LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
O Ministério Público Estadual (MPE) averigua a existência de irregularidades no curso de Medicina oferecido pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), no campus de Cáceres, após denúncia feita por estudantes da instituição, que pedem melhorias estruturais e mudança da metodologia de ensino.
O promotor de Justiça do município, Kledson Dionysio de Oliveira, instaurou, no último dia 5 de maio, um procedimento preliminar, conhecido como Notícia de Fato, para verificar se há necessidade de instauração de Procedimento Preparatório e/ou Inquérito Civil por parte do órgão.
Consta da denúncia, feita pelos alunos do 2º semestre, que o curso de Medicina da Unemat está com déficit de professores, não tem salas de aulas e laboratórios específicos para a graduação e não cumpre o Projeto Político Pedagógico.

"Quem conceber o contrário das metodologias de ensino e aprendizagem adotadas pelo curso de Medicina da UNEMAT está inserido em um local errado e deve, sim, procurar uma instituição de práticas conservadoras, para não dizer, retrógradas"
O promotor solicitou da Unemat informações a respeito das condições atuais do curso, principalmente no que se refere ao quadro atual de professores (concursados e contratos por prazo determinado) e se há estrutura adequada para o fornecimento do curso.
Entre os questionamentos feitos estão a existência ou não de laboratórios para o exercício de atividades previstas na grade curricular; se o projeto pedagógico está sendo cumprido; se os professores concluíram o curso de preparação em metodologias ativas; e o que está sendo feito para melhorar a atual situação do curso.
O prazo concedido à instituição para apresentação de respostas é de 10 dias. Até ontem (14), nada havia mudado no processo.
PolêmicaA reclamação dos estudantes chegou até a imprensa nacional, sendo veiculada, no último dia 7 de junho, no site do jornal “
O Globo”, do Rio de Janeiro, e repercutiu nas redes sociais.
Tudo teria começado em maio, quando um grupo de pouco mais de 20 estudantes elaborou e assinou uma carta de reivindicações à coordenação do curso.
No documento, os alunos solicitavam mudanças na metodologia das aulas, para que as matérias fossem ministradas em aulas expositivas e não práticas, como é feito na Unemat desde o início do curso – com o professor agindo apenas como um “mediador”.
Além disso, os alunos também destacaram a falta de professores e de laboratórios.
Como resposta, os estudantes receberam uma carta de sete páginas, na qual a direção da instituição orientava os “descontentes” com a metodologia de ensino a procurarem outras universidades.
“(...) Quem conceber o contrário de tudo o que foi aqui explanado acerca das metodologias ativas de ensino e aprendizagem adotadas pelo curso de Medicina da UNEMAT está inserido em um local errado e deve, sim, procurar uma instituição de práticas conservadoras, para não dizer, retrógradas. (...)”, diz trecho da carta publicado pelo “O Globo”.
Corpo docentePor meio de nota de esclarecimento, a direção da Unemat afirmou ao
MidiaNews que é “perfeitamente compreensível” a falta de professores no curso, uma vez que ele foi criado há menos de um ano pela instituição e que a universidade recebeu autorização do Estado, no último dia 22, para realizar concurso público que conta com 15 vagas para o curso.
“No tocante ao preenchimento de vagas docentes, há que se considerar que o curso de medicina teve início no ano passado [...] Nesse sentido, é perfeitamente compreensível que não haja professores efetivos suficientes. [...] Há instituições no Brasil que levam muito mais tempo para efetivação docente”, disse.

"[...] há que se considerar que o curso de medicina teve início no ano passado, [...] Nesse sentido, é perfeitamente compreensível que não haja professores efetivos suficientes"
Método de ensino
Segundo a instituição, a Coordenação do Curso de Medicina explicou que parte das dúvidas dos acadêmicos era proveniente da metodologia adotada pela Unemat, de Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) - que em língua inglesa significa Problem Based Learning (PBL).
A direção defende que, ao se propor a contribuir para a formação de médicos para o Estado – uma vez que o único curso público de Medicina era ofertado pela Universidade Federal Mato Grosso (UFMT) – realizou uma pesquisa outros cursos que são referência no país e, diante dos resultados positivos obtidos, escolheram a metodologia PBL.
“Surge daí a decisão institucional pela escolha do método em questão por apresentar bons resultados no que diz respeito à formação humanizante do profissional e sua interação social tão cara nos dias de hoje”, afirmou.
InvestimentosA instituição ressaltou ainda que investiu, apenas no final de 2012 – quando da implantação do curso – R$ 2 milhões em equipamentos laboratoriais para atender não só ao curso de Medicina, mas a todos os outros que necessitassem.
Este ano, a previsão de investimentos é de R$ 30 milhões na estruturação física, laboratoriais, equipamentos e aulas-campo que possam impactar de forma positiva a melhoria do ensino, pesquisa e extensão da universidade.
“Entre as peças adquiridas estão simuladores de paciente real adulto e recém-nascido. Esses simuladores tem alta fidelidade interativa, contam com respiração espontânea e respostas fisiológicas. Os dois aparelhos vem sendo utilizado com vantagens para substituir cadáveres nos estudos anatômicos”, diz outro trecho da nota.
A Unemat afirmou ainda que irá adquirir microscópios, estereomicroscópios e televisores 42 polegadas.
“Nesta aquisição está a compra de 167 microscópios biológico binocular, 06 microscópio biológico trinocular com câmera de vídeo acoplada, 150 estereomicroscópios binocular e 06 estereomicroscópio trinocular com câmera de vídeo acoplada, além de 06 televisores 42 polegadas. Também já foram adquiridos lâminas de cortes histológicos que vão atender as demandas dos cursos da instituição”, diz a nota.
Clique
AQUI e confira a íntegra do despacho que instaurou a Notícia de Fato no MPE.
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