Cuiabá, Segunda-Feira, 10 de Novembro de 2025
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10.11.2025 | 07h00 Tamanho do texto A- A+

Moradores enfrentam desvalorização e lutam contra boato de queda

Denúncia sobre suposto risco de desabamento afetou residenciais no Centro de Cuiabá

Victor Ostetti/MidiaNews

Fachada do residencial Nicolina de Oliveira; condomínio precisou provar que hão havia risco de queda

Fachada do residencial Nicolina de Oliveira; condomínio precisou provar que hão havia risco de queda

LIZ BRUNETTO
DA REDAÇÃO

Seis anos se passaram, e os moradores dos residenciais Nicolina e João Alfredo de Oliveira, no Centro de Cuiabá, ainda sofrem com a mancha deixada em sua imagem após uma denúncia sobre um suposto “risco de desabamento”, feita por um morador à Defesa Civil do município, no final de 2019.

 

É difícil falar de uma estatística exata, mas creio que deve ser uma desvalorização de cerca de 60%

Localizados entre a Rua Barão de Melgaço e a Comandante Costa, em uma área privilegiada a três quadras da Prefeitura e próximos a igrejas, lojas, bares e restaurantes, os apartamentos dos edifícios, que hoje poderiam valer entre R$ 400 mil e R$ 600 mil, dificilmente são vendidos por mais de R$ 300 mil.

 

Em entrevista ao MidiaNews, Jesus Picorelli, de 43 anos, morador do edifício desde 2009, contou que tenta vender seu apartamento há algum tempo, sem sucesso. Segundo ele, a desvalorização chega a cerca de 60%.

 

“É difícil falar de uma estatística exata, mas creio que deve ser uma desvalorização de cerca de 60%. Na época, apartamentos foram vendidos a preços absurdamente baixos”, afirmou.

 

“Um imóvel padrão, sem reforma, acredito que esteja em torno de R$ 350 mil. Um apartamento reformado poderia variar entre R$ 500 mil e R$ 600 mil. Atualmente, há muitos sendo vendidos por R$ 250 mil ou R$ 260 mil. Dificilmente alguém consegue vender por R$ 300 mil”, completou.

 

O atual síndico, Clovis Renê Grützmann, de 61 anos, que mora no condomínio desde 2008, contou que a hipótese de desabamento foi descartada por especialistas, mas que a notícia e a interdição do estacionamento geraram inúmeros transtornos e um prejuízo estimado em R$ 2 milhões aos condôminos.

Victor Ostetti/MidiaNews

Jesus Picorelli

Jesus Picorelli, de 43 anos, tentou vender apartamento e não conseguiu

 

“Tivemos muito prejuízo. Não conseguimos usar nossa garagem por muito tempo. Aqui, muitos moradores são idosos, e alguns nem conseguiam subir as escadas. Foi um transtorno enorme. Gastamos mais de R$ 2 milhões em taxas extras para buscar todos os recursos, analisar e provar que o prédio não ia cair”, disse.

 

Construído na década de 1980, o complexo conta com duas torres e 96 apartamentos, e já abrigou, no térreo, o primeiro shopping center de Cuiabá.

 

Cai ou não cai?

 

Procurados pela reportagem, a Defesa Civil Municipal informou que no Laudo de Vistoria nº 056//DIMPDEC/2019, feito à época, foram “apontadas patologias estruturais no subsolo dos prédios, demandando providências urgentes”, diz trecho da nota.

 

Segundo a Defesa Civil, com base no documento, o Ministério Público Estadual (MPE) notificou a síndica dos condomínios para a “adoção imediata de medidas”, entre elas a contratação de equipe técnica especializada, a execução de obras de manutenção e a apresentação de documentação junto ao Corpo de Bombeiros.

 

Após notificação do MPE, a Defesa Civil emitiu um “Termo de Interdição” em 11 de março de 2020 e, um tempo depois, um “Termo de Desinterdição” (Parecer Técnico 002/DIMPDEC/2020).

 

Segundo nota publicada pelo condomínio, à época, a Defesa Civil realizou vistoria nas estruturas do edifício no dia 18 de novembro de 2019, após denúncia de um morador.

 

Mas o condomínio só teria sido formalmente cientificado no dia 07 de fevereiro de 2020 e a síndica notificada pelo Ministério Público Estadual em 28 de fevereiro de 2020, às 14h25, após veiculação de notícias na mídia sobre o caso.

 

Antes da vistoria, o condomínio já previa a contratação de uma empresa especializada para a realização de obras estruturais, entre elas, a recuperação das colunas e vigas da garagem. Em janeiro, antes mesmo da notificação, segundo a nota, uma empresa especializada de engenharia já estava contratada e deu início às obras de manutenção.

