Cuiabá, Sábado, 14 de Junho de 2025
SENADO; VÍDEO
10.04.2025 | 18h00 Tamanho do texto A- A+

"Mendes sempre apoiou Bolsonaro e acredito em aliança com PL"

Gisela quer o fortalecimento feminina na política e falou sobre Congresso e falhas da gestão Lula

Victor Ostetti/MidiaNews

A deputada federal Gisela Simona, que virá a reeleição no ano que vem

A deputada federal Gisela Simona, que virá a reeleição no ano que vem

CÍNTIA BORGES
DA REDAÇÃO

Presidente do União Brasil Cuiabá, a deputada federal Gisela Simona sinalizou ser possível uma aliança entre a sua sigla e o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, nas eleições de 2026. 

 

O alinhamento se daria por conta da proximidade do governador Mauro Mendes, candidato a uma vaga no Senado, com Bolsonaro. 

 

O Mauro sempre se manifesta e se posiciona como alguém da direita. Dentro desse contexto, acredito que é possível, sim, esse alinhamento

“O Mauro sempre se manifesta e se posiciona como alguém da direita. Dentro desse contexto, acredito que é possível, sim, esse alinhamento”, afirmou Gisela em entrevista ao MidiaNews.

 

No último mês, Mendes participou das duas manifestações convocadas pelo ex-presidente pedindo anistia aos condenados pela depredação na Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.

 

Apesar da possibilidade, Gisela pondera que o União ainda não tem uma posição oficial sobre alianças e que o momento ainda é de articulações individuais. Os rumos do partido só devem ser definidos com a definição mais clara do cenário eleitoral.

 

“O partido é diverso. Temos dentro da sigla pessoas que aprovam, que apoiam, outras que não. Não tivemos nenhuma reunião em termos de diretório da União Brasil para discutir a respeito disso”, disse.

 

Ao MidiaNews, Gisela ainda falou sobre o fortalecimento da participação feminina na política; temas centrais em debate no Congresso; apontou falhas de gestão Lula (PT); e falou sobre os projetos para o ano que vem.

 

 

Confira os principais trechos da entrevista (e a íntegra do vídeo abaixo da matéria):

 

MidiaNews – Tudo está caminhando para que o União aprove a federação com o PP. A senhora permanece no União Brasil? Como está vendo essa construção? 

 

Gisela Simona - Essa federação teve a possibilidade até de ser maior, com o Republicanos, o PP e União Brasil. Hoje, o Republicano já disse não. O PP está firme querendo a federação e o União Brasil ficou de dar essa resposta final, que acredito que deve acontecer nos próximos dias.  

 

Existem ainda alguns problemas regionais a serem resolvidos, porque em alguns estados da federação, o União e o PP são divergentes. Mas aqui em Mato Grosso, o PP e o União são partidos que já trabalham juntos.

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Gisela Simona

Presidente do União Brasil Cuiabá, Gisela Simona prevê que federação com PP poderá facilitar a montagem de chapa para deputado federal, mas dificultar as conversas quanto a deputados estaduais e nas eleições municipais

Pela decisão do partido, em tendo a federação, Mauro Mendes continua sendo o líder da federação aqui dentro do Estado. E no âmbito nacional, Mato Grosso fica nas mãos do Rueda, que é o presidente do União Brasil, então para nós, num primeiro momento, não teria muita interferência. 

 

Do ponto de vista da eleição federal, é até bom, facilita muito na montagem das chapas e tudo mais. Agora, no campo estadual e municipal já dá um 'bolo' maior. Porque são muitos estaduais do União Brasil e no PP nós temos o Paulo Araújo e acaba ficando mais difícil essa concorrência no âmbito dos deputados estaduais.

  

MidiaNews - O governador Mauro Mendes agora está sendo cotado para o Senado, e nos bastidores considerado candidatíssimo. Mas há um comentário que começou a circular essa semana de que ele poderia desistir e preferir terminar o mandato e fazer as entregas até o fim da sua gestão. Para senhora, qual seria o caminho mais interessante hoje?

 

Gisela Simona - Pra mim, ele é candidatíssimo ao Senado. É o nosso senador da República, é o que o grupo quer muito. Até porque não sair senador seria ficar um tempo afastado da política e sabemos o bom gestor que Mauro Mendes é, e o quanto ele pode contribuir com o País e continuar contribuindo com Mato Grosso. A nossa torcida aqui é que ele venha candidato a senador da República. 

