A menos de dois meses de assumir o Palácio Alencastro, o prefeito eleito Abílio Brunini (PL) chamou a atenção ao denunciar um suposto envolvimento do crime organizado com a eleição da Mesa Diretora da Câmara de Cuiabá.
Em entrevista ao MidiaNews, na sexta-feira (8), o prefeito eleito justificou suas declarações e defendeu uma relação “transparente, lícita e correta” com o Legislativo, sem "faca no pescoço".
“Meu desejo é que a Câmara escolha de forma livre, sem pressão, sem coação de ninguém, com a liberdade, os melhores representantes deles para compor a Mesa Diretora”, disse.
“O que não posso é ficar de braços cruzados, assistindo uma organização criminosa, ou outro grupo político com interesses escusos, assumir o comando da Câmara e depois ficar com a faca no pescoço, tentando conseguir alguma coisa na Prefeitura”, afirmou.
Na entrevista, Abilio afirmou que sua principal preocupação são as dívidas da área da Saúde. Ele ainda deu detalhes sobre mudanças nas secretarias, possíveis medidas do atual prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) que podem atrapalhar sua gestão e primeiros atos após a posse, como revogação da Taxa do Lixo.
Confira principais trechos (e a íntegra em vídeo, abaixo da entrevista):
MidiaNews - Qual vai ser o seu primeiro ato de gestão quando pisar no Alencastro no dia 1º de janeiro?
Abilio Brunini - Os primeiros atos são dados agora. A gente já está escolhendo o secretariado, está colocando uma equipe de transição técnica e todo secretariado será uma equipe técnica. A Prefeitura tem múltiplas frentes de trabalho. Agora, estamos muito focados na questão da Saúde, que a gente precisa resolver, e na questão da infraestrutura urbana. Precisamos resolver muitos problemas e, ao mesmo tempo, destravar, desburocratizar a cidade.
Um dos primeiros atos acontecem no sentido organizacional, porque a gente só vai poder ter ato de revogação de leis, no dia 2 de fevereiro, quando a Câmara retorna às atividades. Neste dia, mandarei para a Câmara o projeto de revogação da Taxa do Lixo.
MidiaNews - O senhor, ao que consta, vai assumir uma verdadeira "terra arrasada", com um rombo histórico no caixa. O que pretende fazer - concretamente - no primeiro ano de gestão?
Abilio Brunini - Estou tendo informações de números e, agora, tendo acesso aos dados da Saúde, e isso está me preocupando muito. O Hospital São Benedito e o Hospital Municipal de Cuiabá, que estão dentro da Empresa Cuiabana de Saúde Pública, têm um rombo muito grande. Estou muito preocupado com a situação da Empresa Cuiabana, também estamos preocupados com as dívidas da Saúde. A última vez que vi passava de R$ 350 milhões em dívidas, só na Saúde.
Essas dívidas são dívidas de curto prazo, que têm que ser quitadas para a Saúde não parar. E a gente já está vendo a Saúde parar, está entrando em colapso. As cirurgias eletivas que ocorriam em torno de 400 ao mês, agora já estão na casa de 40. A Saúde está entrando em colapso e isso é muito preocupante.
MidiaNews – E essa dívida é com empresas, fornecedores?
Abilio Brunini - Com médicos, com hospitais, com fornecedores, com materiais, com a credibilidade de compra de licitação. A gente vai ter grandes problemas. Só para você ter noção, os médicos da urgência e emergência do HMC estão reclamando de pagamento. Profissionais da área eletro do HMC estão reclamando de pagamento. Não está se pagando o direito trabalhista dessa pessoa junto ao INSS.
Nós temos pessoas reclamando, por exemplo, do Hospital Santa Helena, que é um dos hospitais que recebem da Prefeitura por meio de uma pactuação e que está com recursos em atraso.
MidiaNews - O senhor iniciou um embate com a Câmara por conta da eleição da Mesa Diretora. Não teme que pode prejudicar a relação do Legislativo com o Executivo já no primeiro ano?
Abilio Brunini - Não temo. Entenda bem: o que prejudica a relação do Legislativo com o Executivo é quando a relação é corrupta. Isso é o que prejudica. Uma relação que seja transparente, lícita e correta, não traz um prejuízo de relacionamento, e sim um fruto muito melhor, que é o desempenho voltado às coisas públicas.
Eu não posso ter uma relação com a Câmara baseada em esquema de corrupção ou coação. Da mesma forma que a Câmara não é subserviente ao Executivo, o Executivo também não pode ser subserviente. Existe a necessidade de que ambos, de forma independente, trabalhem juntos.
