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10.09.2023 | 08h06 Tamanho do texto A- A+

Médico cobra campanhas públicas de alerta sobre riscos do calor

Especialista destaca que os idosos são uma população mais sensível às temperaturas elevadas

Giordano Tomaselli/MidiaNews

O geriatra Luiz Gustavo Castro Marques: perda de líquido é maior neste período

O geriatra Luiz Gustavo Castro Marques: perda de líquido é maior neste período

GIORDANO TOMASELLI
DA REDAÇÃO

Nas últimas semanas, Cuiabá tem registrado as maiores temperaturas do ano e vem batendo recordes de calor com os termômetros ultrapassando os 40ºC, ao mesmo tempo em que a umidade do ar atinge índices extremamente baixos, semelhantes à de deserto.

 

Essa combinação pode ser perigosa para a saúde humana, principalmente para as faixas mais vulneráveis da população, como os idosos.

 

Para o geriatra Luiz Gustavo Castro Marques, o calor extremo é um risco para a saúde, especialmente dos idosos, e as autoridades de Cuiabá erram ao não fazer campanhas de conscientização dos riscos. 

 

"Cuiabá, a capital mais quente do país, não possui nenhum programa municipal, e nem em Mato Grosso a nível de estado há um programa definido para orientar a população", lamenta. 

 

"O melhor tratamento das coisas é o conhecimento, a informação, e não temos nenhuma estratégia de divulgar informação pelo sistema público de saúde. Parece que não acontece aqui isso, cada ano a temperatura está mais extrema e mesmo assim as autoridades parecem que não se deram conta e não criaram nenhum programa de orientação".

 

Na entrevista ele explicou sobre os riscos, desfez mitos sobre o calorão e deu dicas de como amenizar os danos. 

 

MidiaNews - Quais os efeitos diretos do calor extremo na população idosa?

 

Luiz Gustavo Castro Marques - Os idosos assim como as crianças são mais frágeis, então são mais suscetíveis a esses extremos de temperatura. Temos o agravante de que além das altas temperaturas, estamos com a umidade do ar muito baixa, o que causa a desidratação. A pessoa tem maior perda de água, tanto pelos poros com a transpiração, como pela respiração. 

 

É fundamental que os idosos ingiram mais líquidos do que ingerem normalmente, porque as perdas [nessa situação] são maiores. A constituição do idoso tem menos água e mais gordura, a variação dessa água por menor que seja tem grande consequência. Conforme vamos envelhecendo, vai diminuindo a concentração de água na nossa composição.

 

A desidratação vai levar a hipotensão (pressão baixa). O idoso geralmente é hipertenso, controlado com a medicação, e de repente nesta época o remédio fica como se fosse forte. A pessoa necessita contatar o médico para talvez diminuir a dose nesse calor intenso. É muito frequente também haver inchaço nas pernas, porque o calor causa vasodilatação das veias dos membros inferiores e elas retém mais líquido.

 

E pela umidade do ar baixa, ficamos mais no ar condicionado, o que pode causar o ressecamento da mucosa, facilitando infecções, principalmente as virais como resfriados ou até mesmo a influenza, que é a gripe. Por isso se reforça a necessidade da vacina da gripe. Infelizmente temos algumas resistências à vacina após a Covid, mas ela é muito importante.

 

Pelos ressecamentos, o corpo fica mais vulnerável para as alergias como a rinite, como a sinusite.

 

A maior preocupação é a exposição direta ao sol das 9h às 16h. Se for ter exposição usar protetor, camisa de manga comprida e chapéu para não se queimar.

 

MidiaNews - O calor eleva os riscos de infartos e AVCs?

 

Luiz Gustavo Castro Marques - Isso é mito. É ao contrario. O AVC e o infarto são relacionados com pressão alta. O frio é que aumenta a pressão, pois a artéria encurta, tem vasoconstrição, aumentando a pressão. No calor elas dilatam, baixando a pressão.

 

No calor a pessoa pode desmaiar, passar mal. Quando isso acontecer deitar e levantar as pernas da pessoa, a coisa mais rápida e eficaz, apara o sangue ir para os órgãos essenciais como coração e cérebro. E a hidratação, claro.

 

No calor a pessoa pode desmaiar, passar mal. Quando isso acontecer deitar e levantar as pernas da pessoa, a coisa mais rápida e eficaz...

No calor o mais comum de acontecer é o desmaio. Com o desmaio, há o risco da queda e uma queda para o idoso pode gerar fraturas complicadas.