 

MidiaNews – Há uma análise que diz que o governador está se alinhando mais com a direita bolsonarista. Ele esteve nessas duas manifestações pró-anistia. Esse alinhamento indica uma provável aliança com o PL em 2026?  

 

 

Pra mim, ele é candidatíssimo ao Senado. É o nosso senador da República, é o que o grupo quer muito

Gisela Simona – O Mauro, desde a última eleição, apoiou fortemente Bolsonaro em Mato Grosso.  Existe essa identidade com a direita. O Mauro sempre se manifesta e se posiciona como alguém da direita. Dentro desse contexto, acredito que é possível, sim, esse alinhamento. 

 

Mas o partido União Brasil é diverso. Temos dentro da sigla pessoas que aprovam, que apoiam, outras que não.  Não tivemos nenhuma reunião em termos de diretório da União Brasil para discutir a respeito disso.

 

Acredito que cada um está tentando, de alguma forma, viabilizar aquela parceria que mais seja atrativa até para avaliar o cenário como fica para 2026 e depois tomar a decisão. 

 

MidiaNews - A gente sabe que o eleitorado de Mato Grosso é predominantemente da direita.  Acha que essa aliança aumentaria as chances do grupo do governador continuar comandando Mato Grosso?

 

Gisela Simona - Acredito que sim, analisando a conjuntura do Estado e o resultado das eleições municipais, esse alinhamento com a direita hoje é o mais favorável ao partido.

 

MidiaNews - A senhora acredita que pode haver uma chapa ao Governo do Otaviano Pivetta com PL? Nos bastidores circula até o nome da primeira-dama de Cuiabá Samantha Iris como vice. Tem conhecimento disso?

 

Gisela Simona - Acredito que pode ter uma chapa que seja com o PL, mas é cedo para discutir nomes, porque existem, dentro do partido, lideranças que ainda não se posicionaram daquilo que vão fazer. 

 

Vamos colocar o exemplo do senador Jayme Campos, que é uma grande liderança de Mato Grosso, senador da República e pode tomar a decisão de vir candidato ao Governo ou pode vir à reeleição ao Senado. Nós não sabemos. 

 

Nós temos internamente nomes importantes que a gente precisa avaliar para entender como fica o cenário. Como diz o cuiabano: muita água vai correr debaixo dessa ponte.

 

Nós temos internamente nomes importantes que a gente precisa avaliar para entender como fica o cenário

MidiaNews – O Jayme já disse que pode vir candidato a qualquer cargo, e “está queimando gasolina azul”.  Acha que realmente ele pode vir a ser candidato ao Governo ou está blefando, tentando ganhar espaço dentro do partido? 

 

Gisela Simona - Ele pode vir, como ele mesmo já falou. Ele ainda está novo, está com sangue azul, com vontade de continuar na política. Uma pessoa muito articulada, nunca perdeu nenhuma eleição que disputou. Eu não duvido de nada.

 

Eu brinco: quem imaginava que o Júlio Campos viria a disputar uma campanha, veio a deputado estadual, venceu e está fazendo um bom trabalho. Não duvidem da família Campos, porque tudo pode acontecer.

 

MidiaNews - O vice-governador Otaviano Pivetta é o nome do Mauro Mendes à sucessão.  Na sua avaliação, qual a viabilidade política do Pivetta nesse desafio? 

 

Gisela Simona - Ainda acho um pouco cedo pra falar, porque o Pivetta não tem um perfil de político tradicional. Ele não está na rua como alguns já estão fazendo. A gente precisa avaliar um pouco mais esse cenário. Sabemos que na posição de vice-governador, é uma pessoa que sempre foi muito leal, que sempre trabalhou e fez entregas importantes para o Estado e isso, por si só, faz com que o nome dele seja forte para o Governo do Estado.

 

Mas, como não se definiu outros nomes que possam vir... A não ser essa própria especulação do PL, que tem hora o Odílio Balbinotti, o Wellington Fagundes... Quando se fala em viabilidade e se analisa os nomes das poucas pesquisas que saíram, o Otaviano está bem.