MidiaNews - O senhor chegou a falar que não iria permitir que a Mesa Diretora fosse ocupada por parlamentares que têm ligação com uma facção. Como é isso?
Abilio Brunini – Estamos passando por um momento complicado sobre a Câmara Municipal. Só para você ter noção, o chefe de cerimonial foi preso na operação junto com o vereador Paulo Henrique [Operação Ragnatella, deflagrada em junho].
Existiu agora uma expansão dessa operação. Tinham envolvimento com líderes do Comando Vermelho, inclusive com o bar Dallas. Essa operação vai desencadeando uma série de ações. E a gente tem percebido que existe outras articulações.
Eu já passei essas informações para um delegado, por se tratar de pessoas politicamente expostas, as informações correm em sigilo, não posso citar os nomes. Eu já passei os dados, disse quem são as pessoas envolvidas, quais são os vereadores, quais são as atividades envolvidas, para que haja a investigação correta e a gente possa lidar com isso.
MidiaNews - Há provas a esse respeito, conversas ou ligações?
Abilio Brunini - Há provas de que existe um processo em andamento. Alguns vereadores me delataram essa informação, não posso citá-los também. Muita gente: “Ah, mas fica falando, cadê a prova? Cabe ao acusador o ônus da prova”. Por isso a gente está tendo cuidado em acusar.
Quando estive na inauguração de cinco delegacias da Polícia Civil de Cuiabá, deixei claro algumas coisas. Eu falei que, parece, que um dos envolvidos nessa operação do Dallas estaria sendo um dos articuladores desse processo. A gente já passou esses provas, os dados, e vamos ver o que vai dar.
MidiaNews - Nesse evento o governador Mauro Mendes sinalizou uma preocupação, dizendo que estaria ao seu lado, e pedindo investigação.
Abilio Brunini – O meu desejo é que a Câmara escolha, de forma livre, sem pressão, sem coação de ninguém, com a liberdade, os melhores representantes deles para compor a Mesa Diretora.
Se vai ser fulano, ciclano, se é a pessoa que eu estou sugerindo, se vai ser outro, a decisão é deles. Agora, o que não posso é ficar de braços cruzados, assistindo uma organização criminosa, ou outro grupo político com interesses escusos, assumir a liderança na Câmara e depois ficar com a faca no pescoço tentando conseguir alguma coisa na Prefeitura.
Entenda bem: o Legislativo vai ter um poder muito grande sobre o Executivo. Todas as nossas pautas, recursos, condições, projetos passam pela Câmara para ser aprovados. Nossa mudança até mesmo na estrutura do secretariado, no caso de alteração do lotacionograma, vai passar pela Câmara para ser aprovada. O Orçamento que a gente vai pedir revisão vai passar pela Câmara para ser aprovado.
Se a gente tiver uma Câmara que tiver o “pé na porta”, que atrapalhe, que pede uma troca de interesses... E, de repente, o presidente da Câmara estiver envolvido em alguma facção criminosa pedindo pra gente fazer coisas que a gente não quer, a gente não vai fazer. Então, a gente se preocupa.
MidiaNews – É uma questão de governabilidade?
Abilio Brunini - Não é só governabilidade. Porque a governabilidade tem que ser respeitosa. O Emanuel tem governabilidade e olha as circunstâncias que são as coisas. Tem um vereador preso, porque conseguiu fraudar um esquema dentro da Secretaria de Ordem Pública, que deveria ser uma secretaria superprotegida, segura. E não é.
Mas o Emanuel tem governabilidade. Ele aprova os projetos dele, aprova o empréstimo, aprova a taxa do lixo... E por isso não é só governabilidade, é a forma como a gente vai ter governabilidade.
A gente não quer ter governabilidade a troco de uma negociata que traz prejuízo à população.
MidiaNews - Como a Samantha Iris, sua esposa e vereadora eleita com mais votos em Cuiabá, está acompanhando essas articulações?
Abilio Brunini - A Samantha tem uma percepção muito boa, é muito crítica, é muito observadora. Ela sabe ler muito bem as pessoas e as coisas como são, e tem me dado vários apontamentos. Dizendo: "Não perde tempo fazendo isso daí não, que não vai adiantar, porque o caminho desse é diferente do nosso".
