Alexandre Schenkel

O presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), Alexandre Schenkel, rebateu as declarações de políticos que classificam como “tubarões” parte dos produtores rurais do Estado, supostamente em razão do não pagamento de impostos.
“Diria que essas pessoas precisam conhecer os números ao invés de falar essas coisas. Pra mim, isso parece apenas ‘politicagem’ ou ‘dor de cotovelo’ da última política que tivemos aqui no Estado”, disse o ruralista.
Em entrevista ao MidiaNews, ele afirmou que a cadeia do algodão contribuiu, sim, para a economia estadual, uma vez que movimenta, apenas com os custos de produção, R$ 8,5 bilhões por ano.
Schenkel ainda criticou o projeto que está sendo elaborado pelo governador Mauro Mendes (DEM) prevendo a manutenção do Fethab 2 - que implica em cerca de R$ 450 milhões em arrecadação de tributos para o Poder Executivo.
Para o presidente, a renovação do Fundo representaria um “tiro no pé” do Governo, uma vez que existe a possibilidade de queda na produção. Isso porque a atividade pode passar a não ser mais atrativa.
Ele criticou também o fato de Mendes já ter anunciado que encaminhará o projeto à Assembleia Legislativa, sem antes sentar à mesa com representantes do setor produtivo.
“Conhecer as propostas do Governo pela imprensa não é justo com um setor que está sendo produtivo, que está sendo eficiente na questão de honrar seus compromissos. Quando faz isso, ele não está sendo justo, já que não procurou ter um diálogo com o setor”, disse o presidente.
“Tem que saber se somos capazes de contribuir, se podemos contribuir e de que forma será utilizada essa contribuição”, acrescentou.
Veja os principais trechos da entrevista:
MidiaNews - Recentemente o governador Mauro Mendes afirmou que o algodão é uma cadeia que está amadurecida e que pode contribuir um pouco mais com o Estado. Como o senhor enxerga essa declaração?
Alexandre Schenkel - A cadeia é amadurecida. Em certo ponto, sempre estamos evoluindo. Temos que concorrer com o mercado externo, divulgar bastante nosso produto. Nós temos muito a crescer na questão da qualidade para poder entregar aquele produto do qual a gente tem feito uma promoção lá fora do País, nos mercados consumidores nossos. E o amadurecimento nosso se deve a muito trabalho, aos investimentos que temos feito em nossas estruturas. Então, em que ponto estamos amadurecidos? Desenvolvemos tecnologia, trabalhamos muito em cima disso, trazer produtividade para a região, tornar o algodão viável. Importante dizer que sempre estamos fazendo com muita solidez esse trabalho de amadurecimento.
MidiaNews - Mas ele está dizendo no sentido de que o setor está estabelecido e pode contribuir mais na arrecadação de impostos para o Estado.
Alexandre Schenkel - Nós já viemos contribuindo bastante. Conforme a gente vem crescendo a produtividade, aumentando nossas áreas de produção, nós também estamos aumentando o retorno para dentro do Estado. Por exemplo: hoje temos um custo em torno de R$ 8,5 mil por hectare. Se for falar numa área de 1 milhão de hectares de plantio [que é quanto se planta atualmente em MT], arredondando, estamos contribuindo com R$ 8,5 bilhões de giro desse valor dentro do Estado. Isso em compra de defensivos, compra de combustíveis - pois é uma lavoura que fica 150 dias no campo e tem aí em torno de 15 a 20 entradas dentro dessa lavoura, seja com plantio, distribuição de fertilizantes e defensivos. Então nós temos uma movimentação muito grande, um investimento muito alto. É uma cultura que tem um valor agregado, onde você tem um custo muito alto. Nesse custo estão mão de obra, impostos... Então, estamos gerando um valor que é importante para o Estado. Nós estamos trabalhando e contribuindo com o Estado.
MidiaNews - Atualmente, o Proalmat [Programa de Incentivo ao Algodão] estabelece uma cobrança de 3% de ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] nas operações internas. Não seria possível elevar um pouco mais essa alíquota?