 

E na medida que você tiver os nomes que efetivamente vão sair candidato ao Governo, vamos conseguir avaliar melhor essa questão de viabilidade.

 

 

MidiaNews – Pesquisa que podem acontecer ao longo desse ano?

 

Gisela Simona - As pesquisas perderam a credibilidade, não só no Estado, mas em todo o país, em razão da conjuntura das eleições municipais.  Eu sou presidente do União Brasil Cuiabá e tínhamos o deputado Eduardo Botelho como candidato a prefeito de Cuiabá e as pesquisas apontavam ele como um dos favoritos. E tivemos surpresas muito ruins do ponto de vista daquilo que realmente era a vontade das pessoas.

 

É por isso falo desse descrédito das pesquisas de maneira geral e que é muito cedo construir conjunturas em cima dessas que estão saindo.

 

MidiaNews - Nessa questão ainda das pesquisas, a análise mais assertiva seria da qualitativa (que análisa perfis) e não mais a quantitativa (que analisa números)?

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Gisela Simona

Gisela Simona diz que institutos de pesquisas caíram em descredito

Gisela Simona - Acredito que, em mais de um ano antes de uma eleição, a quali é mais efetiva, porque mostra o perfil do governador, por exemplo, que a população quer. E você começa a eliminar possíveis nomes.

 

Isso é muito claro e a gente não pode ignorar. O próprio cidadão fala mais a verdade. Quando você começa por nomes, acaba deturpando um pouco o resultado real da pesquisa.

 

MidiaNews - Para senhora, o Pivetta tem musculatura para alcançar esse projeto?  

 

Gisela Simona - Tem muita musculatura. O que acredito que vai ser um grande desafio é ele ser conhecido da grande massa. O Pivetta é muito conhecido no mundo político, no mundo empresarial, mas ainda falta o sair às ruas, conhecer as pessoas.

 

Se você for hoje ao Bairro Pedra 90, em Cuiabá, e perguntar de Otaviano Pivetta, talvez a pessoa fala: “Não sei quem é”. Acredito que esse é o desafio. Por isso que, ao contrário do que alguns pensam que está muito cedo para falar da eleição, tinha que estar na rua, mostrando um pouco essa identidade. O porquê quer ser governador. Porque quem faz ganhar a eleição é a grande massa popular.

 

MidiaNews – Em uma eventual definição pelo apoio ao Pivetta, o União pode pleitear a vice?

 

Gisela Simona – Claro. Nós do União Brasil temos tanto nome para governo como para vice. Temos lideranças muito importantes, com muito serviço prestado para Mato Grosso. E temos pessoas que hoje, se eventualmente o Pivetta não for candidato por vontade própria, podem ser candidatas ao Governo ou a vice.

 

MidiaNews – O deputado Max Russi fez um convite ao deputado federal licenciado Fábio Garcia, da qual a senhora é suplente, para que ele integre o Podemos. Como o União está trabalhando para que não haja debandada na janela partidária, em março de 2026?

 

Hoje, União Brasil nos dá todas as condições para que a gente permaneça

Gisela Simona – É muito comum, quando se aproxima a janela partidária, que é a possibilidade de você mudar do partido sem sofrer qualquer penalidade,  ter esse assédio de outros partidos. 

 

Mas acredito que o que fideliza, na verdade, é o sentimento de grupo político. Tanto eu como o Fábio Garcia fazemos parte do mesmo grupo político e acredito que é isso que nos une. Qualquer decisão de mudança de partido acontece em conjunto. Mas hoje, União Brasil nos dá todas as condições para que a gente permaneça. 

 

MidiaNews - E qual o seu combinado com ele? Ele volta o ano que vem para o cargo de deputado federal? 

 

Gisela Simona - Acredito que fico até o mês de abril de 2026, quando ele continua secretário da Casa Civil e, na sequência, ele volta para a Câmara Federal. E eu volto para o Procon, onde sou servidora pública de carreira. E logo tendo que me afastar também, porque no planejamento tenho é ser candidata a deputada federal em 2026. Como servidora pública, preciso me desencompatibilizar com três meses de antecedência.

 

MidiaNews - E como que está a formação da chapa para federal?

 

Gisela Simona - Construindo. Não é fácil montar a chapa. Sabemos que existe, hoje, uma disputa mais acirrada dentro do União Brasil, que teve mais de 60 prefeitos em Mato Grosso. Tem uma guerra por ter muita gente querendo vir a estadual.

