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DIA DE COMEMORAR
08.08.2021 | 08h05 Tamanho do texto A- A+

“Ser pai é ser herói”, diz Rei do Amendoim, que criou filhos só

Edson de Miranda teve uma vida de duras batalhas e desde dezembro do ano passado enfrenta mais uma

Arquivo pessoal

Rei do Amendoim ao lado dos filhos João e Samuel

Rei do Amendoim ao lado dos filhos João e Samuel

LIZ BRUNETTO
DA REDAÇÃO

Mais do que uma data comemorativa, para Edson de Miranda, de 44 anos, o Dia dos Pais representa o orgulho de uma trajetória. Conhecido como o “Rei do Amendoim”, ele passou por muitas adversidades para educar os dois filhos sem ter uma esposa ao lado. 

 

Criado pela avó, ele cresceu sem uma figura paterna. “Eu nunca tive pai e nunca soube o que é ganhar o abraço de um”, conta emocionado. 

 

Edson, no entanto, quebrou esse padrão de comportamento e decidiu fazer diferente, tornando-se um pai presente na vida dos filhos. Uma relação “boa” e de muita “compreensão”. 

Eu sempre falava pros meus filhos ‘a única riqueza que eu vou dar pra vocês é o estudo'

 

João Gabriel Souza Miranda, de 22 anos, e Samuel Souza Miranda, de 21, agora são dois adultos, homens criados e educados. E é justamente da educação que deu a eles que deixa esse pai mais orgulhoso. 

 

“Eu sempre falava pros meus filhos: ‘A única riqueza que eu vou dar pra vocês é o estudo''', relembra Edson sobre a realidade - diferente da sua - que vislumbrava para os dois. Ele, que fez até a oitava série do Ensino Fundamental, sempre teve a convicção de que conhecimento é o maior bem que alguém pode ter. 

 

O vendedor conta que passou por momentos difíceis durante a criação dos filhos. “Não foi fácil fazer os dois papéis: pai e mãe. É só pelo poder de Deus mesmo, viu”, recorda ele, que dividiu por temporadas a guarda deles com a ex.  

Arquivo pessoal

Rei do Amendoim - Edson de Miranda - com os filhos

Antes e depois de Edson e os filhos ao lado dos famosos amendoins

 

Uma das situações que mais o marcaram foi quando um de seus filhos lhe pediu pão e leite e, na ocasião, ele não tinha para dar. “Isso doeu muito em mim. É uma cena que eu lembro e quando fico muito focado, acabo chorando”, conta emocionado. “Não tem coisa pior na vida”. 

 

Apesar de toda dificuldade que esse trio tenha passado ao longo dos anos, Edson de Miranda fala com orgulho dos filhos. Um deles está prestes a se formar em Direito (concluirá os estudos no ano que vem) e o outro acabou de concluir o Ensino Médio. 

 

“O tempo passou tão rápido que não dá nem pra acreditar. Hoje eu olho pros meus filho, um de 21 e o outro de 22, e parece que foi ontem [que eles nasceram]”, relembra e diz com entusiasmo que ser um pai “é ser um herói”.

 

Trajetória

 

Gratidão! A palavra resume os sentimentos do Rei do Amendoim por quem fez parte da sua história. O mês de agosto, para ele, reúne muitas lembranças. Além de celebrar sua trajetória como pai, ele completou 38 anos vendendo seus deliciosos amendoins nas ruas de Cuiabá. 

Não foi fácil fazer os dois papéis que eu fiz: pai e mãe. É só pelo poder de Deus mesmo, viu

 

“Eu vi crianças nascerem e vi crianças crescerem também. Hoje são moças e rapazes. Outros pais e mães”. 

 

O termo caminhada faz também alusão à uma peculiaridade dessa história. Edson atravessava a cidade de uma ponta a outra. Com seus variados sabores e um sorriso estampado no rosto, ele alegra o dia dos seus clientes e amigos.

 

Esse percurso também foi percorrido pelos filhos dele, quando ainda eram crianças. “Os meus filhos saíam comigo na rua porque eu não tinha condições de pagar uma babá”, recorda. 

 

A trajetória de trabalho árduo feito com muita alegria e dedicação, ultimamente, tem apresentado percalços difíceis - mas não impossíveis - de serem superados. 

 

Para além da situação pandêmica, que se alastra ao longo de um ano e meio, o Rei do Amendoim se viu acometido por uma doença vascular nas pernas, que lhe causa inchaço e dores terríveis. “É uma dor insuportável, uma dor que eu não sei te explicar”, compartilha. 

 

Mas com um quase “grito de guerra” pacífico, ele prossegue: “Você tem que lutar sempre e desistir jamais”, diz crente na sua recuperação. 

Arquivo pessoal

Rei do Amendoim - Edson de Miranda

Edson percorre as ruas da cidade vendendo seu produto

 

“Estou confiante de que eu vou vencer essa batalha. Estou em boas mãos, que é a de Deus e das equipes médicas. Eu não me entreguei”, complementa. 

 

Um período de provações

 

A doença o arrebatou no meio de uma tarde de trabalho, mais precisamente no dia 22 de dezembro de 2020. Desde então, os vinte quilómetros realizados diariamente se tornaram 10, percorridos com muito custo. “Estou andando lentamente, ando e sento, ando e sento”. 

 

Sem auxílio algum do governo ele tem contado com o apoio de pessoas que sequer conhecia. Dentre os tantos nomes citados por Edson, encabeçam os agradecimentos o nome da Naira Melo, cirurgiã vascular, e Rafael Sodré de Aragão e Murilo Yokoo, indicados pela profissional. 

 

A equipe não tem cobrado nenhum centavo do vendedor pelo tratamento. As despesas que têm tido giram em torno de exames avançados para chegar a um diagnóstico preciso, assim como com as meias de alta compressão, trocadas mensalmente e as sandálias ortopédicas. 

 

A próxima visita de Edson aos consultórios médicos é no dia 11 de agosto, quando parte do seu destino será traçado. A partir dos exames, as equipes chegarão ao tratamento mais indicado para o seu caso. 

 

Uma das opções é a realização de uma cirurgia, bem próxima à região da coluna. A notícia, aliada às intensas dores provocadas pelo inchaço, têm tirado o sono de Edson. 

 

Apesar do medo, ele reforça que o tamanho da sua fé é muito maior: “Eu posso perder tudo, mas a minha fé não. Minha vida vai voltar a ser como era antes”. 

 

Esses possíveis tratamentos, no entanto, podem ser retardados, já que ele contraiu Covid-19 há cerca de dez dias. 

 

Sentimento para a vida toda

 

O que tem confortado o Rei do Amendoim nesses tempos tão difíceis, além é claro da sua fé, são as mensagens que recebe de amigos e pessoas próximas. 

 

“Eu vou levar pra sempre dentro do meu coração a palavra gratidão. Todo mundo está abraçando a minha causa e eu sei que eu não estou sozinho”, diz ele sem acreditar em todo o apoio que tem recebido: “A todos muito obrigado”, complementa. 

 

 

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Jefferson   08.08.21 16h43
Parabéns pela coragem e força de viver. Uma lição de vida!
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