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06.11.2025 | 14h00 Tamanho do texto A- A+

Pantanal é bioma com maior taxa de aquecimento, diz pesquisa

Estudo revela que temperatura subiu 0,47°C desde 1985; Amazônia também registrou uma elevação

Reprodução

Pantanal e Amazônia tiveram aumento médio de 1,9°C e 1,2°C em 40 anos

Pantanal e Amazônia tiveram aumento médio de 1,9°C e 1,2°C em 40 anos

PIETRA NÓBREGA
DA REDAÇÃO

Dados do MapBiomas, divulgados nesta quarta-feira (5), indicam que os biomas do Pantanal e da Amazônia registraram os maiores aumentos de temperatura no Brasil nas últimas quatro décadas. 

 

Os dados estão mostrando que, de maneira sistemática, a temperatura está crescendo em todo o Brasil desde 1985

Conforme a organização, o Pantanal teve um aquecimento médio de 1,9°C, enquanto a Amazônia registrou alta de 1,2°C no período. 

 

A ferramenta consolida informações a partir de imagens de satélite e modelagem de dados, oferecendo séries históricas de variação de temperatura e precipitação de 1985 a 2024, e de poluentes atmosféricos, de 2003 a 2024, com abrangência nacional.

 

Em escala nacional, o estudo mostra que a temperatura subiu a uma média de 0,29°C por década, resultando em um aumento total de 1,2°C desde 1985. No entanto, o ritmo do aquecimento variou entre os biomas.

 

O Pantanal apresentou a taxa mais alta, de 0,47°C por década, seguido pelo Cerrado, com 0,31°C. A Amazônia teve incremento de 0,29°C por década. Os biomas costeiros tiveram elevações menores: Caatinga (0,25°C/década), Mata Atlântica (0,21°C/década) e Pampa (0,14°C/década).

 

“Os dados estão mostrando que, de maneira sistemática, a temperatura está crescendo em todo o Brasil desde 1985. O ano passado foi recorde, mas não é um ano isolado”, afirma Luciana Rizzo, professora do laboratório de Física Atmosférica da USP e integrante do MapBiomas Atmosfera.

 

O recorde mencionado pela pesquisadora refere-se à temperatura registrada em 2024 na Amazônia e no Pantanal. Considerando a média de 40 anos, que é de 25,6°C e 26,2°C, respectivamente, o ano passado teve um acréscimo de 1,5°C e 1,8°C.

 

Esse foi o maior aumento anual já verificado desde o início da série histórica. De acordo com Luciana, esses números corroboram a ocorrência de eventos extremos, como as queimadas e a seca sem precedentes que afetaram ambos os biomas em 2024.

 

Segundo o MapBiomas, estados com maior continentalidade, como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Piauí, também registram aquecimento mais acelerado, com taxas entre 0,34°C e 0,40°C por década. Já os estados costeiros, como Rio Grande do Norte, Alagoas e Paraíba, tiveram as menores taxas, entre 0,10°C e 0,12°C por década. Na região metropolitana de São Paulo, o aumento foi de 0,19°C por década.

 

Relação entre desmatamento e temperatura

 

O coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, informa que a Amazônia perdeu 52 milhões de hectares de vegetação nativa desde 1985, uma redução de 13% de sua cobertura.

 

“No mesmo período, o bioma teve um aumento médio da temperatura em 1,2°C. Os estudos mais recentes apontam que a perda de florestas modifica as trocas de calor e de vapor d’água com a atmosfera, resultando em temperaturas mais elevadas”, explica.

 

Um estudo citado pela organização e publicado na Nature Geoscience indica que o desmatamento é responsável por 74% da redução das chuvas e por 16% do aumento da temperatura na Amazônia durante o período seco. Luciana Rizzo ressalta que um clima mais seco, por sua vez, favorece a propagação do fogo.

 

“A poluição do ar no Norte foi mais intensa do que em áreas fortemente urbanizadas do Sudeste em 2024. A baixa qualidade do ar em estados amazônicos tem relação direta com a fumaça dos incêndios florestais, que ocorrem principalmente na estação seca do bioma”, diz a pesquisadora.

 

Em 2024, o volume de chuvas na Amazônia ficou 448 milímetros abaixo da média histórica, uma redução de 20%. Em algumas áreas do bioma, o déficit de precipitação chegou a 1000 mm no ano. A escassez de chuvas contribuiu para o aumento da área queimada, que atingiu 15,6 milhões de hectares no ano passado.

 

“Os últimos três relatórios do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima] já apontavam estas tendências de aquecimento e de alteração da precipitação que estamos observando na plataforma”, destaca Paulo Artaxo, professor da USP e integrante do MapBiomas Atmosfera.

 

As mudanças na temperatura média afetam todos os biomas. No Pantanal, onde a temperatura subiu 1,9°C em 40 anos, o regime de chuvas na Bacia do Alto Paraguai ficou 314 mm abaixo da média em 2024, com 205 dias sem precipitações.

 

“A redução de precipitação também tem efeitos importantes, especialmente na Amazônia e no Pantanal”, complementa Artaxo.

 

O professor avalia que a nova plataforma pode ser um instrumento para a preservação dos ecossistemas. “É uma nova ferramenta que auxilia o Brasil a implementar políticas públicas baseadas em evidências experimentais e mostra quais seriam as regiões mais impactadas pelas mudanças do clima e mudança de uso da terra”, ressalta.

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