Anunciada como solução para os problemas da Rodovia MT-251, entre Cuiabá e Chapada dos Guimarães, a construção da MT-030 tem apoio de quase a totalidade da classe política e de boa parte da população das duas cidades. Afinal de contas, a nova estrada reduziria quase que pela metade a distância e colocaria fim ao temor que muitos têm de passar pelo Portão do Inferno.
Mas há um grupo, ainda que minoritário, que não quer nem ouvir falar no projeto de MT-030. São as pessoas que vivem do comércio e do turismo às margens da 251, que perderia grande parte de seu movimento caso haja uma alternativa de ligação mais curta entre as duas cidades.
Na comunidade do Rio dos Peixes, no Km 23 da rodovia, o assunto MT-030 assombra. A localidade se transformou nos últimos anos em um vilarejo com restaurantes, conveniência e até loja de roupas, tudo em razão do grande fluxo de turistas que trafegam diariamente nos dois sentidos.
O MidiaNews esteve na comunidade e ouviu relatos de funcionários e comerciantes, que estão preocupados com a queda brusca no movimento, decorrente das restrições no trânsito no Portão do Inferno, e temem que isso se agrave com a demora para se resolver a situação ou com a viabilização de uma nova rota que ligue as duas cidades.
“Já tem muita gente preocupada, sim. Alguns até já arrendaram o ponto, já tem gente falando que vai voltar para onde veio. Então já está bastante complicado”, diz Diana, filha do proprietário de um comércio e que trabalha no estabelecimento.
Para os comerciantes do Rio dos Peixes, a construção da nova rota para Chapada vai piorar o que já está ruim.
“Se for passar por lá [MT-030], a tendência aqui é só piorar. Quem vai frequentar aqui é só quem tem chácaras nas redondezas, alguns moradores e quem estiver indo pra balneário”, diz Ailton Gomes Barbosa, dono de uma mercearia nas margens da rodovia.
Como citou Ailton, a esperança é que não se perca totalmente o movimento devido ao fato que grande parte das atrações turísticas estarem nas margens da MT-251, como pousadas, chácaras e balneários, além da vista mais bonita da natureza e dos paredões.
Ailton afirma que já ouviu comerciantes planejando fechar seus estabelecimentos e lamenta a queda de movimento no seu próprio, por causa das interdições no Portão do Inferno. “Só esses dias que estava fechando nesse pare e siga já me afetou bastante. Te diria que caiu uns 60% o movimento”, conta.
O comerciante Aires Grando, conhecido Gaúcho, conta ainda que a atual mudança na rota dos caminhões foi um dos fatores importantes dessa queda.
“Caminhões que passavam aqui de carregamento de água, de frete, eram o nosso lucro, né? Agora estão indo por outro lado, não vêm mais por aqui. E quando abrir lá [MT-030] vai prejudicar mais ainda”.
Essas perdas e a incerteza de quando a situação vai se resolver acabam afetando também os investimentos na comunidade. Donos de um mercado no Rio dos Peixes há aproximadamente 11 meses, Fabiana Lima Nascimento e o marido agora não sabem se investem mais no local ou seguram, devido às incertezas.
Giordano Tomaselli/MidiaNews
Kátia e suas cozinheiras, Seu Gaúcho e Airton
“A gente já tinha uma previsão de investimento aqui. Agora estamos de mãos atadas, sem saber o que vai ser ou como proceder. Investimos aqui ou não?”, questiona-se Fabiana.
Os investimentos incluiriam também a contratação de novos funcionários, mas o que aconteceu foi o contrário. “Nós já diminuímos. Estou com dois funcionários e eu trabalhando, só que o mercado é grande e a gente precisava de pelo menos mais dois. Mas eu não consigo contratar porque eu não sei o que vai ser amanhã”, explica.
Seu Gaúcho foi pelo mesmo caminho e já mandou embora os quatro funcionários que tinha. “Hoje sou só eu e minha esposa aqui”.
A preocupação também é sentida por Kátia Lima de Souza, gerente de um restaurante, que diz que os efeitos já estão sendo percebidos. “Já sabemos que tem comércio que já mandou embora, que já liberou os diaristas, que já reduziu. Então a população já está sentindo e os próprios comerciantes já estão sentindo também”, afirma.
Kátia também admite que se a situação atual permanecer ou piorar, vai ser impossível não se reestruturar. “Estamos em sistema de reestruturação devido a essa nova realidade. E com essa possibilidade dessa nova estrada ser construída, com certeza teremos problemas. Vai ter que ver como vamos fazer, mas sabemos que iremos sentir, sim”, admite ela.
Alguns funcionários inclusive já não sabem se permanecem morando na comunidade ou tentam uma vida em outro lugar, com o emprego podendo ficar em risco. É o caso da Rafaela Oliveira, que mora há quatro anos no Rio dos Peixes e trabalha em um restaurante. “Vai ficar difícil pra gente, né? A gente que tem família, que tem filhos, vai ficar complicado [para se manter] aqui”, diz.