Alexandre Schenkel - O Proalmat é um programa de incentivos que tivemos desde quando a gente motivou a questão de entrar, começar a plantar. É muito importante para os pequenos e médios produtores. Quem se beneficia do Proalmat são produtores que vendem no mercado interno. Atendem com uma carga, cinco cargas, a nossa indústria nacional. Então, esse retorno, que é você fornecer para a indústria nacional, já dá uma contribuição de 3%. É a única cadeia hoje dentro do Estado que tem uma organização de mostrar onde está sendo entregue [o produto] dentro do mercado nacional. Mostramos com as vírgulas onde está sendo utilizado o Proalmat. Então, a cadeia do algodão já está contribuindo com ICMS para o Estado. Essa organização e esse incentivo que vão para o pequeno, o médio - principalmente para eles - são muito importantes. Isso é para que eles se mantenham na atividade. Para que não fique somente um Estado 100% exportador de algodão, o que acaba prejudicando aquele médio e pequeno produtor.
Está muita errada essa noção de achar que o Proalmat atende o grande produtor. O programa, principalmente, atende o pequeno, que entrega em volumes pequenos para a indústria nacional. Temos uma indústria nacional que está estagnada há mais de dez anos, com a mesma produção, inclusive reduzindo um pouco da capacidade de beneficiamento de algodão [transformar em fios, tecidos]. Isso faz com que nós não tenhamos um grande mercado. Se fosse para atender somente o mercado nacional, não poderíamos produzir nada. Hoje estaríamos plantando, ao invés de 1 milhão de hectares, somente 300 mil hectares. Hoje exportamos mais de 60% da produção.
Esperamos que o novo Governo Federal incentive mais e apoie a indústria nacional para que ela também reaja e comece a utilizar mais nosso produtos. Mas hoje nós tivemos que desenvolver o mercado internacional, atrair nossos clientes, promover a nossa pluma. O que é muito importante no mercado têxtil é a qualidade do produto. Hoje temos fatores aqui dentro do Estado: um clima bom, solo bom - que são mecanizados - mas, principalmente, temos gente, que são nossos produtores, que se motivam a plantar algodão, e nossa capacidade técnica.
MidiaNews - Voltando um pouco ao Proalmat, qual foi a importância de sua criação no Governo Dante de Oliveira?
Alexandre Schenkel - No início dos anos 2000, o Brasil era um País importador de algodão. Já fomos na década de 60 um dos maiores exportadores, mas era em lugares como o Nordeste. A cultura era plantada extensivamente. Então, não tinha viabilidade. Quando o algodão veio para o Cerrado, nos anos 2000, e alguns produtores se motivaram a plantar e investiram, desenvolvendo a cultura aqui... Era muito difícil naquela época levar um produto daqui para o nosso mercado consumidor. As indústrias têxtis do País ficam no litoral, onde está a grande massa de população brasileira. Então, naquela época, já se levava longe esse produto, já tínhamos a logística que era muito difícil. E sabe o que mudou nessa logística de 20 anos atrás? Nada! Continuamos com a mesma logística. A mesma defasagem. O que mudou é que outros Estados como Minas Gerais, Bahia, copiaram o modelo do Proalmat nosso. Ou seja: competitivamente os outros Estados estão produzindo a mesma coisa, com uma qualidade parecida com a nossa. Não têm uma estabilidade de produção como temos (clima, solo e produtores...), mas eles estão muito mais próximos do mercado consumidor. E mais próximos dos portos para a exportação.
Então, o Proalmat veio trazer um equilíbrio para nós lá atrás e continua trazendo equilíbrio, principalmente para o pequeno e médio produtor. Continuamos dependente do sistema para poder motivar nossa cultura e tornar estável para o produtor de algodão de Mato Grosso.
MidiaNews - Por que não existe uma política de atração de empresas têxteis para Mato Grosso? Em Rondonópolis, a Santana Têxtil, por exemplo, fechou. O que precisa ser feito?
Alexandre Schenkel - A Santana teve problemas financeiros devido à matriz lá fora, no Nordeste. Então, você tem alguns problemas, mas para trazer uma indústria, você tem que ter três fatores, mas, mais que isso... Primeiro de tudo é que a indústria está estagnada. É preciso que haja uma motivação, uma aceleração, que motive o produtor. Pois tivemos aí, principalmente nos últimos três, quatro anos, um consumo muito baixo. Acabou que a indústria ficou estagnada. Nós consumimos, em números, de 700 mil a 800 mil toneladas de plumas no Brasil por ano. Se tiver uma motivação no futuro - e confiamos muito no novo Governo [de Jair Bolsonaro] - para que se traga um aumento de consumo, tudo bem. Onde elas iriam se interessar em aumentar esse consumo? Na porta do fornecedor? Se eu atravessar a rodovia, ou a estrada e entregar meu produto para alguém beneficiá-lo, transformá-lo em fios, produto têxtil é ideal, seria muito bom. É alguém que eu conheço e está na minha frente.
