A Vigilância Sanitária de Cuiabá interditou na tarde desta quinta-feira (2), a Esthetic Center Clínica Médica Ltda., de propriedade do médico Silas Vicente Barbosa Júnior, situada no bairro Duque de Caxias, em Cuiabá.
Entre as irregularidades encontradas, e que constam do relatório oficial da Vigilância, o que mais chamou a atenção é que o médico Silas Barbosa não teria autorização legal para executar procedimentos cirúrgicos na área da estética, muito menos para aplicar anestesias. “Ele realiza procedimentos que não são de sua competência”, diz trecho do documento. Silas é conhecido como 'o cirurgião das misses", pelo fato de ter atendido modelos em MT.
A clínica de estética, ainda conforme o relatório, “não tem responsável técnico [ certificado pelo Conselho Regional de Medicina]; o centro cirúrgico não tem foco [ iluminação adequada] e encontramos medicamentos vencidos”.
O Ministério Público Estadual (MPE) incumbiu a Vigilância Sanitária municipal de verificar in loco, a procedência ou não do conteúdo da denúncia.
“Recebemos essa denúncia do MP e fomos lá, fizemos a inspeção, verificamos as irregularidades e colocamos isso num relatório e enviamos ao Ministério Público que, depois, pediu mais detalhes sobre a clínica. Então voltamos lá 20 dias depois e aí, confirmamos tudo, inclusive com fotos e somente nessa segunda vez é que ele [Silas Barbosa] estava lá e não nos pareceu muito preocupado com as irregularidades que encontramos. Ele nos mostrou um documento, uma espécie de termo que ele havia firmado com o CRM e que tinha validade de 30 dias, que seria o prazo para que ele se regularizasse, mas esse prazo já venceu faz tempo”, disse a técnica da Vigilância Sanitária, Raquel Reis, ao RepórterMT.
Ela ainda prestou depoimento ao MPE onde deu detalhes da inspeção, onde também reforçou que “o médico proprietário, Silas Vicente Barbosa , realizava procedimentos cirúrgicos na clínica, dentre os quais ficou comprovado pelos prontuários existentes, de mamoplastia e abdominoplastia que são cirurgias altamente invasivas e de considerável risco ao paciente...”.
Raquel declarou que “o próprio médico afirmou que é ele próprio [Silas] quem aplica a anestesia em seus pacientes e nas dependências da clínica foram encontrados medicamentos para anestesia peridural e geral em embalagens fechadas e, "muito embora realize procedimentos cirúrgicos de alto risco, o profissional não dispõe nem mesmo de estrutura para transportar o paciente, caso surjam eventuais intercorrências...”.
Além da cópia deste depoimento RepórterMT também conseguiu com exclusividade a Análise de Licença Sanitária, da coordenadoria de Vigilância Sanitária de Cuiabá.
Conforme esse documento, o médico Silas Barbosa deveria ter alterado sua atividade profissional para “Atividades de Atendimento Hospitalar, Exceto Pronto-Socorro e Unidades para Atendimento a Urgências...”
O RepórterMT foi até a Esthetic Center, depois da interdição feita pela Vigilância Sanitária, com o objetivo de ouvir o médico Silas Vicente Barbosa Júnior, mas segundo uma funcionária da clínica, que se diz ser gerente e se identificou como “Cléia”, ele não está em Cuiabá e que só retorna na próxima quinta-feira , dia 09.
Questionada sobre a interdição, as irregularidades, e se a clínica, ainda assim, estava trabalhando normalmente, “Cléia” apenas se limitou a alegar que “somente ele [Silas] teria autoridade para passar todas essas informações”. A funcionária, que afirmou ser gerente da clínica, alegou ser estudante do 9º semestre de Direito e se recusou a passar o telefone celular ou qualquer outro contato do médico, tentando intimidar, ainda, a reportagem do site.
RepórterMT falou com o presidente do CRM-MT, Gabriel Felsky. Ele informou que, uma lei médica de 1957 estabelece que um médico assim que se forma, pode atuar em qualquer área, mas jamais um médico poderia acumular as funções de cirurgião e anestesista ao mesmo tempo. "Tem que haver dois profissionais durante o procedimento operatório", argumentou. O presidente do CRM informou que será aberta uma sindicância para apurar se as informações da Vigilância procedem. "Se tiver [veracidade] será aberto Processo Ético Profissional, que pode acarretar na cassação do profissional. "
Segundo Felsky, o médico não pode fazer procedimento cirúrgico em local inadequado e esse é outro ponto que será examinado pelo CRM. "Nós fizemos a visita à clínica e pedimos que fosse feita a inscrição no Conselho; nós vímos que tinha um monte de irregularidades e demos prazo de 8 dias para que ele resolva; lá não é hospital e não é permitido fazer cirurgias".
Outro lado O médico Silas Barbosa entrou em contato nesta sexta (03) com o RepórterMT e negou as acusações.
Ele afirma ter documentos que comprovariam sua inocência e disse se tratar de perseguição, já que estaria "incomodando" muita gente.
Quanto ao seu alvará, o médico disse que não saiu porque seu contrato de aluguel ainda não foi renovado.