 

Para a federal, você já tem que buscar um pouco a laço. Mas temos nomes importantes. E a gente quer fazer uma chapa que a gente realmente tenha representatividade das várias regiões de Mato Grosso. E tudo indica que teremos uma chapa bastante diversa.

 

MidiaNews -  Por conta do aumento da população, segundo dados do IBGE, Mato Grosso terá nove cadeiras para deputado federal em Mato Grosso a partir de 2026, ao invés de oito. Isso facilita ou dificulta a eleição?

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Gisela Simona

Gisela Simona diz que Congresso Nacional avalia mudanças importantes na Legislação Eleitoral

Gisela Simona - Isso é bom, primeiro porque Mato Grosso terá maior representatividade dentro da Câmara. Isso aumenta o número de gente nas chapas.

 

E agora, o que estamos em luta na Câmara Federal é a votação de um novo código eleitoral. Para a representação das mulheres, isso vai mudar um pouco. 

 

MidiaNews – Para eleição de 2026?

 

Gisela Simona - Se for aprovado até outubro desse ano já vale para a eleição do ano que vem. Para se ter uma ideia, esse projeto já está na fase final, na CCJ do Senado. E segundo o relator deve chegar até 14 de maio na Câmara dos Deputados. 

 

Um alerta que faço às mulheres é de que estão tentando nos tirar a obrigatoriedade dos 30% mínimo de candidatura nas chapas eleitorais, que é obrigatório hoje. Na verdade não tirando, mas tentando fazer uma relativação. 

 

Hoje, é obrigatório ter 30% de um dos sexos fazendo parte da chapa. O que eles querem é que fique 30% reservado, mas não obrigatório preenchimento, mas a reserva.

 

Então, se uma chapa quiser sair com 70% de homens apenas e eles entenderem que eles conseguem atingir o quociente eleitoral, eles poderiam sair sem ter nenhuma mulher. Os partidos estão tentando fazer isso para se livrar daquela penalidade que é a fraude de cotas.

 

Eu acredito que é um retrocesso. 

 

MidiaNews – Um nome forte na política é a primeira-dama Virginia Mendes. Nos bastidores circula que ela pode vir a deputada federal ou até estadual. Para a senhora, ela deve ser candidata?

 

Gisela Simona - Acho que seria maravilhoso se ela viesse candidata, porque é um nome forte, é uma mulher forte dentro do Estado, que tem serviços prestados, que realiza um importante trabalho social. Eu, que incentivo mulheres a entrarem na política, acredito que seria ótimo. 

 

Agora, tudo tem que ser analisado do ponto de vista de conjuntura, já que Mauro também vem candidato. É uma avaliação interna que eles têm que fazer, mas eu sou incentivadora.

 

MidiaNews - Tramita na Câmara o projeto de lei que isenta do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil mensais. Qual a sua posição sobre o projeto?

 

Não pagar imposto de renda é algo que realmente favorece e impacta positivamente muita gente

Gisela Simona – Todos queremos pagar menos impostos. Em um primeiro momento é uma excelente proposta e tem uma grande faixa de brasileiros que ganham até R$ 5 mil. Não pagar imposto de renda é algo que realmente favorece e impacta positivamente muita gente.

 

Por outro lado, quando deixa de ter uma receita, é preciso tirar de outro lugar para pagar. E é esse o ponto controverso desse projeto de lei. Porque o Governo busca, no projeto, pessoas que têm altas rendas, ou seja, quem ganha acima de R$ 650 mil por ano, ou seja, acima de R$ 50 mil por mês, e essas pessoas pagariam essa conta.

 

Existem muitas críticas nos bastidores da Câmara em relação a fazer “cortesia com chapéu alheio”, porque você isenta alguns, mas outros pagam essa dívida. Querendo fazer o que a gente chama de justiça tributária. 

 

Não acho que seja errado, do ponto de vista de que quem ganha mais paga mais, mas é algo que está gerando muita discussão no Congresso e acredito que vai ter mudança no texto.

 

Consegui ficar na comissão especial que vai tratar especificamente dessa matéria antes de ir para plenário. Estão surgindo propostas dos partidos no sentido que essa compensação mude. Não só de quem vai pagar isso, mas também de não deixar com que estados e municípios que vão perder receita fiquem no prejuízo.

