exposed cuiaba

O perfil do Twitter chamado “Exposed Cuiabá”, criado na quarta-feira (3), se tornou um dos assuntos mais comentados entre os usuários da Capital nessa semana por expor relatos de abusos físicos, sexuais e psicológicos.
Em menos de 24 horas de existência, o perfil já tinha mais de 3 mil seguidores, dezenas de relatos de vítimas de violência e a conta até chegou a ser suspensa por algumas horas na quinta-feira (4).
A criadora da página, que não quis se identificar por medo de sofrer represálias, contou que conhece muitas jovens que já sofreram abusos e, inclusive, já presenciou um.
Segundo ela, os autores dos crimes sempre ficam impunes e se passam por boas pessoas perante a sociedade. Cansada disso, ela decidiu abrir um espaço seguro e anônimo para as vítimas desabafarem.
“Uma hora cansa de ver. São pessoas que passam impunes, que sempre estão se fazendo de ‘bom moço’, mas na verdade muitos não sabem o caráter da pessoa. Criei coragem para expor”, afirma.
No perfil, a administradora recebe as denúncias pela caixa de mensagens do Twitter e pela plataforma CuriousCat, que permite enviar mensagens anônimas.
Ela acredita que muitas jovens tem medo de denunciar, de serem julgadas, não terem sua palavra levada a sério ou mesmo de serem perseguidas pelos seus agressores. Por conta disso, disponibilizou a opção de enviar os posts de maneira anônima.
“Muitas não tinham coragem de fazer isso por conta de críticas dos pais, críticas dos amigos, muitos falam que é mentira, não acreditam. Acredito que elas não denunciaram por medo, muitos pais não sabem desses relatos, também por vergonha e por muitas vezes passar impune, não dar em nada”, avalia.
perfil
Relatos chocantes
Em prints de denúncias recebidas na página, é possível notar um padrão. A maioria dos abusos ocorre quando a vítima está embriagada, sem condições de resistir, e envolve jovens, alguns até menores de idade.
“Tem muitos jovens entre 18 e 24 anos, de classe média, estudantes de escolas particulares bem caras de Cuiabá”, descreve a criadora sobre o perfil dos acusados.
Em alguns, as vítimas ainda escrevem a profissão e o local onde estudam os seus agressores. Tem relatos envolvendo até mesmo professores.
“Professor assedia meninos menores de idade. Já vi mensagens muito nojentas”, descreve uma denúncia.
“Fui assediada pela maioria dos professores homens e fui na coordenação várias vezes e tentei denunciar, mas eles sempre somem com todas as acusações e ainda contam aos agressores quem fez a denúncia”, escreveu outra vítima.
Há ainda muitas histórias de estupro, onde a vítima dizia não, mas mesmo assim era forçada a ter relações ou a mulher estava inconsciente.
“Um colega contou que havia um vídeo meu circulando que ele [o abusador] gravou quando a gente ficou e que, aliás, mostrava ele me forçando a tirar a parte de cima da minha roupa e deixar ele tocar as minhas partes íntimas enquanto eu negava e tentava esquivar”, revela uma jovem.
Em outro caso, em uma confraternização com amigos no Lago do Manso, uma mulher relata um episódio de estupro. Ela conta que estava doente, tomou remédios e foi dormir.
No meio da noite, ela acordou com o suspeito com a mão dentro do seu short. Meio grogue por conta da medicação, ela tenta tirar a mão do rapaz, mas acaba apagando novamente.
A cena se repetiu por diversas vezes, até que ela não conseguiu mais resistir.
“Obrigada, seu lixo. Meses que eu demorei para sair do fundo do poço por sua causa. Na época, conversei com advogada, mas quem acreditaria em uma mulher, né? Certamente iriam me culpar e foi assim que me sentia, suja e culpada”, desabafou a vítima no post.
Grande repercussão
A jovem revela que até essa quinta-feira já tinha recebido quase 2 mil relatos anônimos pelo CuriousCat e não esperava ganhar tanta repercussão.
Ela acredita que seu trabalho feito com a página tem encorajado mais mulheres a exporem seus abusos.
“É uma forma das pessoas criarem coragem de expor essas situações e também é uma forma de justiça. São crimes, mas muitas meninas têm medo, têm vergonha”.
A criadora conta que também tem recebido muito apoio de usuários do Twitter. Em contrapartida, alguns insatisfeitos têm denunciado a página para a administração da rede social.
Por conta disso, o perfil ficou fora do ar por algumas horas e só poderia retornar se fossem excluídas duas publicações.
Ela ainda afirma que já recebeu diversas ameaças de homens que já tiveram seus crimes expostos na página. No entanto, a criadora não se deixa abalar.
“Já recebi algumas ameaças, mas isso não está me amedrontando. Ameaças de processo, querer descobrir quem é, agressão, tudo”, afirma.
Professores também são denunciados no perfil
Cuidado
A criadora da página toma o cuidado de apagar algumas informações sobre os acusados como o sobrenome, onde trabalham e estudam. Mas deixa algumas letras para que os leitores interpretem as informações.
Ela diz que faz isso para não ser processada por danos morais e não perder sua página.
“A princípio o perfil é anônimo e estou tentando ao máximo selecionar os relatos, apagar informações para não ocorrer certos problemas. Sempre deixo o primeiro nome e a inicial do sobrenome”.
A jovem ainda ressalta que lê atentamente cada denúncia que recebe para não publicar algo que seja mentira. Ela garante que consegue perceber alguns detalhes das histórias que indicam ser verdade.
“Avalio criteriosamente, tem gente que manda fazendo brincadeira. Alguns você percebe que são inverdades”, diz.
Ela, no entanto, tem sido cobrada para postar todos os relatos que recebe e com mais rapidez. Porém, a criadora afirma que tem recebido muito material e não consegue dar conta de tudo sozinha.
“Algumas pessoas falam que estou sendo seletiva, que estou deixando de postar algumas coisas, mas é que são muitas coisas que acabam chegando”, explica.
Apesar da grande quantidade de trabalho, a criadora ainda tem buscado apoio de advogados e psicólogos para ajudar as vítimas de violência.
Contudo, a jovem teme que a página não dure por muito tempo e ela não consiga finalizar esse trabalho.
“Algumas pessoas estão oferecendo apoio, muitos advogados que se dispuseram, também estou tentando encontrar psicólogo para entrar em parceria. Mas não sei até que dia a página vai ficar no ar por conta das denúncias então está arriscado cair a qualquer momento”, lamenta.
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
3 Comentário(s).
|
Mateus Gomes 07.06.20 14h21 | ||||
Pelo jeito o perfil já foi excluído novamente do Twitter, não consigo acessar... Bela iniciativa, mas o mais importante é proporcionar tratamento para estas vítimas. | ||||
|
Amanda 07.06.20 13h19 | ||||
Louvável as denuncias, mas tem que ter cuidado. No RJ fizeram essa página e expuseram um adolescente que tinha mandado umas mensagens. O menino acabou se suicidando pois não aguentou os xingamentos e julgamentos | ||||
|
Cuiabano 07.06.20 11h04 |
Cuiabano, seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas |