que essa gema for lapidada, se [o diamante de Coromandel] for um diamante amarelo, tipo da Tiffany, pode chegar a centenas de milhões de dólares”, calcula.
Um diamante pode ainda ter uma “capa de sujeira” e ser, depois de lapidado, de outra cor diferente da inicial, já que ele é transportado por rios, misturado com cascalho, terra ou outras contaminações externas.
Os diamantes se formam em grandes profundidades dentro da Terra. Durante a formação, podem absorver elementos químicos das rochas ao redor, e esses elementos são responsáveis por conferir diferentes cores aos diamantes.
“Cada cor é um elemento químico diferente que entra na estrutura [do diamante] e o modifica. Hoje tem diamantes de todas as cores do arco-íris. Quanto mais translúcido, mais valioso. Entre as cores, o vermelho, rosa e o azul são os mais caros”, enumera.
Fernandes explica que os diamantes pertencem à União e só podem ser minerados por quem tem autorização e licença ambiental. No caso de Coromandel, a mina era legalizada. Além disso, para vender o diamante, a empresa precisa registrá-lo no Cadastro Nacional de Comércio de Diamantes (CNCD).
Estrutura e desafios
Para Fernandes, o Estado precisa avançar em estrutura, e uma opção seria a criação de políticas de incentivo, como a compra estatal de toda a produção para lapidação e uso estratégico das pedras, até como garantia financeira.
Ele ainda adverte que o processo de extração exige responsabilidade ambiental. “Cada árvore, cada planta que você mexer tem que estar no projeto de recuperação. Muitos garimpos fazem tanques de piscicultura e reflorestam ao redor”, conta.
Ciência e mística
Apesar da ciência que envolve o processo, Fernandes admite que o imaginário popular segue forte. “Tem gente que acredita que a pedra escolhe a pessoa. Eu acredito em sorte, mas na prática o que conta é o estudo geológico. Mineração de diamante é a mais arriscada da indústria. Quem vai só na aventura, quebra”, alerta.
Mesmo com os riscos, ele é categórico: “Mato Grosso é um lugar bom pra minerar. Está só no começo, estamos só arranhando a casquinha”, conclui.
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
0 Comentário(s).
|