Victor Ostetti/MidiaNews

Clovis Renê Grützmann

Clovis Renê Grützmann, de 61 anos, é o atual síndico do condomínio

 

“Acrescenta-se, conforme consta das informações prestadas pelo profissional contratado, não há, por ora, qualquer risco de desabamento do prédio e que as falhas deverão ser corrigidas sem maiores problemas”, diz trecho da nota publicada à época.

 

Nova vistoria 

 

A Defesa Civil Municipal enviou uma equipe de fiscalização ao prédio para um levantamento atual, realizado em 29 de setembro de 2025.

 

Segundo nota, na vistoria realizada nas garagens do solo e subsolo dos edifícios, a Secretaria Adjunta Especial de Defesa Civil constatou a “efetiva recuperação estrutural dos pilares nº 03 e 04, bem como das vigas e lajes que anteriormente apresentavam armaduras expostas, conforme apontado nos Pareceres nº 001/002 – DIMPDEC/2020 e no Laudo de Vistoria nº 056/DIMPDEC/2019”, diz trecho.

 

“Durante a inspeção, verificou-se que as garagens estão sendo utilizadas normalmente pelos condôminos e que a caixa d’água se encontra em pleno funcionamento, em conformidade com as determinações do parecer de interdição parcial anteriormente emitido”.

 

A Defesa Civil afirmou ainda que há a presença de “patologias construtivas”, como infiltrações, mas que elas não representam risco de desabamento.

 

“Ressalta-se, entretanto, a presença de algumas patologias construtivas, como infiltrações localizadas. Todavia, por não representarem risco estrutural iminente, e considerando que as intervenções realizadas garantem a estabilidade e segurança das estruturas inspecionadas, reconhecendo desta forma, que os elementos estruturais afetados foram devidamente recuperados e atualmente se encontram em condições seguras de uso”, diz outro trecho da nota. 

 

"Não vai cair nunca"

 

Os moradores contaram ter ficado “estarrecidos” com a denúncia feita pelo morador do condomínio.

 

“Foi um susto, até porque não existia o menor rumor sobre isso, na realidade estava dando início, na época, a uma reforma de revitalização do condomínio, que ainda está em andamento”, afirmou Jesus.

 

“Acredito que a pessoa, por desinformação ou por má intenção, viu os pilares que estavam sendo inspecionados pela empresa que faria a obra e falou que corria risco. Porque eles [a empresa] olharam a ferragem, então tiveram que abrir um pedaço”, completou.

Victor Ostetti/MidiaNews

Edifício Nicolina de Oliveira

Construído na década de 1980, o complexo conta com duas torres e 96 apartamentos

 

O síndico ressaltou a solidez e segurança do condomínio. “O prédio é de 1980, antigo, as colunas vão até o fundo, são 70, 80 metros. Antigamente, a engenharia não tinha tanto recurso de matemática, o engenheiro fazia os cálculos à mão. E pra não errar falava: ‘Vamos botar mais 30, 40% de cima’. Se olhar tem algumas rachaduras e infiltrações, mas não no cimento. Esse prédio aqui não vai cair nunca, segundo os especialistas”, disse.

 

Conforme Clovis, a Defesa Civil e o Ministério Público “fizeram o que tinham que fazer” e fiscalizaram a denúncia. O condomínio, por sua vez, contratou especialistas de São Paulo para analisar a estrutura.

 

“Estava tudo certo, só terminamos de arrumar, pintamos e ficou tudo normal. Sofremos bastante, mas logo todo mundo viu que não ia cair. Não tinha nada, nada. Tudo muito direito”, disse.

 

Apesar de também não ver falhas na atuação dos órgãos públicos, Jesus acredita que eles poderiam ter agido mais rápido para evitar a má fama que se criou em torno do condomínio e que até hoje os afeta.

 

“Acho que eles poderiam ter sido mais rápidos, tanto para comprovar se havia alguma coisa, como para deixar claro que não havia risco algum. E, principalmente, popularizar isso, porque deixa a imagem do condomínio manchada por um bom tempo, causando transtorno para quem, por exemplo, quer alugar uma sala comercial ou vender o próprio apartamento”.

 

O morador não descartou entrar com uma ação, mas não contra os órgãos públicos e, sim, contra quem realizou a denúncia. “Se agiram com má intenção, eles devem pagar pelo que fizeram, porque prejudicaram todo mundo”, disse.

 

Os moradores afirmam acreditar na “volta por cima” do condomínio após toda a polêmica, impulsionada pelos reparos e modernizações realizadas nos últimos anos. 

 

Veja: 

 

 

 

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Victor Ostetti/MidiaNews

Jesus Picorelli

Victor Ostetti/MidiaNews

Estrutura do Edifício Nicolina de Oliveira

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Estrutura do Edifício Nicolina de Oliveira

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Estrutura do Edifício Nicolina de Oliveira

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Edifício Nicolina de Oliveira

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Edifício Nicolina de Oliveira

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