Cuiabá, Sexta-Feira, 1 de Agosto de 2025
SUPOSTA PIRÂMIDE
25.05.2025 | 08h00 Tamanho do texto A- A+

Odontólogo de Cuiabá está no centro de escândalo de R$ 40 mi

Luiz Evaristo Volpato era tesoureiro do CFO quando autarquia fez investimento que virou pó

Kebec Nogueira/Metrópoles

Luiz Evaristo Volpato (detalhe) era tesoureiro da autarquia quando investimento aconteceu

Luiz Evaristo Volpato (detalhe) era tesoureiro da autarquia quando investimento aconteceu

LIZ BRUNETTO
DA REDAÇÃO

O odontólogo de Cuiabá Luiz Evaristo Volpato, ex-presidente do CRO-MT (Conselho Regional de Odontologia de Mato Grosso), está no centro de um escândalo financeiro que resultou em um rombo milionário aos cofres do CFO (Conselho Federal de Odontologia), em 2021. 

Não tive conhecimento enquanto desempenhei minhas funções no CFO de qualquer ilegalidade praticada

 

Volpato era o tesoureiro do CFO na época em que a autarquia fez um investimento em uma empresa acusada de pirâmide financeira, o que resultou em um prejuízo de R$ 40 milhões.

 

Além dele, a diretoria ainda tinha o presidente Juliano do Vale e o secretário-geral, Cláudio Yukio Miyake, que hoje ocupa a presidência.

 

O escândalo veio à tona após a publicação de uma matéria no site nacional Metrópoles, em 14 de maio, afirmando que o TCU (Tribunal de Contas da União) investigava um “desvio de R$ 40 milhões dos cofres do CFO”, por meio de um suposto “esquema de pirâmide financeira”. 

 

O início 

 

Tudo começou na pandemia, quando o CFO investiu o montante na empresa Solstic Capital, Investimentos e Participações Ltda, com o propósito de abrir uma linha de crédito para os profissionais que sofriam com o impacto econômico do lockdown.

 

A Solstic se apresentava como uma intermediária do banco BTG Pactual, onde, supostamente, o dinheiro seria depositado. Os R$ 40 milhões, porém, desapareceram nas mãos da Solstic Capital.

 

A empresa reconheceu em termo de responsabilidade, em fevereiro de 2023, uma dívida com o CFO de mais de R$ 37 milhões. Seu proprietário Flávio Alexandre Batel Pereira faleceu em novembro do ano passado, após o fechamento da empresa e sem pagar as dívidas. 

 

Conforme informações divulgadas pelo Metrópoles, o CFO fez sete transferências bancárias à Solstic Capital, totalizando os R$ 40 milhões, entre julho e outubro de 2021. Os valores deveriam sair da conta da Solstic direto para uma conta do Conselho no BTG Pactual.

 

Segundo o Metrópoles, os valores que a Solstic Capital recebia do CFO, no entanto, eram posteriormente enviados para outros destinos - e não o BTG Pactual -, com descrição de saída “pagamento de fornecedores”. 

 

As investigações 

 

Ao MidiaNews, o TCU informou que “o assunto é tratado no TC 007.852/2025-8, de relatoria do ministro-substituto Weder de Oliveira”, e que, no momento, o processo está em fase de análise na unidade técnica e não há documentos públicos disponíveis. 

 

Na categoria assunto do processo, consta: “Denúncia sobre possível investimento fraudulento na empresa Solstic Capital, Investimentos e Participações Ltda, como pirâmide financeira, no montante de cerca de R$ 100 milhões”.

 

O processo foi autuado em 30 de abril de 2025 e a investigação é sigilosa. 

Durante todo o tempo a Soltic encaminhava extratos demonstrando a correção do valor que ainda não havia sido transferido

 

Uma fonte da Polícia Federal confirmou ao MidiaNews que o caso também está sendo investigado por lá como “lavagem de dinheiro e fraude em licitação”. Volpato, em conversa com a reportagem, disse desconhecer qualquer investigação da Polícia Federal.

 

A versão do ex-tesoureiro

 

Segundo Luiz Evaristo Volpato, o investimento aconteceu em 2021, quando o “Brasil e o mundo ainda viviam os reflexos da pandemia do Covid-19”, disse. A principal demanda na autarquia, à época, era por crédito aos profissionais registrados. 

 

“O conselho entrou em contato com diferentes instituições buscando alternativas para a oferta de crédito aos profissionais quando acabou firmando o contrato com a Solstic Capital Investimentos e Participações”, disse. 