Mas o que vai atrair uma indústria aqui para o Estado? Seriedade no incentivo fiscal é um dos pontos. Hoje nós começamos o ano com uma política de incentivo fiscal e terminamos de forma desconhecida. [A atividade] Pode se tornar inviável dentro de um ano. É preciso seriedade, segurança jurídica em cima desses incentivos. Outro ponto: energia de qualidade. Somos um Estado que tem grande vantagem hídrica, que pode produzir energia com hidrelétricas, [embora] tenhamos uma burocracia muito grande em licenciamento ambiental. Temos aí o pior de tudo: mesmo com capacidade de produção de energia, temos uma distribuição péssima. Há uma indústria de fiação em Campo Verde que tem 86% de rendimento, comparada a uma lá no Nordeste - que trabalha com 92% até 94% de rendimento durante o ano. Porque se dá uma queda de energia, param todas as máquinas. É péssima a qualidade de transmissão de energia dentro do Estado. Há problemas nas algodoeiras, nas fiações, em laboratórios de produção... São coisas importantes, indústrias importantes. Mas chega num ponto em que queimam motores, para o processo de trabalho e acaba prejudicando o rendimento. Qual a motivação de vir pra cá se não tiver investimento no fornecimento de energia? E o último fator são as pessoas. Precisamos de gente treinada, pessoal capacitado. Lógico que podemos treinar aqui. Para isso temos que ter uma população disposta a trabalhar nessas indústrias. Trazer não somente uma fiação, tecelagem, mas uma cadeia de confecção. Isso agrega mão de obra. Para cada emprego criado hoje no campo, existem cinco na confecção. Pois o que usa mais mão de obra na cadeia têxtil é a confecção. São trabalhos que o Governo tem que motivar para trazer para o Estado.
MidiaNews - Isso é algo para ocorrer a longo prazo, não é mesmo?
Alexandre Schenkel - Estamos dispostos a mostrar os caminhos. Fizemos isso com o Governo Pedro Taques, estamos dispostos a ajudar o novo Governo, fazer com que eles conheçam essas realidades, seja de outros estados ou regiões, onde está sendo empregada bastante mão de obra. Somos eficientes em produzir o algodão, estamos vendendo para o outro lado do mundo, aqui dentro do País, aqui no Estado... E gostaríamos muito que tivesse a cadeia. Mas isso não depende de nós, depende de incentivos fiscais, energia elétrica e pessoas estarem dispostas a trabalhar nessa cadeia.
MidiaNews - Tratando da questão da taxação, recentemente o presidente da Aprosoja, Antônio Galvan, afirmou que podem criar o imposto que for que o Governo é um “saco sem fundo” e não haverá contribuição suficiente. O senhor também tem essa percepção?
Alexandre Schenkel - Nossa percepção é de que haja uma responsabilidade maior com a gestão das nossas contribuições, do nosso Estado, uma gestão mais responsável. Nós mesmos somos exemplo disso. Quando a gente perde o emprego, quando há uma deficiência de renda, nós acabamos reduzindo nossos gastos. Ao contrário do que está se mostrando - inclusive, durante a posse do governador Mauro Mendes, falou-se muito que o Estado vem crescendo em arrecadação. Então, ou está gastando muito mais do que está arrecadando ou não está ocorrendo uma arrecadação correta. Entendemos que precisa ser mais responsável com a gestão dos gastos públicos.
MidiaNews - Como o senhor enxerga declarações de muitos políticos tradicionais do Estado - a exemplo de Jaime Campos, Júlio Campos, Carlos Bezerra - que chamam os produtores de “tubarões”, que têm que “tomar tapa na cara”...
Alexandre Schenkel - Acho que é importante eles conhecerem realmente os números que a gente produz. Em pouco tempo aqui mostrei que damos uma contribuição muito grande ao Estado, seja com essa responsabilidade nossa de conseguir clientes para nosso produto, bem como na questão de arrecadação, geração de emprego, geração de grande consumo de óleo diesel, por exemplo. Estamos contribuindo desde a escolha da semente, da contratação de nossos técnicos, até o beneficiamento desse algodão, inclusive quando os caminhões abastecem aqui no Estado para levar essa pluma para a indústria ou para os portos.