 

MidiaNews – Não é justo os mais ricos pagarem mais impostos?

 

Gisela Simona - Particularmente, eu, Gisela, concordo com texto da forma que está. Tanto que fui a única parlamentar aqui de Mato Grosso, por exemplo, que votou a favor da taxação dos super-ricos quando teve a questão da reforma tributária. Porque acredito que essa compensação tem que ser justa entre quem ganha mais e quem ganha menos. 

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Gisela Simona

"Parte do parlamento se mobiliza para que compensação não recaia sobre aqueles que ganham acima de R$ 50 mil por mês", diz Gisela

Mas o que digo é da reação do parlamento, que está se mobilizando para que essa compensação aconteça de outra forma e não recaia sobre aqueles que ganham acima de R$ 50 mil por mês.

 

MidiaNews - Nos últimos meses, começou uma discussão sobre os privilégios do serviço público, abusos na máquina pública, especialmente no Judiciário, quando se fala dos supersalários e dos penduricalhos.  Como que se posiciona nessa discussão, deve haver mudanças?

 

Gisela Simona - Acredito que sim. Inclusive o Kim Kataguiri, que é do União Brasil, fez uma Proposta de Emenda a Constituição para acabar com os supersalários e eu fui uma das que subscrevi esse projeto. Acredito, sim, que se existe um teto no Brasil salarial, tem que ser respeitado. 

 

É inadmissível que a gente tenha, principalmente no Judiciário, na classe política, pessoas recebendo valores muito acima desse teto, que já é valor expressivo, na casa de R$ 47 mil. É preciso corrigir isso no Brasil.

 

Quando se fala muitas vezes em reforma administrativa, eu como sou servidora pública, o que ocorre é sempre querendo diminuir o número de servidores públicos, é reduzir o salário, mas é dos pequenos e não dos supersalários.

 

 

MidiaNews - Sobre essa questão da reforma administrativa, voltou a ser ventilada entre os líderes. Acredita que o servidor é mesmo vilão do serviço público? 

 

Gisela Simona - Não. O servidor que faz o serviço que está na ponta, não. Pelo contrário.  É muito importante registrar para as pessoas que quem te atende na unidade de saúde é um servidor público, o professor que está na escola pública é um servidor público, o policial que salva vidas, o bombeiro que apaga o incêndio, são todos servidores. Muitas vezes, pelo risco de vida que ele tem, pela exposição da saúde que tem, ganha pouco.

 

O que temos é uma casta de servidores públicos que é dentro do judiciário, do legislativo, e isso sim mereceria uma revisão. A reforma administrativa teria que acontecer, mas para afetar exatamente situações como essa de supersalários e não em retirar direitos. 

 

Porque, por exemplo, o modelo de reforma administrativa que vimos e que foi parada, na verdade, prejudica muita gente. Você tirar o concurso público, que dá uma isonomia para o servidor público agir em nome do interesse público e não de A ou de B. E isso não podemos permitir.  

 

MidiaNews – A gente teve grandes lideranças do Estado, inclusive o governador Mauro Mendes, em protestos em favor da anistia dos condenados de 8 de Janeiro. Como que se posiciona a respeito disso?

 

Gisela Simona - Eu tenho um posicionamento de acordo com o Código Penal Brasileiro. Cada um deveria responder na medida da sua culpabilidade pelo crime que praticou. Eu assinei o regime de urgência na Câmara para que isso vá ao plenário, porque acredito que nós, parlamentares, como representantes do povo, se tem um clamor, ainda que de uma parte da população para que esse tema seja debatido, nós temos que debater. 

 

Tem que ser votado. Eu sou muito a favor dessa votação em plenário. O presidente tem que pautar esse tema, por conta de toda essa situação que, inclusive, tem atrapalhado bastante o desenrolar dos trabalhos da Câmara.

 

Porque a oposição volta e meia faz obstrução, impede que projetos importantes da Casa sejam votados, porque isso está travando. E está travando porque existem pessoas, sim, que estão sendo prejudicadas e isso tem que ser resolvido.