 

A Solstic Capital não tinha autorização do Banco Central ou da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para realizar atividades de custódia de depósitos ou para oferecer remuneração sobre esses depósitos. 

  

“Segundo a Solstic, seria estruturado um fundo de 120 milhões, em que o CFO entraria com 40 milhões e o restante viria de outras contas sob administração da Solstic. Esse recurso seria transferido para o BTG, que ofereceria crédito em condições facilitadas para os profissionais da odontologia”, explicou o ex-tesoureiro.

 

O odontólogo alega que, naquele momento, foram feitas pesquisas sobre a empresa e que “não foi constatada nenhuma irregularidade”. 

 

“Não tive conhecimento enquanto desempenhei minhas funções no CFO de qualquer ilegalidade praticada. Foi transferido o montante para a Solstic e realizada a campanha do BTG direcionada aos cirurgiões-dentistas de todo o Brasil”, disse. 

 

Volpato explicou que o valor investido pelo CFO deveria ter sido transferido da conta transitória para a conta que a autarquia abriu no BTG, mas que a Solstic alegava dificuldades operacionais.

 

“Ao longo do tempo foram feitas transferências, mas não chegaram ao montante total, apesar da cobrança feita pelo CFO nesse sentido. Durante todo o tempo a Soltic encaminhava extratos demonstrando a correção do valor que ainda não havia sido transferido”, disse. 

Profunda indignação ao constatar que a entidade foi vítima de um elaborado golpe financeiro

 

O que diz o CFO 

 

O Conselho Federal de Odontologia se manifestou por meio de nota e classificou o caso como uma “fraude financeira”, após investimento realizado durante as gestões 2018/2021 e 2021/2024. 

 

Assim como na declaração de Volpato, o CFO afirmou que o investimento aconteceu para viabilizar linhas de crédito aos profissionais que enfrentavam dificuldades em meio à pandemia. 

 

A autarquia afirmou que avaliou diferentes “opções de investimento” e que “os então presidente e tesoureiro do CFO celebraram acordo com a Solstic Capital, representada pelo sr. Flávio Alexandre Batel Pereira”. 

 

Batel teria se apresentado como interlocutor do BTG Pactual e, segundo o CFO, realizou diversas reuniões na sede do banco.

 

“O CFO transferiu o total de R$ 40 milhões, sob a premissa de que os valores seriam imediatamente repassados para uma conta do CFO no Banco BTG Pactual. As análises técnicas da operação foram conduzidas por um prestador de serviço da área técnica da tesouraria, que acompanhou o trâmite operacional”, diz trecho da nota. 

 

A atual diretoria disse manifestar “profunda indignação ao constatar que a entidade foi vítima de um elaborado golpe financeiro”.

 

“Relatórios da auditoria externa confirmaram que a Solstic Capital não era habilitada pelo Banco Central ou pela CVM para custódia de depósitos ou para oferecer remuneração, e que o contrato estava à margem das normas do mercado financeiro. Até o momento, R$ 8.660.718,11 foram recuperados”. 

Essas denúncias não afetam a credibilidade do CRO-MT, pois temos independência administrativa e financeira

 

O CFO afirmou que, apesar do rombo, todos os programas e ações do Conselho permanecem em pleno funcionamento. E informou que foram instauradas auditorias específicas e comissões, além de ter protocolado uma ação de cobrança no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) e apresentado uma denúncia no Ministério Público Federal (MPF) e no TCU. 

 

O que diz o CRO-MT 

 

A reportagem entrou em contato com a atual presidente do CRO-MT, Wânia Dantas, que informou que o Conselho de MT foi o “primeiro regional a questionar formalmente o Conselho Federal de Odontologia”.

 

“Nós fizemos isso via ofício para esclarecimentos das denúncias veiculadas nas mídias informais como o WhatsApp e Instagram. Esse ofício foi enviado no dia 28 de abril, assim que tomamos conhecimento dessas notícias. No dia 29 de abril, assinei também um abaixo-assinado juntamente com 17 conselhos regionais, solicitando esclarecimentos ao Conselho Federal”, explicou. 

 

Confira o posicionamento de Luiz Evaristo Volpato 

 

Em meados de 2021 o Brasil e o mundo ainda viviam os reflexos da pandemia do Covid-19. O CFO havia feito pesquisas com os profissionais inscritos e a principal demanda era por crédito em função das dificuldades financeiras naquele momento. O conselho entrou em contato com diferentes instituições buscando alternativas para a oferta de crédito aos profissionais quando acabou firmando o contrato com a Solstic Capital Investimentos e Participações. 