Ela tem essa visão. E acho que as mulheres têm essa facilidade de ler as pessoas, de entender, e isso tem ajudado bastante. E é justamente por causa dessa leitura dela que a gente tem feito mudanças importantes.
MidiaNews – Quais?
Abilio Brunini – O nosso secretariado tem um número significativo de mulheres e isso é influência da Samantha. É a influência da tenente-coronel Vânia [vice-prefeita eleita], no sentido de falar: “Vamos dar uma oportunidade para as mulheres. Vamos mostrar que elas são muito capazes e muito preparadas”. E a gente faz um secretariado técnico e não é um secretariado político.
Cada pessoa que a gente coloca, observa todas as qualidades para dar o espaço. Não é só uma questão de gênero, é uma questão de capacidade. Temos escolhido as mulheres para estimular a participação da mulher política.
A gente entende que essa mudança conceitual é importante para servir de exemplo. Imagina aquela criancinha que está na 4ª série e vê uma secretária forte fazendo um trabalho legal, ela falará: “Eu quero ser uma secretária”. Quando ver uma vereadora forte fazendo um trabalho legal, ela vai dizer: “Eu quero ser uma vereadora”. Porque as crianças se inspiram em super personagens e super-heroínas.
E até mesmo quando a gente sugeriu a Câmara Municipal que tivesse cinco mulheres na presidência, seria até para apagar um pouco essa pecha de "Casa dos Horrores".
Os homens precisam entender que por muitas vezes a Mesa Diretora foi 100% masculina, e ninguém nunca falou nada. Agora que se discute a possibilidade de ser 100% feminina, alguém fala: “Mas por que 100% mulher?”.
Nós temos hoje na Câmara Municipal alguns fatos históricos. A Samantha foi a mulher mais bem votada da história da Câmara, além disso foi a mais bem votada entre homens e mulheres.
É a primeira vez na história que tem oito mulheres na Câmara e elas são muito diferentes. Elas representam várias partes da sociedade. Se você pegar o perfil da Katiuscia, por exemplo, é um perfil muito diferente da Samantha, da Maysa Leão.
MidiaNews – E isso tem refletido na mudança de conceito do secretariado?
Abilio Brunini – A gente sugeriu a tenente-coronel da PM Hadassah Suzannah como secretária da Mulher. Alguém citou que ela nunca trabalhou na Maria da Penha, por exemplo, e tem pessoas que acham que a secretária da Mulher deveria ser alguém que trabalhou na Maria da Penha. Mas, não. A gente tem que mudar o conceito da coisa.
Nós não queremos uma secretária da Mulher que fique falando só da violência contra a mulher, é preciso fala da violência, mas é preciso também promover a mulher, falar das qualidades, das coisas boas, das atividades que ela é capaz, falar da participação dela em diversos setores. Falar das mulheres como líderes da sociedade. A secretaria tem que ser mais expansiva nisso.
E nessa mudança de conceito, a gente começou a discutir com a Hadassah de como ela fez coisas incríveis no 3º Batalhão em que ela comandou.
MidiaNews – E sobre o secretariado, pode nos adiantar algum nome? Já tem mais algum nome definido?
Abilio Brunini – Tenho quatro ou cinco nomes definidos. Só estou analisando perfil, para que a gente possa tomar uma decisão.
MidiaNews - O quadro todo, o senhor pretende fechar até quando?
Abilio Brunini – Estamos revisitando o conceito das secretarias. Então, não se trata apenas de dar nome aos secretários. Por exemplo, a gente está na dúvida se a gente divide ou não a Secretaria de Ordem Pública.
A Secretaria de Ordem Pública é a que contempla a fiscalização, a Polícia Militar, e o Procon. E a dúvida é: crio uma Secretaria de Segurança voltada com a Polícia Militar, Vigilância Patrimonial e a Guarda Municipal que a gente vai fazer o concurso, e crio uma Secretaria de Fiscalização separada. Porque, eu acho, que essas atividades não são muito conjuntas.
Tenho dúvidas se os fiscais da Prefeitura que fiscalizam empreendimentos, obras públicas, obras privadas, atividades comerciais, se essas atividades elas se complementam com a segurança. Provavelmente eu desmembre essa secretaria.
Ao mesmo tempo que em outra secretaria estou fazendo uma conjugação, que é o caso das secretárias de Planejamento, de Fazenda e de Gestão e crie a Secretaria de Gestão Pública.
MidiaNews - Mas aí você não cria um supersecretário?