 

Agora, com relação ao texto da anistia em si, não sou polarizada no sentido de ou é sim ou é não e não serve mais nada. Eu, inclusive já vi entrevistas do Hugo Motta (Republicanos-PB), nesse contexto, de que poderiam ter alguns arranjos dentro do texto que está proposto para ter uma parcela maior de pessoas adeptas a ele. Para que a gente não tenha penas excessivas para alguns, mas não ter impunidade em relação a todos.

 

  

MidiaNews – É porque pode abrir um precedente para futuras ações de golpe de Estado...

 

Gisela Simona - Tem que tomar cuidado com tudo que se faz e acaba servindo de precedente para futuras ações. Por isso que acredito que esse radicalismo ou é anistia ou não é anistia, é muito ruim para o país no contexto de não darmos a quem realmente destruiu o patrimônio público, de quem estava envolvido, a punição, mas na medida da sua culpabilidade. 

 

Quando você analisa as decisões do Judiciário hoje, é desproporcional a pena que se está aplicando para alguns casos. Então, sem tirar a devida importância do que foi feito no dia 8 de janeiro, precisa ter uma responsabilização dos envolvidos, mas não podemos fazer com que isso seja desproporcional.

 

MidiaNews – O governador do Estado tem pedido penas mais duras para diversos crimes, em especial os que envolvem facção criminosa. 

 

Gisela Simona - Em algumas situações sou favorável. Tanto que fui relatora do pacote anti-feminicídio na Câmara, que aumentou a pena do feminicídio para a maior pena do Código Penal Brasileiro hoje, que é 40 anos,

 

Acredito que a impunidade é um dos elementos que atraem para a prática do crime.  De novo: não acredito que só a pena muda. Temos uma situação de conjuntura dentro do país, de desigualdades sociais, que favorece o ingresso dessas pessoas no crime. E a impunidade é um dos elementos. 

 

Temos muita coisa para mudar na educação do Brasil, nas condições de moradia do país, para a gente poder ver cada vez menos pessoas ingressar na criminalidade. Agora, é preciso ter uma resposta dura do Estado.

 

Eu tenho defendido o enquadramento do crime de estar em facção ao de terrorismo, porque seria a forma mais rápida de dar uma resposta para a população. Não vejo que é adequado alguém se orgulhar em dizer que é da facção A ou B. Isso deveria ser um demérito. 

 

Isso tem que mudar no país. Acredito que o tema da segurança pública está perpassando por todos os lugares, porque a gente está vendo a proporção que isso está ganhando.  

 

Há poucos dias a gente viu aqui dentro de Mato Grosso comerciantes tendo o seu comércio ateado fogo. Há uma necessidade, sim, de uma mudança. A gente viu que o Governo Federal enviou para o Congresso a PEC da Segurança Pública. Uma PEC que, no texto inicial, não aborda todos os temas que  queríamos que abordasse, ainda não é a solução para o país.

 

 

MidiaNews – Que mudanças dá para acrescentar a essa PEC, por exemplo?

 

Gisela Simona - Ela não traz nenhum combate específico com relação às facções, que hoje é um tema que está sendo ventilado em todos os municípios do Brasil. É preciso colocar o dedo na ferida. E também, essa questão bastante polêmica, da União ter esse comando das forças de segurança dentro dos estados.

 

Acredito ser um conflito muito grande, porque quem paga a maior parte dessa conta são os governos estaduais. E você ter o governo federal no comando pode ter problemas e não vai ser aceito com facilidade. 

 

Acho importante a iniciativa do governo federal de tratar do tema, porque é um dos temas que mais aflige a população brasileira, mas da forma como foi abordado é um texto que não passa.

 

MidiaNews – Como analisa esses dois anos do governo Lula? O presidente tem problemas na comunicação?

 

Gisela Simona – Eu vejo problemas, sim, na gestão do Governo Lula. Há um distanciamento dos ministros do governo. Parece que cada ministro cuida de si próprio e de suas coisas sem pensar no global, na população como um todo e isso, claramente, acaba interferindoa na comunicação.

 

Quando não se tem um grupo unido trabalhando não tem essa sintonia do Governo Federal com as pessoas. E, infelizmente, ministros não estão acertando. Desde a questão econômica do país, quando vê o preço da comida, dos alimentos, sabe que não está bom e não tem tendência para melhorar.