 

A empresa Solstic se apresentou como uma intermediária de um processo que envolvia o banco BTG Pactual. Segundo a Solstic, seria estruturado um fundo de 120 milhões, em que o CFO entraria com 40 milhões e o restante viria de outras contas sob administração da Solstic. Esse recurso seria transferido para o BTG que ofereceria crédito em condições facilitadas para os profissionais da odontologia.

 

Naquele momento foram feitas pesquisas sobre a empresa e não foi constatada nenhuma irregularidade. Não tive conhecimento enquanto desempenhei minhas funções no CFO de qualquer ilegalidade praticada.

 

Foi transferido o montante para a Solstic e realizada a campanha do BTG direcionada aos cirurgiões-dentistas de todo o Brasil.

 

O valor transferido deveria ter sido transferido da conta transitória para a conta que o CFO abriu no BTG mas a Solstic alegava dificuldades operacionais. Ao longo do tempo foram feitas transferências, mas não chegaram ao montante total, apesar da cobrança feita pelo CFO nesse sentido. Durante todo o tempo a Soltic encaminhava extratos demonstrando a correção do valor que ainda não havia sido transferido.

 

Desconheço qualquer investigação da Polícia Federal.

Confira a nota do CFO na íntegra: 

 

O Conselho Federal de Odontologia (CFO) esclarece acerca de investimento realizado durante as gestões 2018/2021 e 2021/2024, que culminou em uma fraude financeira, e informa todas as medidas internas, externas e providências jurídicas adotadas, pela atual gestão, para a recuperação dos valores.

Após minuciosa investigação, a atual gestão apurou que:

 

  • - Durante a pandemia de COVID-19, que impôs severas restrições de funcionamento à odontologia, a direção anterior do CFO, em busca de soluções que atendessem à classe, foi apresentada a diferentes parcerias com diversas instituições financeiras para viabilizar linhas de crédito aos profissionais em dificuldades;

  • - Em 2021, após avaliar diferentes opções de investimento, os então presidente e tesoureiro do CFO celebraram acordo com a Solstic Capital, representada pelo sr. Flávio Alexandre Batel Pereira, que se apresentou como interlocutor do Banco BTG Pactual, um dos maiores e mais respeitados do país, e realizou diversas reuniões na sede do mesmo banco.

O CFO transferiu o total de R$ 40 milhões, sob a premissa de que os valores seriam imediatamente repassados para uma conta do CFO no Banco BTG Pactual. As análises técnicas da operação foram conduzidas por um prestador de serviço da área técnica da tesouraria, que acompanhou o trâmite operacional.

 

- A diretoria atual do CFO manifesta profunda indignação ao constatar que a entidade foi vítima de um elaborado golpe financeiro. Relatórios da auditoria externa confirmaram que a Solstic Capital não era habilitada pelo Banco Central ou pela CVM para custódia de depósitos ou para oferecer remuneração, e que o contrato estava à margem das normas do mercado financeiro. Até o momento, R$ 8.660.718,11 foram recuperados.

 

  • - A atual direção do CFO não poupará esforços para que o caso seja totalmente elucidado, em todos os níveis e âmbitos, interno e jurídicos, e valores sejam recuperados integralmente.

  • - O CFO lamenta que pessoas mal-intencionadas estejam utilizando este episódio e distorcendo fatos para tentar desestabilizar as entidades representativas da classe.

  • - Reafirmamos nosso compromisso com a transparência e a boa gestão dos recursos públicos.

  • - Apesar da gravidade da situação, todos os programas e ações do Conselho permanecem em pleno funcionamento, sem prejuízo aos serviços prestados à classe odontológica.

 

Medidas adotadas para recuperação dos recursos

 

A atual gestão do CFO tomou imediatamente as seguintes providências ao constatar a gravidade da situação:

 

  1. - Instauração de apurações internas e solicitação de auditorias específicas e comissões;

  2. - Análise minuciosa dos extratos bancários e da documentação disponível;

  3. - Protocolo de ação de cobrança no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), processo de n° 1012194-73.2025.4.01.0000;

  4. - Apresentação de denúncia no Ministério Público Federal (MPF) e no Tribunal de Contas da União;

  5. - Implementação de novos procedimentos internos com camadas adicionais de segurança nos processos decisórios financeiros;

  6. - Processo de concentração de todas as aplicações financeiras em instituições oficiais com garantia governamental.

 

A atual Diretoria, ao assumir a gestão do CFO, imediatamente, solicitou que todas as providências acima descritas fossem tomadas por meio do superintendente e chefe do PROJUR.

 

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