Cuiabá, Terça-Feira, 19 de Agosto de 2025
SISTEMA FALIDO
18.11.2010 | 19h29 Tamanho do texto A- A+

Superlotação faz do Pascoal Ramos um barril de pólvora

MP constata superlotação, falta de água e de assistência médica, e recebe denúncia de torturas no local

Divulgação

Superlotação é um dos principais problemas do Pascoal Ramos; presos denunciam prática de tortura

Superlotação é um dos principais problemas do Pascoal Ramos; presos denunciam prática de tortura

ANTONIELLE COSTA
DA REDAÇÃO

Integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e representantes do MP de Mato Grosso constataram, durante visita nesta quinta-feira (18), uma série de irregularidades na Penitenciária Pascoal Ramos, em Cuiabá.

A unidade, que é a maior do Estado e tem capacidade para 700 presos, abriga hoje 1.800 detentos, entre provisórios e condenados. Uma cela de 15 metros quadrados que, conforme estabelece a Lei de Execução Penal, seria indicada para, no máximo, três pessoas, é ocupada por 25 presos.

O membro CNMP, Mário Luiz Bosaglia, avaliou que o problema do Sistema Prisional no Estado é decorrente da falta de empenho do Poder Executivo em construir unidades prisionais e estruturar o setor.

Bosaglia participou da vistoria, dando início ao "Mutirão Carcerário", que vem sendo desenvolvido em todo Brasil pelo Conselho Nacional de Justiça, em parceria com o CNMP. Participaram ainda da visita a conselheira Maria Ester Tavares, o procurador-geral de Justiça de Mato Grosso, Marcelo Ferra, e promotores do Núcleo de Execuções Penais do Estado.

Quadro caótico

De acordo com Bosaglia, o sistema carcerário em Mato Grosso não diverge do restante do país. Dessa forma, encontrou no Pascoal Ramos situações que, segundo ele, são típicas do quadro "caótico" em que se encontra sistema prisional no Brasil.

"O que vimos hoje evidencia as mazelas existentes no sistema. Em termos estruturais, o que nos chamou atenção foi a inexistência de um estabelecimento prisional que abrigue presos em regime semiaberto. Sem a unidade, os presos que conseguem regressão de pena não são reintegrados à sociedade. Falta empenho do Estado, especialmente das autoridades executivas, em construir o presídio", afirmou, em entrevista coletiva, na sede do Ministério Público Estadual.

Dos 1.800 presos da Penitenciária Central, 867 são provisórios, que respondem a processo e não têm condenação definitiva. Segundo Bosaglia, no presídio, há celas de 15m² com 25 presos, enquanto a Lei de Execuções Penais prevê que cada detento deve ter um espaço de 7m².

A celas possuem apenas oito camas; dessa forma, as pessoas são obrigadas a dividir o colchão e, muitas vezes, dormir no banheiro.

"Isto é uma situação intolerável. A separação de presos definitivos e provisórios é recomendação básica. Não se mistura preso provisório que responde processo, onde prevalece a presunção de inocência. Não há separação de presos que cometerem crimes mais graves, com os de menos gravidade", afirmou o conselheiro.

Situação intolerável

Ainda na questão estrutura, Mário Bosaglia citou a escassez de água no Pascoal Ramos, estando disponível apenas algumas horas do dia, fator que dificulta a higiene dos presos e um problema que, segundo ele, é "inaceitável". Além disso, destacou que o atendimento médico é feito de forma reduzida.

"A assistência médica é raríssima, para não dizer que não existe. Presenciamos, na unidade, presos mostrando suas mazelas físicas, problemas de saúde e dizendo que não têm atendimento médico. Presos com ferimentos antigos e com doenças, estando simplesmente esquecidos. Isso também é intolerável", disse.

Bosaglia observou, também, que falta assistência jurídica aos detentos, sendo insuficiente o atendimento feito pela Defensoria Pública do Estado. Para finalizar, ele citou que ouviu relatos de tortura praticada por agentes carcerários contra os presos e destacou que o Ministério Público vai investigar o caso.

Radiografia

No mês de janeiro de 2011, membros do Conselho Nacional do Ministério Público, em parceria com o Conselho Nacional de Justiça, farão visitas a unidades prisionais de todo país, levantando informações da situação processual dos presos e da estrutura dos presídios, visando a um raio-X do sistema.

A radiografia será feita com base em dois questionários formulados pelo CNMP, com pontos específicos a serem questionados. Após o trabalho, serão sugeridas as medidas a serem adotadas, para que o problema seja solucionado.

Segundo o conselheiro, as soluções dos problemas passam por verbas orçamentárias; dessa forma, precisa de um empenho por parte do Poder Executivo e Legislativo.

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carlota joaquina  19.11.10 10h53
Infelizmente a superlotação é um problema nacional.São muitas as causas,dentre elas o atual código penal,a lentidão da nossa justiça e a inépcia governamental.Precisamos em MT de um Patronato para os egressos do sistema e assim tratarmos da ressocialização do reeducando. Necessitamos também de capacitação continuada dos agentes prisionais bem como salários dignos.Nossos melhores agentes é que deveriam ser os diretores das unidades prisionais. A sociedade também deve entender que a ressocialização é importante porque um dia o reeducando vai ganhar a liberdade,vai cumprir sua pena,e aí perguntamos se o queremos melhor ou pior de quando entrou.
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Roberval  19.11.10 10h31
Só acho que, se cometeu crime que pague, mas em local adequado...imagina eles vão pagar o crime que cometeu nesse local e depois vão pra Rua novamente e dai sera que volta pra Rua tranquilo??????
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ojedaelson  19.11.10 09h29
querem hotel cinco estrlas? deviam pensar nisso antes de achar que o crime compensa. como visto o sitema prisional não é nenhum parque de diversão e tão pouco tão maravilhoso como alguns insistem em apregoar na midia.
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Carlos George de Carvalho Davim  19.11.10 09h25
Pronto, descobriram a roda. O Estado não consegue nem cuidar das Pessoas que estão "livres", imagine tratar bem pessoas que cometem crimes.
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othmar thomaz ility  18.11.10 23h50
Depois falam que não existem Campos de Concentração no Brasil nem pena de morte, rss... Falam mal de Guantánamo, do Holocausto Nazista, de Stalin, do Mao Tse Tung,...Estamos no mesmo caminho. Cadê o Ministério Público e o Poder Judiciário do Estado? Como se chega a este ponto?
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