Pesquisa resgata a gênese e o "pai da publicidade" em MT; vídeo

O professor universitário Flávio Prates Fonseca Neto defendeu no ano passado, na Universidade Fernando Pessoa, em Portugal, sua pesquisa de mestrado, na qual revive os anos de ouro da publicidade mato-grossense para responder a uma pergunta norteadora: o marqueteiro Mauro Cid é o pai da publicidade em Mato Grosso?

Imaginava que nós fôssemos apenas contar um pedaço da história da publicidade mato-grossense

Com décadas de atuação na docência universitária, Flávio é professor do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), onde integrou a Comissão Fundadora do Curso de Comunicação Social. Sua trajetória profissional começou justamente no mercado publicitário, atuando na agência fundada pelo publicitário Mauro Cid em 1979.

Batizada de MCA Propaganda, a agência rapidamente se tornou um marco na publicidade de Mato Grosso, empregando, treinando e aguçando o olhar de diversos profissionais, recém-formados ou ainda sem formação acadêmica, mas com clara vocação para a área.

Com o passar dos anos, a MCA tornou-se referência. Seus pupilos passaram a figurar como concorrentes, fundando novos espaços voltados à publicidade no Estado. Foi nesse contexto que Flávio decidiu se aprofundar na importância da MCA para o desenvolvimento do mercado publicitário mato-grossense.

Um dos pontos de partida foi a análise de um anúncio veiculado pela MCA nos jornais de Cuiabá para celebrar os 10 anos da agência. Composto por um enunciado simples, o material destacava nomes de grande relevância para a história da empresa e estampava o lema "Uma agência que quando não fez escola, fez agências".

“Uma das razões que me levaram a fazer a pesquisa foi conhecer essa figura especial que é o Mauro Cid. Outro fato é que eu estou no anúncio. Fui um dos que tiveram o Mauro como pai profissional. Sempre tive essa admiração por ele. Mas eu não imaginava que a hipótese de que ele teria sido, de fato, o pai da publicidade em Mato Grosso — o grande desenvolvedor do setor — fosse se confirmar pelas próprias palavras dessas pessoas. Eu imaginava que nós fôssemos apenas contar um pedaço da história da publicidade mato-grossense”, conta Flávio.

“Quando o anúncio chega, ele dá todo o norte da pesquisa. Ele, por si só, me deu todas as perguntas, hipóteses e caminhos. Ele é a semente de tudo. Depois, foi preciso procurar essas pessoas, identificar quem de fato eram publicitários. São 55 nomes. Eu não conhecia todos, alguns eu precisei ligar muito até encontrar.”

Mauro Cid: o pai da publicidade?

Reprodução

Mauro Cid com o prêmio “Publicista Latino-Americano”, conferido pela Associação Latino-Americana de Publicidade (ALAP)

Natural de Poconé, Mauro Cid é considerado um dos mais importantes marqueteiros políticos do Estado. Formado em Jornalismo pela PUC de Curitiba (PR), foi no estado do Rio de Janeiro que ele aperfeiçoou seu olhar para a publicidade. De volta a Mato Grosso, atuou como secretário de Comunicação durante o mandato de dois governadores.

“Ele sai da vida pública e monta a MCA Propaganda. A partir dali, passa toda a vida atuando como publicitário e profissional de marketing eleitoral. Muitas pessoas o consideram o pai da publicidade no Estado. Uma das buscas na pesquisa foi justamente confirmar isso".

Para isso, Flávio buscou os 55 nomes citados no anúncio de 1989. Após uma triagem e contato com os possíveis entrevistados, realizou entrevistas com nove deles.

“O texto é uma relação de 55 nomes, que ele nomeia ali como ex-colaboradores da MCA, de todas as funções — desde publicitários, diretores de arte, atendimento, pessoal da pesquisa e, como a gente brinca, até a tia do café e o motorista”.

“E 100% dos nove entrevistados confirmam que, de fato, Mauro Cid foi o pai profissional deles”.

Não apenas Mauro Cid foi considerado o "pai da publicidade" em Mato Grosso, como a MCA foi reconhecida como uma escola da publicidade regional.

“Foi interessante que, dos nove, oito disseram que mais aprenderam. Mas teve uma resposta muito legal. A pessoa disse: ‘Eu mais ensinei’. Explicou que, naquele momento, já era um profissional experiente, vindo de fora, e que encontrou espaço na MCA para transferir seu conhecimento. Uma coisa que apareceu muito nas respostas foi o coleguismo. Havia muita colaboração entre todos”, diz.

Crescimento do Estado e o papel da MCA

Para Flávio, o contexto social e econômico de Mato Grosso contribuiu diretamente para a importância e o crescimento da MCA, que atuou por uma década no Estado. Com o fortalecimento do agronegócio nos anos 1970, investimentos tecnológicos começaram a surgir, abrindo espaço para o mercado publicitário.

“Teve um período em que Cuiabá era a capital com a maior taxa de crescimento do Brasil — muito acima das outras. Isso fez com que o mercado crescesse rapidamente, assim como a cidade, em termos de população. Isso gerou uma necessidade urgente de se usar ferramentas de publicidade e comunicação de marketing para desenvolver iniciativas empresariais”

É nesse período de boom econômico e populacional, considerado o período de ouro da comunicação em Mato Grosso, que surge o curso de Comunicação Social da UFMT.

“A pressão era tão grande que começaram os movimentos para a fundação do curso, que se concretizou na década de 1990. A partir daí, o mercado publicitário ganhou novo fôlego. Não era mais necessário ter uma ‘escola antes da escola’, porque agora a UFMT fornecia profissionais de qualidade. É como se a MCA, Mauro Cid e os pioneiros entregassem o bastão para a universidade. ‘Agora é com você’”, finaliza Flávio.

Mauro Cid faleceu em 13 de agosto de 2024, aos 80 anos, cerca de um mês antes da defesa da dissertação de Flávio. Apesar disso, Flávio relata que o comunicador teve a oportunidade de acompanhar de perto o desenvolvimento do trabalho.