“Um verdadeiro inferno”. O mato-grossense Arisson Benevides é direto ao definir o conflito militar entre Ucrânia e Rússia, onde atua na linha de frente desde o início da guerra, em fevereiro de 2022.
Natural de Cáceres (a 218 km de Cuiabá), Arisson sempre sonhou em seguir carreira militar, inspirado pelo tio, policial no Estado. Para realizar esse desejo, tentou se alistar no Exército Brasileiro, mas acabou não sendo selecionado devido ao alto número de candidatos em relação às vagas disponíveis.
Diante da dispensa, Arisson seguiu para a Europa, onde passou a atuar na Legião Estrangeira, unidade militar composta por estrangeiros que servem sob comando francês.
“Eu me alistei no Exército Francês, na Legião Estrangeira. Fiquei sete meses na Legião. Quando começou a guerra na Ucrânia, decidi sair da Legião e optei por vir ajudar aqui, no conflito”, conta Arisson.
Ele passou então a atuar diretamente na Ucrânia, onde realizou treinamentos e, em seguida, foi transferido para o front do conflito combatendo os russos.
“A gente passou por uma série de treinamentos para estar apto a ir ao front. Fiquei em torno de dois meses em treinamento no início da guerra. Depois fui para uma região chamada Donetsk, que fica próxima da Rússia”, relatou.
Situada na região industrial do leste da Ucrânia, Donetsk é uma das áreas mais atacadas por tropas russas desde o início do conflito. Em 2022 esta e outras três regiões ucranianas foram anexadas ilegalmente ao território russo.
Acervo pessoal
Arisson Benevides próximo aos Mosteiro Lavra dos Montes Sagrados, na Ucrânia
Após sua atuação em Donetsk, Arisson foi transferido para outras áreas estratégicas, onde atualmente faz parte da linha de defesa territorial.
Entre a vida e a morte
Com quase três anos de atuação no conflito, Arisson lembra de momentos em que esteve próximo da morte durante missões de alto risco.
Em um dos episódios mais recentes, ele foi designado, junto com um colega brasileiro, para realizar uma “missão de assalto” , operação que envolve o planejamento e execução de ataques para tomar armamento ou estruturas inimigas.
Durante a missão, o veículo em que estavam foi atingido por tropas russas. Mesmo assim, eles seguiram com o plano de invadir trincheiras do grupo rival, o que resultou em baixas em seu grupo.
“O comandante queria que a gente fizesse a missão, e nós fomos. Nela, morreram quatro ucranianos. Tivemos que voltar a pé para a base, sem veículo. Achei que ia morrer, porque tinha muito drone, muita artilharia, muita artilharia mesmo”, recorda.
Além da constante ameaça de morte, Arisson também já ficou ferido durante uma explosão em um bunker.
“Eu estava numa trincheira com quatro brasileiros quando a artilharia russa atingiu nossa posição. Destruiu o bunker e um estilhaço entrou na minha perna, na coxa. Precisei ser evacuado para receber atendimento”, relata.
Apesar dos riscos constantes, Arisson afirma que, com o tempo, aprendeu a lidar com o cenário de destruição.
“No início é ruim mesmo, mas, com o tempo, você acaba se tornando uma pessoa um pouco fria. Vai se acostumando com a situação”, afirma o cacerense, que não comentou sobre mortes de inimigos nos combates de que participou.
Atuação de mato-grossenses na Ucrânia
Segundo Arisson, ao menos oito mato-grossenses atuam atualmente no conflito. No entanto, esse número pode ser ainda maior, já que há um aumento no interesse de jovens entre 19 e 30 anos em se alistar voluntariamente para lutar na guerra.
Acervo pessoal
O mato-grossense durante a guerra no inverno europeu
“Eu estava trabalhando com o pessoal da inteligência da Ucrânia. Quando a gente fazia análise, o número de pessoas de Mato Grosso interessadas em vir para a Ucrânia era muito grande”, conta.
A atuação no país é voluntária, mas os soldados recebem apoio financeiro que pode variar entre R$ 3 mil e R$ 25 mil por mês, além do direito a documentos ucranianos.
Relatos e ajuda humanitária pelas redes sociais
Para tirar dúvidas e mostrar a realidade da guerra, Arisson conta que iniciou uma série de publicações nas redes sociais, especialmente no TikTok e YouTube.
“Acho interessante mostrar um pouco da realidade. Comecei no YouTube com o intuito de fazer ajuda humanitária, porque também atuo com isso aqui na Ucrânia. Com a monetização do canal, envio dinheiro para os abrigos”, explica.
Segundo o combatente, embora o combate mais intenso esteja concentrado em áreas mais avançadas do território, muitas cidades continuam devastadas.
“A guerra está mais à frente [de Kiev, capital da Ucrânia], mas essas cidades que foram afetadas continuam muito destruídas. Algumas pessoas ainda insistem em morar nessas vilas, e elas vivem com ajuda humanitária e apoio do Exército”.
“É o verdadeiro inferno. Como a Rússia está avançando muito, eu não sei se gente, o Exército Ucraniano, vai conseguir segurar”.
Apesar do cenário, Arisson afirma que permanecerá no conlfito e planeja voltar ao Brasil apenas durante suas férias, programadas para o mês de novembro.
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