 

E outras áreas do governo também não estamos conseguindo ter uma entrega proporcional ao que a população precisa, seja na habitação, na agricultura, na saúde...

 

MidiaNews - E a comunicação do Governo Federal com a União Brasil? A gente sabe que União tem ministérios no governo Lula, mas e com os deputados, tem um diálogo mais franco e próximo?

 

Gisela Simona – Embora o União Brasil tenha dois ministérios, é um partido que não acompanha 100% o governo. Agora, que estamos nesse processo da anistia, dos 59 parlamentares da União Brasil, tínhamos 32 que assinaram o regime de urgência da anistia. Se fosse um partido que estivesse caminhando com governo, talvez ninguém assinaria, ou uma minoria assinaria, mas já são mais da metade. 

 

É bastante controverso isso, talvez essa situação é por uma falta de postura do governo, porque regra geral quando você concede o Ministério, cobra resposta e resultado de outro lado. Mas, mesmo sem ver esse resultado, o governo Lula fica da forma que está. 

  

MidiaNews - O ministro de Turismo Celso Sabino disse em entrevista recente que a maioria da União vai apoiar a reeleição do Lula em 2026, caso ele venha para a reeleição. Em Mato Grosso, os filiados do União estão mais alinhados com a direita bolsonarista do que ao Lula. Acredita que no Estado pode haver uma debandada, caso o apoio ao Lula se confirme?

 

Gisela Simona - Eu não acredito que o União vá acompanhar ao governo Lula, porque isso já não acontece hoje. E mais do que isso, temos uma situação de divisão interna. 

 

Eu, analisando de uma maneira global, penso que o partido busca independência. Ainda há conflitos, sim

Nós tivemos no último dia 4 de abril o Ronaldo Caiado, governador de Goiás, lançando a pré-candidatura à presidência da República em Salvador junto com a ACM Neto, que é o vice-presidente da União Brasil. Você vê claramente nas falas do ACM, do próprio Caiado, uma tentativa de apartar o União Brasil do governo Lula - esse é um grupo do partido. 

 

Você vê outra ala do partido que está junto com Bolsonaro.  E vê os ministros que estão junto com o governo Lula. Há esses três grupos dentro do União Brasil.

 

Eu, analisando de uma maneira global, penso que o partido busca independência. Ainda há conflitos, sim. Nós viemos de uma junção do antigo PSL com o DEM. Então, são muitos líderes e acaba tendo muitas divergências de posicionamento. 

 

MidiaNews - Esse pragmatismo do União ainda deve ser tendência em 2026 ou acha necessário se escolher um lado? 

 

Gisela Simona - O União Brasil coloca como uma de suas bandeiras ser contra a polarização do país. Tanto que somos incentivados a todo momento a mostrar trabalho com resultado.  E isso a gente vê no perfil de muitos parlamentares do União, que ao invés de ver gritando A ou B, Lula ou Bolsonaro, vê mais trabalhando, porque há um incentivo do partido para isso.

 

O União Brasil em 2022 acabou lançando a senadora Soraya Thronicke como candidata a presidente, e deixou livre os filiados para apoiarem a ou b, ou a própria Soraya. O que acho muito ruim. Você lança alguém do partido como candidato a presidente, mas não precisa apoiar?

 

E, eu não duvido que isso possa acontecer novamente. Ter um candidato próprio e forte, que acredito que é isso que o Ronaldo Caiado tenta conquistar, e mostrar que ele quer “endireitar o Brasil”. E aí, ele vir com uma proposta pragmática para o país, de não polarização e conseguir avançar nesse sentido, e vai construir isso até 2026. 

 

MidiaNews - E a senhora, um eventual cenário do Caiado candidato, o apoiaria a presidência?

 

Gisela Simona - Na minha vida política, que é curta, tenho sido muito partidária. Sei que tive perdas e sofri, mas apoiei a Soraya Thronicke em 2022. Primeiro porque é mulher.  Eu não ia desconstruir toda uma fala que faço de mulheres na política, lançar uma mulher candidata à presidência do partido e virar as costas para dizer: “Não, sou Bolsonaro”.

 

Eu não fiz isso. Eu a apoiei, sei que isso me custou votos inclusive, mas fui coerente com a minha posição de apoiar a Soraya.  E a lógica continua essa. 

 

Veja entrevista na íntegra:

 

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