Cuiabá, Sexta-Feira, 1 de Agosto de 2025
CORPO DE BOMBEIROS
25.12.2016 | 09h00 Tamanho do texto A- A+

“Minha família está destruída; nem o tempo é capaz de apagar”

Rodrigo Claro morreu depois de suposta sessão de afogamentos em treinamento dos bombeiros

Marcus Mesquita/Montagem

Jane Patrícia, afirma que desde que o filho morreu tudo em sua vida

Jane Patrícia, afirma que desde que o filho morreu tudo em sua vida "perdeu o brilho"

JAD LARANJEIRA
DA REDAÇÃO

“Hoje, minha família está destruída e eu acredito que nem o tempo será capaz de apagar tudo que nós estamos vivendo”, este é o sentimento de Jane Patrícia Claro, de 38 anos, mãe do aluno do Corpo de Bombeiros, Rodrigo Claro, morto aos 21 anos, no dia 15 de novembro, após supostamente passar por uma sessão de afogamento na Lagoa Trevisan, durante treinamento.

 

Colegas de curso de Rodrigo informaram que ele vinha sendo submetido a diversos "caldos" (afogamento forçado) e que chegou a reclamar de dores de cabeça e exaustão. Ainda assim, teria sido obrigado a continuar na aula pela tenente Izadora Ledur, responsável pelos treinamentos dos novos soldados da corporação.

 

O jovem chegou a ficar internado na UTI do Hospital Jardim Cuiabá, mas morreu após cinco dias.

 

Ao MidiaNews, a mãe conta que não irá descansar enquanto não conseguir justiça pela morte do filho, que ela acredita que não tenha sido acidental.

 

“Nós não vamos permitir que a morte do Rodrigo seja apenas mais uma na estatística. Vamos lutar para que outras famílias não passem pelo que estamos passando, nem que outros jovens percam suas vidas em busca de um sonho”, disse.

 

Jane conta que colegas do filho a procuraram para relatar os abusos que ele teria sofrido no dia do treinamento. Segundo ela, o filho sempre praticou esportes, fazia exames de rotina e nunca teve problemas de saúde.

 

Marcus Mesquita/MidiaNews

Jane Patricia

"Ele passou mal durante o treinamento. Ele pedia 'pelo amor de Deus' para ela parar com aquelas sessões de afogamentos, mas ela não parou"

“O Rodrigo sempre foi um menino que cuidou da saúde. Ele sempre fez academia, sempre praticou esporte, sempre fez exames de rotina e nunca foi constatado nada. O único problema que ele estava apresentando era no joelho, mas devido aos exercícios do curso mesmo, até aí, tudo bem, porque ele tem que estar preparado”, disse.

 

“O que a gente não pode aceitar é esses exageros, isso que é complicado. Ele reclamava muito disso. Mas nunca tinha se excedido tanto quanto naquele dia. Ele já estava com medo da prova na água, porque ficou sabendo de casos anteriores”, contou.

 

Sem respostas

 

Jane afirma que não tem tido notícias a respeito do andamento das investigações do Inquérito Policial Militar (IPM), nem do inquérito da Polícia Civil.

 

“A informação que temos é que o secretario [Rogers Jarbas] veio a público falar. Primeiro, falou que foi um aneurisma, como a causa da morte. Em seguida, deu uma segunda versão, de que seria um AVC. Então, as informações estão desencontradas. O que temos é isso que ele está falando na imprensa. Mas de concreto não temos nada até o momento”, disse.

 

De acordo com ela, nem o laudo da perícia pôde ser dado, pois o IML está sem a ferramenta de assinatura eletrônica.

 

“Eu estive no IML com meu esposo e o técnico nos disse que o laudo está pronto, só que não podem falar porque não foi assinado eletronicamente pelo médico responsável. Eles disseram que a empresa que presta serviço de assinatura eletrônica para o Estado teve o contrato vencido em agosto e, desde então, não tem como assinar. Ou seja, tudo depende disso para dar andamento no inquérito policial. Todos precisam desse laudo, então vai ficar parado até o Estado pagar”, explicou.