Neste último fim de ano, que geralmente é o melhor período de arrecadação dos comerciantes, eles já sentiram a queda por causa das restrições no tráfego. “A gente esperava ter movimento, mas caiu muito. Foi um final de ano bem ruim porque geralmente a gente tinha um lucro bom [nessa época], mas não foi nada do que a gente esperava”, desabafa Paula Oliveira dos Santos, funcionária de uma lanchonete cuja equipe já foi reduzida.
Seu Gaúcho ilustrou em números as perdas que está enfrentando em seu restaurante.
“Aqui em uma manhã normal, vendia 70, 80 salgados. Hoje não vendemos quinze. Almoço, churrasco, vendíamos 90, 100. Ontem, por exemplo, vendi 12”, afirma.
“É todo um complexo até Chapada”
Giordano Tomaselli/MidiaNews
Diana, Rafaela Oliveira e Paula dos Santos
Desde o início dos deslizamentos na região do Portão do Inferno, voltou ao debate a viabilização de uma nova via que ligasse Cuiabá a Chapada.
A via que melhor atenderia aos requisitos seria a MT-030, que apesar de ainda ser apenas uma ideia seria mais curta em pouco mais de 30km e teria menos curvas, fazendo o trecho ser "mais seguro" que a MT-251.
O prefeito de Chapada de Guimarães, Osmar Froner (MDB), já chegou a defender publicamente que sejam feitas melhorias na MT-251 para que a rodovia continue sendo a rota principal para aqueles que queriam fazer o trajeto até Chapada dos Guimarães.
O mandatário alega que existe todo um complexo de atividades econômicas até o município, que seriam duramente afetados com a viabilização de outra rota.
“Temos estruturas de turismo como balneários, o da Salgadeira, outros vários pelo entorno e a praça de alimentação do Rio dos Peixes, que gera muito emprego. É todo um complexo até Chapada e até o Mirante com muitos negócios nessa rodovia [MT-251]”, afirmou Froner.
“Nós defendemos a consolidação dela [MT-251], continuar o estudo de duplicação, resolver o ponto crítico do Portão do Inferno, com viaduto ou com túnel”, acrescentou.
Apesar de defender a MT-251 como rota principal, Froner disse não ser contra a MT-030 e admitiu a importância de que o Governo do Estado prossiga com o projeto de construção da rodovia como rota alternativa.
A Sinfra (Secretaria de Estado de Infraestrutura) tem estudado medidas mais céleres para reparar a MT-251, mas atualmente o Governo do Estado depende de autorização do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) para poder mexer no paredão do Portão do Inferno.
Enquanto isso, quem depende do comércio no Rio dos Peixes continua apreensivo com os desfechos que a situação pode tomar.
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5 Comentário(s).
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Anderson Leão Veloso 26.02.24 23h50 | ||||
Poderiam baixar os preços tbem né já ajudaria .... Pastel simples e um caldo de cana quase 30 reais . Jesus amado um copinho de caldo de cana 10 a 12 reais !!! | ||||
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Marlon 26.02.24 13h16 | ||||
Eu sou a favor da nova rodovia. Só assim eu consigo comprar um terreno mais barato na comunidade Rio dos Peixes. O preço vai cair | ||||
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Jeves Bejame 26.02.24 12h21 | ||||
Essa comunidade se reinventará e com certeza será melhor que agora. | ||||
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Alaerte Luiz de Freitas 25.02.24 12h08 | ||||
Sou contra esse projeto de estrada alternativa MT 30. Acho que esse é mais um projeto de interesse econômico/Político como muitos que existem em Mato Grosso, para favorecer eles mesmos (políticos) em detrimento das necessidades do próprio povo. Não é atoa que a maioria dos políticos lutam para esse projeto sem ouvir as populações da cidade e também os das margens da estrada 251 que tem ali seus investimentos baseado neste movimento. Para Chapada vejo como retrocesso pois, conforme o traçado, sairá há quatorze KM de Chapada. O que vai inviabilizar também Chapada que perderá todo esse fluxo que passa com destinos da região Sul e também Goiânia e Brasília. Fomos fim de linha por muitos anos, só vinha para chapada os poucos turistas e aquele que por necessidade precisasse. Precisa que o Governo faça um melhor estudo de impacto econômico da região para tomar esta iniciativa. Quanto ao portão, falta mais empenho justamente desta classe politica que está empenhado por este outro projeto. Uma ponte sobre o precipício resolveria, coisa que para a engenharia não seria nada difícil. Falta mesmo é vontade política dos governantes. | ||||
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Wagner Diamond 25.02.24 12h03 | ||||
Quem vai apenas pra Chapada a MT 030 sem dúvida será a melhor opção após pavimentação, agora quem vai aos balneários existentes na MT 251 vão continuar frequentando os locais, ao meu ver não prejudicará os comerciantes, a maioria desloca para tomar banho, quem vai pra pra cidade passa direto. | ||||
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