Cuiabá, Quarta-Feira, 9 de Julho de 2025
FOCO DE LATIFÚNDIOS
01.01.2013 | 09h50 Tamanho do texto A- A+

Prefeito, vereadores e magistrado têm áreas em Suiá-Missú

Documento do MPF revela que área xavante era ocupada por grande latifundiários, no Nordeste de MT

Jardel Patricio Arruda

A Fazenda Jordão, uma das maiores da região, foi palco de conflito entre posseiros e forças de segurança

A Fazenda Jordão, uma das maiores da região, foi palco de conflito entre posseiros e forças de segurança

CAROLINA HOLLAND
DA REDAÇÃO
A Terra Indígena de Marãiwatsédé, em Alto Boa Vista (1.059 km a Nordeste de Cuiabá), que passa por processo de desocupação pelos não índios desde o dia 10 de dezembro, é um foco de latifúndios, com boa parte de suas terras pertencentes a grandes fazendeiros, políticos, empresários e, até mesmo, um magistrado.

As informações constam de documento em poder do Ministério Público Federal, a cuja cópia o MidiaNews teve acesso.

O plano de desintrusão das forças de segurança prevê que a desocupação seja feita, primeiro, nas propriedades com maior extensão, mas com número reduzido de pessoas.

A Fazenda Jordão, primeira a ser desapropriada na área xavante e palco de confronto entre moradores e forças de segurança, é considerada a maior propriedade particular da área, com 6,1 mil hectares. Pertence a Antônio Mamed Jordão, ex-vice-prefeito de Alto Boa Vista.

Mamed faz parte de um pequeno grupo de pessoas que têm a maior parte das terras dentro da reserva indígena. Juntas, essas propriedades somam 32,8 mil hectares, ou seja, 19,8% dos 165 mil hectares da área xavante.

Segundo dados da Justiça Eleitoral referentes a 2008, Mamed tem patrimônio declarado de R$ 4,5 milhões.

Entre os políticos que figuram na lista dos “latifundiários”, está o ex-prefeito de Alto Boa Vista, Aldecides Milhomem de Cerqueira, cassado em 2011 do cargo, e cujo patrimônio é de R$ 2,8 milhões. Ele é dono da Fazenda Azulona, de 1,1 mil hectares.

O irmão dele, Antônio Milhomen de Cerqueira, também tem propriedades na área. Ele é o dono de 5 fazendas (Canal III, Represinha, Canal, Canal IV e Santa Maria), que, juntas, somam 1 mil hectares.

O prefeito de São Félix do Araguaia, Filemon Limoeiro, candidato derrotado à reeleição em 2012, tem duas fazendas na reserva indígena – Aripuanã e Estância Saraiva e Rancho. Somadas, têm 565 hectares. À Justiça Eleitoral, ele declarou patrimônio de R$ 682,7 mil. Ele foi um dos que participaram de uma reunião, em 1992, que teve o objetivo de "planejar" a ocupação da área, que eles sabiam ser indígena. Leia mais AQUI.

Além de políticos, o nome de um membro do Poder Judiciário de Mato Grosso consta da lista de donos de terras na região. O desembargador Manoel Ornellas de Almeida, do Tribunal de Justiça do Estado, é apontado como suposto dono da Fazenda São Francisco de Assis, com 886,8 hectares.

Vereadores e ex-vereadores


O ex-vereador por Alto Taquari, Admilson Luiz de Rezende, tem as fazendas Boa Vista I e Bela Vista II. Juntas, as duas propriedades somam 1,9 mil hectares.

A segunda maior propriedade da região, a fazenda Conquista, tem 4 mil hectares e pertence ao vereador por Rondonópolis, Mohamad Khalil Kaher (que tem patrimônio declarado à Justiça Eleitoral de R$ 390.654), e ao produtor rural Claudimir Guareschi.

O também ex-vereador por Alto Boa Vista, Raimundo Carlos Alves Coimbra, é dono da fazenda São Raimundo, de 122 hectares.

Produtores rurais

Os grandes produtores rurais detém os maiores hectares de terra de Marãiwatsédé.

Entre eles, está Gilberto Luiz de Rezende, o ‘Gilbertão’, apontado com o responsável pela entrada dos posseiros na reserva indígena. Sua fazenda, a Guanabara, tem 2,6 mil hectares.

Confira abaixo a lista com os nomes de outros produtores, segundo o MPF:

Antônio Penasso - Fazenda Colombo, 3,7 mil hectares
Naves José Bispo, morador de Goiânia (GO) - Fazenda Vida Nova, 1 mil hectares.
Nair Iris Bispo Alves - Fazenda Trianeira, 968 hectares
Sebastião Ferreira Prado - Fazenda Cristo Rei, 1,2 mil hectares
Sebastião Ferreira Mendes - Fazenda Riacho Bonito, 2,4 mil hectares
José Donizete Boldrin - Fazenda Chave de Ouro, 3,6 mil hectares
Elvira Coelho Coutinho - Fazenda Alto Alegre, 1,1 mil hectares
Joaquim Leopoldino de Freitas - Fazenda independência, 1,5 mil hectares
José Borba de Castro - Fazenda Ribeirão da Cabaça, 1 mil hectares
Maximino Antônio Fedel - Fazenda Estrela, 1,1 mil hectares
Neivo Spigosso - Fazenda Santo Expedito, 1,3 mil hectares
Osmarir Luiz da Mota - Fazenda Araguaia, 1,8 mil hectares

Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).




Clique aqui e faça seu comentário


COMENTÁRIOS
4 Comentário(s).

COMENTE
Nome:
E-Mail:
Dados opcionais:
Comentário:
Marque "Não sou um robô:"
ATENÇÃO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. Comentários ofensivos, que violem a lei ou o direito de terceiros, serão vetados pelo moderador.

FECHAR

Lucinei  03.01.13 20h34
E as famílias que estão naquela areá e viviam com o pouco que tinham ou com o emprego em uma dessas fazendas agora vão fazer o que? Você gostaria de um oficial chegar na sua porta, dizer que você tem 4 horas para tirar seus pertences e ter que desmanchar sua casa que foi construida com suor e trabalho digno? Creio que não
1
0
KALIXTO GUIMARAES  02.01.13 08h40
KALIXTO GUIMARAES, seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas
alzite  01.01.13 16h46
AGORA A VERDADE, ACREDITO, VEIO À TONA.POR ISSO, HAVIA MUITOS URUBUS TENTANDO ANULAR O MANDATO DE DESOCUPAÇÃO. A PRESIDENTA ESTÁ CERTA,ESSES SANGUESSUNGAS DO POVO TEM QUE SAIR DA ÁREA NÃO LEVAR NADA PORQUE A TERRA NUNCA FOI DELES E ELES TEM DE IDENIZAR OS INDÍGENAS PELA EXPLORAÇÃO DESUMANA DA TERRA.
6
2
Aurelio Miguel  01.01.13 11h41
Agora entendi o porquê de tanto empenho e comoção dos nossos deputados estaduais. Tem gente até chorando na tribuna!
8
0