 

“Tenente culpada”

 

Marcus Mesquita/Montagem

rodrigo claro

"Hoje, eu não tenho mais meu filho e nossa vida virou de ‘cabeça pra baixo’. Estamos tentando continuar essa caminhada, mas nada tem o mesmo brilho de antes"

A mãe de Rodrigo afirma não conseguir entender como cursos, a esta maneira, continua sendo praticado no Corpo de Bombeiros.

 

“Eu, como mãe, espero que fatos como esse não venha mais acontecer. Eu não consigo entender, antes de 2014 não tinha relatos de tamanha violência. Depois que essa tenente [Ledur] assumiu a frente do 15º e do 16º cursos de formação, começaram a acontecer esses excessos”, afirmou.

 

Jane acredita que a culpa pela morte do filho é da tenente Izadora Ledur, devido aos relatos de colegas e o histórico do mesmo tipo de excessos cometidos anteriormente.

 

“Eu acredito que tenha sido culpa dela, porque ele passou mal durante o treinamento. Dentro da água, ele reclamava que estava com dor de cabeça. Ele pedia 'pelo amor de Deus' para ela parar com aquelas sessões de afogamentos, mas ela não parou. A tenente continuou afogando ele. Quando ele concluiu a travessia, falou que não iria mais continuar, que iria desistir, mas não foi permitido que ele parasse. Fizeram ele voltar novamente para água”, contou.

 

“Está na hora de tomar uma atitude. O que ela ta sentindo? Ela está continuando a vida e a dor quem está sentindo sou eu, mãe, meu esposo e meus filhos, que perderam o irmão. Acredito que para ela deve estar tudo normal. Se é uma pessoa que tem consciência, acredito que ela não conseguiria deitar a cabeça no travesseiro e ter uma noite de sono tranquila. Mas o que esperar de uma pessoa que tem a capacidade de fazer o que ela fez? Que sabemos que não é a primeira vez”, desabafou.

 

“Minha vida virou de cabeça para baixo”

Hoje a família está destruída e eu acredito que nem o tempo será capaz de apagar tudo que nós estamos vivendo

 

Jane lembra que Rodrigo tinha o sonho de seguir a carreira de bombeiros e salvar vidas. Segundo ela, sua vida “virou de cabeça para baixo”, desde que o filho morreu.

 

“Meu filho tinha planos de seguir a carreira, prestar serviço à sociedade e salvar vidas. Hoje, eu não tenho mais meu filho e nossa vida virou de ‘cabeça para baixo’. Estamos tentando continuar essa caminhada, mas nada tem o mesmo brilho de antes, nem o mesmo sentido, como tinha com ele junto conosco", afirmou.

 

“Ele era um menino tímido e quieto, mas quando estava em casa, fazia toda a diferença. Ele era meu companheiro para tudo, em todos os momentos estávamos juntos. Hoje, a família está destruída e eu acredito que nem o tempo será capaz de apagar tudo o que nós estamos vivendo”, disse em lágrimas.

 

Ela lembra que o marido e o filho iriam se formar juntos no curso da corporação. Que o filho queria seguir o exemplo do pai e se tornar bombeiro.

 

Devastado com a fatalidade, o marido de Jane pensou em largar a carreira, mas decidiu continuar por acreditar que esta seria a vontade do filho.

 

“Meu marido terminou o curso, mas não participou da formatura, nem da festa, não tínhamos o que comemorar. Ele até pensou em ‘pedir baixa’ dos bombeiros, mas depois, de cabeça mais fria, sentamos e conversamos, pedimos que ele continuasse, porque foi através dele [o esposo] que nasceu o sonho do Rodrigo em ser bombeiro”, disse.

 

Apesar da fatalidade, Jane acredita que na corporação existam bons exemplos a serem seguidos.

 

“A gente sabe que na instituição Corpo de Bombeiro há muitos bons exemplos e muitos homens e mulheres que estão ali por amor pelo que fazem. Mas, infelizmente, tem ‘meia dúzia’ que estão colocando o nome da instituição de uma forma muito negativa”, concluiu.

 

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1 Comentário(s).

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CRISTIANE  26.12.16 08h51
Sem palavras.... apenas que a justiça seja feita!
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