Abilio Brunini - Alguns serão supersecretários. O que ocorre? A ausência de uma comunicação eficiente entre as secretarias está trazendo prejuízo aos cofres públicos. Por exemplo, a Gestão é onde faz licitação, contratação de pessoal, e a Fazenda é a que faz a arrecadação, o Planejamento é o que faz a despesa.
E hoje, na gestão do Emanuel, esses secretários praticamente não se comunicam. Então, tem uma previsão de receita que não está sendo compatível com a previsão de despesa.
A gente, possivelmente, terá um supersecretário para isso, adjuntos bem qualificados que vão ajudar a distribuir essas atividades respeitando a decisão do secretário.
MidiaNews - O governador Mauro Mendes sempre diz que nomeia o secretário e o deixa livre para formar sua equipe. O senhor dará essa liberdade aos seus secretários?
Abilio Brunini - Eu nomeei o secretário, sento com ele e a gente discute os nomes juntos. Porque estamos montando uma equipe técnica. Claro que existe participação política também. Porque não conheço todos os técnicos e os políticos ajudam a gente a identificar quais são os melhores técnicos para estar lá. Mas ele tem que ser compatível com a atividade.
Eu, realmente, tenho sentado com os vereadores eleitos, deputados, e pergunto: o que vocês acham do fulano de tal nessa área? E a gente vai trocando ideias. Estou conversando com os servidores, com outras pessoas, para avaliar os perfis.
MidiaNews – E sobre esse secretário de Fazenda, Gestão e Planejamento, o senhor já tem o nome em mente?
Abilio Brunini - Já tenho um perfil, já tenho um nome, só não divulguei ainda.
MidiaNews – E para Educação?
Abilio Brunini - Vai ser a última anunciada. Será uma mulher, professora, mas não sei o nome ainda. Estamos com sete currículos e estamos avaliando. A nossa questão não é só se são bons os currículos ou não. A gente está conversando com outros servidores para saber qual a opinião deles.
Há divergência? Eu quero uma secretária na Educação que tenha um bom relacionamento com os servidores. Porque existia uma rixa quase ideológica. Muitos servidores de educação fizeram campanha pro Lúdio Cabral e eles podem achar que vou entrar, que vai ter conflito, e não é isso que eu quero.
Eu quero uma pessoa que seja muito bem respeitada por esses servidores e que entenda a ponta, saiba a experiência da escola.
A doutora Lúcia Helena na Saúde foi muito bem aceita. A maioria dos profissionais da saúde que conversou com a gente, médicos e outros, gostaram bastante da escolha.
MidiaNews - Na saúde, tem-se a questão da Empresa Cuiabana de Saúde.
Abilio Brunini - Eu recebi a informação de que o Emanuel gostaria de decretar um tipo de falência da Empresa Cuiabá e estaria organizando um possível fechamento do São Benedito. Não sei se é verdade, são servidores de dentro da Prefeitura que me passaram esses dados.
MidiaNews - Mas há tempo hábil para decretar a falência?
Abilio Brunini - É um processo arriscado, não sei se é uma estratégia certa. Mas a Empresa Cuiabana não está funcionando de forma adequada e tem uma dívida grande. Ela tem no planejamento uma despesa de R$ 30 milhões por mês e tem uma receita planejada de R$ 25 milhões, ou seja, um déficit de R$ 5 milhões.
MidiaNews - A empresa pública foi criada pelo Mauro Mendes com a justificativa de fazer uma compra mais célere para Saúde. Ela não seria fundamental, em especial, nos primeiros meses da sua gestão?
Abilio Brunini - Não seria. Vamos fazer um processo para simplificá-la, para que a gente possa passar para a Secretaria de Saúde essas atividades para combater a corrupção que está acontecendo lá dentro. A corrupção dentro da Empresa Cuiabana é um das maiores da história de Cuiabá em qualquer das áreas.
MidiaNews – Mas há ideia de extingui-la?
Abilio Brunini – Eu penso que a gente pode estudar essa ideia de extinção ou não, mas aproveitaremos os servidores que trabalham lá e o melhor do que tem nela, tirar dela essas competências que acabam criando uma série de disparidade entre a Empresa Cuiabana e a Secretaria de Saúde.
Contudo, não é tão simples, existe a habilitação do Ministério da Saúde, não é uma coisa que você faz assim e resolve. É preciso ser estudado. Mas a informação que tenho é que o Emanuel faça a extinção antes de eu assumir. Não sei se fará, mas ouvi esse boato.
MidiaNews – Se não for extinto, o senhor já tem um nome para o diretor da Empresa Cuiabana?