 

MidiaNews - Podemos dizer que o calor infernal de Cuiabá pode ser fatal em alguns casos?

 

Luiz Gustavo Castro Marques - Ele aumenta o risco de ter complicações, desidratação, infecções respiratórias, que pode começar com infecção viral e progredir para uma infecção bacteriana e se tornar uma pneumonia, o que aí sim pode ser fatal. Portanto, a evolução dos eventos pode sim levar a algo fatal.

 

MidiaNews - Idosos normalmente consomem menos água. Isso é muito mais grave em um ambiente como o de Cuiabá, não é mesmo?

 

Luiz Gustavo Castro Marques - Com certeza. A gente orienta a pessoa quantificar o quanto está ingerindo de água. A orientação nesta época é aumentar 1 litro acima do habitual. Quem tem condição de ter umidificador, ajuda bastante, quem não tem deve ter sempre uma bacia ou toalha molhada por perto.

 

Portanto, a evolução dos eventos pode sim levar a algo fatal.

 MidiaNews - Nesta onda de calor, as pessoas sofrem muitas mudanças bruscas na temperatura por causa do ar-condicionado. Isso também é perigoso, não?

 

Luiz Gustavo Castro Marques - Essa variação brusca de temperatura pode ocasionar até algumas paralisias faciais. São casos raros, mas que podem acontecer. Porém é impossível evitarmos esse choque, já que estamos dentro de ambientes com ar para suportar o calor extremo e em alguns momentos vamos ter que sair e estar em ambientes com o ar quente.

 

MidiaNews - Apesar do calorão, as pessoas precisam fazer atividades físicas. O que o senhor recomenda para amenizar os riscos?

 

Luiz Gustavo Castro Marques - Recomendo diminuir a intensidade da atividade e ingerir muito líquido, além de usar roupas leves e fazer somente no inicio da manhã ou à noite. Talvez até diminuir o tempo do exercício por esta época. Se fizer habitualmente 30 minutos de caminhada, faça 20, por exemplo.

 

Mas não parar de fazer a atividade física. E de jeito nenhum fazer em horários de sol forte [entre 9h da manhã e 16h da tarde].

 

MidiaNews - Que tipo de alimentação o senhor recomenda para não potencializar os problemas do calor?

 

Luiz Gustavo Castro Marques - O próprio organismo pede uma alimentação mais leve e de fácil digestão nesse calor, com mais proteína e carboidrato e menos gordura, pois esta última dificulta a digestão.

 

Muita verdura, legumes e frutas, de preferência as que contenham grande quantidade de água na sua composição como melancia, melão, etc.

 

MidiaNews - Situações de calor extremo estão cada vez mais comuns. O que governos e autoridades de saúde devem fazer?

 

Luiz Gustavo Castro Marques - Não há campanhas de orientação sobre calor extremo, não me lembro de nenhuma. E Cuiabá, a capital mais quente do país, não possui nenhum programa municipal, e nem em Mato Grosso a nível de estado há um programa definido para orientar a população.

 

O melhor tratamento das coisas é o conhecimento, a informação, e não temos nenhuma estratégia de divulgar informação pelo sistema público de saúde. Parece que não acontece aqui isso, cada ano a temperatura está mais extrema e mesmo assim as autoridades parecem que não se deram conta e não criaram nenhum programa de orientação.

 

Não há campanhas de orientação sobre calor extremo. E Cuiabá, a capital mais quente do país, não possui nenhum programa [...] para orientar a população.

MidiaNews - O que o idoso ou familiar deve fazer se o idoso se sentir mal pelo calor?

 

Luiz Gustavo Castro Marques - Se sentir algum mal estar, deite com as pernas levantadas para cima. Afira a pressão e a temperatura e se precisar, vá até uma unidade básica de saúde mais próxima, para saber se há a necessidade de tomar um soro para hidratação e receber orientação.

 

Mas [no dia a dia] não deixar de ingerir líquidos, principalmente a água. O ideal nesta época é tentar ingerir cerca de 3 litros. Se achar melhor, quantifique com uma garrafa se está conseguindo atingir o valor recomendado.

 

A urina é um sinal de concentração renal. Se ela está muito amarela, ou seja, muito concentrada, é um sinal de que você está bebendo pouca água. Isso gera uma sobrecarga enorme nos rins, que tentam perder o mínimo possível de água, fazendo assim que a urina fique concentrada. Quanto mais amarelo escuro estiver, pior é o seu grau de desidratação.

 

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Elen   10.09.23 10h52
Dr Luiz Gustavo excelente Médico referência em Cuiabá
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