Abilio Brunini - Diretora. Uma profissional de Saúde.
MidiaNews - O senhor já tem uma noção de quantos servidores comissionados estão contratados nesse momento na Prefeitura e quantos o senhor pretende exonerar quando tomar posse?
Abilio Brunini - A gente está levantando essas informações. O que posso alertar é que as contratações que estão sendo feitas nos últimos dois meses, estão sob risco de serem exoneradas.
Porque a gente recebeu informações de que a Prefeitura de Cuiabá estaria nomeando as pessoas a pedido de vereadores para que depois que a gente assumir a Prefeitura esses vereadores pedirem para a gente manter. Já que eles sabem que não vão conseguir pedir para a gente nomear, eles vão tentar pedir para manter.
Só que eu já antecipo: essas contratações que foram feitas do período eleitoral para cá, estão sob risco de serem exoneradas, a não ser que haja extrema necessidade dessa pessoa estar no seu local de trabalho.
MidiaNews - O prefeito Emanuel teve sua gestão alvo de 23 operações policiais. Assim que assumir, o senhor pode encontrar esqueletos no Alencastro. Vai fazer uma devassa nas contas da Prefeitura?
Abilio Brunini – Nos temos dentro da Controladoria e Ouvidoria instrumentos para fazer investigação e vamos fortalecer esses instrumentos e vamos olhar para frente. Esses setores responsáveis pelo controle, auditoria e investigação sejam fortalecidos para fazer isso tanto no passado quanto no presente.
A gente também quer estimular uma boa economia, uma boa ação e fazer nossos projetos. Então, vamos olhar para frente, resolver os problemas daqui para frente os devidos setores responsáveis fazem o seu papel de olhar atrás e fazer as suas coisas por trás.
Eu recebi umas fotos, de que no dia da eleição, estavam tirando caixas e caixas de dentro da Prefeitura de Cuiabá. Eu estranhei. Por que estão tirando essas caixas de dentro da prefeitura? Ninguém não soube me justificar. Era no dia da eleição, a tarde.
Nós estamos sabendo que em alguns lugares já estão tirando coisas, mas vamos ver o que a gente achar. O que nós estamos enfrentando?
MidiaNews – A coisa pode estar mais feia do que se projeta, então?
Abilio Brunini - Sim. A Prefeitura está fazendo uma série de licitações nesse período. Não é o correto a se fazer, a não ser que fosse algo extremamente urgente para não trazer prejuízo à população.
Mas, a Prefeitura está fazendo licitações que a gente está tendo que entrar no Tribunal de Contas e pedindo para suspender. Tem licitação lá que é para 10 anos. Nos últimos dois meses de mandato, o cara está fazendo uma licitação para 10 anos? Não é emergencial, é uma licitação que deveria respeitar o próximo prefeito. Ele está tomando medidas que podem impactar o mandato do próximo prefeito.
Isso me preocupa, a gente vai ter uma reunião sobre esse tema e vamos levar essas situações que estão sendo levantadas pela equipe de transição.
Eu não esperava que a Prefeitura no termo de mandato tivesse fazendo atitudes como essa, mas...
MidiaNews – Você espera sentar-se à mesa com o Emanuel em algum momento?
Abilio Brunini - Eu acredito que é necessário, independente de rixa política. Antes mesmo da posse, vou ter que ir lá sentar e conversar com ele. Mas eu vou sentar com os dados primeiro. Quero chegar lá e falar: “Pô, cara, você vai fazer isso aqui agora? Vou ter que entrar na Justiça mais uma vez?”.
Espero que ele mude a sua postura nos últimos dias, reveja sua postura, porque não é bom, ele já está saindo da Prefeitura. Agora, criar dificuldade para gente ter que ficar judicializando contratos, não é bom.
E isso me faz pensar também na Procuradoria do Município, porque o procurador tem o papel de informar ao prefeito que durante esse período não deve seguir esses procedimentos. Tenho que conversar com o procurador em exercício, porque são os servidores de carreira, e falar: “Poxa, procurador, você está orientando o prefeito? Ele está desrespeitando cada servidor Procuradoria?”
Por que se sabe que não é recomendado que se faça isso, ele está fazendo por quê?
Se eles estiverem fazendo a recomendação e o prefeito estiver fazendo de própria vontade aí é outra história, agora se esses caras também não estão ajudando... Porque não tem como fazer licitação sozinho né? Imagino que existe uma rede de pessoas que estão subsidiando esse posicionamento.
MidiaNews – Além da Saúde, um dos problemas da cidade é a manutenção das ruas, com buracos por todas as regiões. De que modo o senhor pretende resolver isso? O senhor chegou a ir à Assembleia Legislativa tentar articular emendas, como foi essa conversa?
Abilio Brunini – Na campanha do Eduardo Botelho houve a sugestão de que os deputados dessem R$ 5 milhões em emendas para solucionar o problema de pavimentação, e eu achei uma boa proposta. Então fui para conversar com todos.
Tem até um vídeo que o Botelho aparece rindo conversando comigo. E sou eu falando: “Pô, Botelho, sua proposta é muito boa, quero que você me ajude”. E ele deu risada.
MidiaNews - Tem uma foto também do senhor com o Lúdio. Jogo zerado?
Abilio Brunini - É o meu papel institucional. Eu sou o prefeito eleito, tenho que falar com eles. Cheguei para o Lúdio e falei: “Tem pautas caras e importantes. Você falou de recursos que quer destinar à Saúde de Cuiabá. Venho até você para dizer que, independente das nossas diferenças ideológicas, você é um deputado eleito e teve uma votação muito significativa no segundo turno, não vamos deixar essa população desassistida. Mande suas emendas, vamos aplicar em Cuiabá e vamos dar o seu crédito, não tem problema nenhum. Você mandou a emenda para cá e eu executei suas emendas”.
Não é que zera o jogo. Futuramente, ele pode disputar a eleição novamente contra mim, mas acredito que é respeitar o eleitor dele, isso é importante, é respeitar a representatividade dele na Assembleia como deputado eleito...
MidiaNews – E sobre a pavimentação?
Abilio Brunini – Alguns deputados se comprometeram, nem todos se comprometeram com R$ 5 milhões, como estava sendo dito, alguns comprometeram R$ 2 milhões, alguns comprometeram mais.
Nós já iniciamos um bom diálogo com o Governo do Estado e eu vou falar que o Governo tem porta aberta para falar onde quer investir em infraestrutura. Nós vamos ajudar nesses investimentos.
Nós vamos abrir um relacionamento muito transparente e, de certa forma, até conectado da Saúde de Cuiabá com a Saúde do Estado.
Tivemos reunião com o Otaviano Pivetta, e dentro dessa reunião estava a Secretaria de Saúde, a Intervenção, o Governo. A gente já falou com o Ministério Público Estadual, vamos falar com o Tribunal de Contas do Estado, com o Poder Judiciário.
A ideia é que a Saúde de Cuiabá seja blindada por um serviço técnico, transparente e de quatro mãos. De todo mundo junto, em defesa da Saúde do Cuiabá. Eu acredito que nós não vamos fazer nenhum tipo de proteção de qualquer participação. Todos que quiserem participar, transparente, técnico e de forma para ajudar, será bem-vindo.
E eu acho que o Ministério Público teve um excelente papel em defesa da população nesse processo. O Poder Judiciário também teve um papel importante. A intervenção também teve um papel importante.
E eu gostaria que boa parte dos membros da intervenção venham a compor a Secretaria de Saúde. Eu penso que a experiência de quem passou por lá, num momento tão intenso, e inseguro... Porque eles sabiam que não poderiam fazer mudanças radicais, por que a intervenção duraria três meses ou 6 meses.
Então, eu defendo que muitos deles não conseguiram agir da forma que poderia agir. Agora, eu quero ver se eu trago boa parte da equipe da intervenção. Eles são muito competentes, se eles tiverem uma disponibilidade de tempo maior para a gente poder fazer e organizar uma participação acho que importante.
MidiaNews - Um dos "legados" da gestão Emanuel é a questão do estacionamento rotativo no Centro. O que pensa a respeito desse sistema? Seria uma espécie de caça-níqueis?
Abilio Brunini - A gente entende que é preciso ser revisto. A empresa já está reclamando de falta de repasses do município e ela não fez a parte dela, que seria a construção do Mercado Municipal. A gente vai pedir para a Procuradoria verificar qual os procedimentos podemos adotar.
Se não for passível de uma solução, a regularização desse contrato vai ser o principal caminho. Eu não posso afirmar se é a saída da empresa, se é a renegociação, se será a mudança do procedimento, porque eu preciso de uma opinião da Procuradoria, pois já se trata de uma licitação consolidada com acordo firmado. Mas o nosso desejo é mudar.
Veja entrevista completa:
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