Essa conversa de "grandes tubarões" está tão equivocada que o maior exemplo disso é o Proalmat. Quando falam em cortar o programa por causa de tubarão, eles desconhecem que quem mais se beneficia são os pequenos e médios produtores e que já recolhem seu ICMS, diferente de outras cadeias. E tem uma cadeia organizada, que mostra exclusivamente que está sendo arrecadado ICMS.
Conheçam nossos números ao invés de fazer esse tipo de declaração. Para mim isso parece apenas “politicagem”. Ou uma “dor de cotovelo” da última política que tivemos aqui no Estado.
MidiaNews - Com relação ao Fethab 2 - e de novo falando sobre o Antônio Galvan -, ele disse que até aceitaria conversar sobre o assunto, desde que os recursos fossem geridos pelo setor. Qual a posição da Ampa a respeito desse projeto que será encaminhado para a Assembleia Legislativa nesta semana?
Alexandre Schenkel - Os produtores de algodão são contra o Fethab 2 ou qualquer aumento de tributação em cima do nosso setor, pois já estamos com custos muito apertados em cima da nossa lavoura. Fizemos programações um ano e meio antes de se colher essa lavoura, porque a característica dos produtores de algodão é fazer um planejamento de sua safra com um ano de antecedência no mínimo. Faz-se o compromisso com os fornecedores, clientes, 18 meses antes de colher! Então, como vai ter essa tributação e querer tributar algo que já estamos apertados na questão de gastos. Não temos mais espaço para gastar. E, em certo ponto, o que o Galvan quis dizer é que quando nós fomos procurados para tratar do Fethab 2 - no Governo Taques - ele veio procurar o setor e conversar. Ele entrou num alinhamento. Então, quando entra de uma forma de lá pra cá através de uma mídia, conhecer as propostas do Governo pela imprensa, isso não é justo com um setor que está sendo produtivo, que está sendo eficiente na questão de honrar seus compromissos. E não está sendo justo ao não procurar ter um diálogo com o setor. Tem que saber se somos capazes de contribuir, se podemos contribuir e de que forma será utilizada essa contribuição.
MidiaNews - O Mauro Mendes não dialogou com a classe?
Alexandre Schenkel - Não tivemos uma reunião em relação a tributação ou Fethab ou qualquer outra coisa de contribuição do setor.
MidiaNews - E pelo jeito não haverá, já que o projeto será encaminhado à Assembleia na próxima semana. Indo para o Legislativo, vocês pretendem questionar judicialmente?
Alexandre Schenkel - Vai ter que ser dessa forma. Estamos aguardando as propostas do Governo.
MidiaNews - Se aprovar a taxação, qual será a consequência para o produtor?
Alexandre Schenkel - Existe uma matemática que o produtor faz antes de plantar. Como eu falei: ele planeja um ano e meio antes - característica do produtor de algodão - a sua lavoura. Se você fizer a taxação, você vai desmotivá-lo de certa forma que, se não fechar as portas, vai se reduzir área [plantada].
Se voltarmos três anos, quando estávamos plantando próximo de 500 mil hectares, vamos girar no Estado, em torno de R$ 4,5 bilhões de receita. Vai cair pela metade o que gira hoje. Será menos recursos girando no Estado, menos diesel, menos transporte, menos mão de obra, demissão de funcionários, redução de aplicação de defensivos, máquinas não serão utilizadas. Então o Estado terá menos receita. É uma inconsequência muito grande do Governo. Ao final, acaba prejudicando, principalmente, o Estado, já que arrecadará menos.
MidiaNews - Porque o senhor calcula que caiará pela metade a área plantada?
Alexandre Schenkel - A conta é muito fácil. É ver a viabilidade de utilizar isso ou não. Nós aproveitamos esses dois anos o mercado internacional aquecido. Renovação de estoques da China, os especialistas mundiais falavam que o único crescimento possível no mundo para atender essa demanda alta da China era os Estados Unidos. Sabe o que aconteceu? Aumentamos aqui dentro, principalmente, em Mato Grosso, praticamente dobramos a área, aumentamos na Bahia.
Mostramos que temos condição mais favorável de produzir. Só que ocorre que essa alta já passou, vamos ter um desincentivo na questão do preço, vai reduzir parte da área... E, principalmente, havendo tributação em cima, o produtor vai ver que será mais interessante trabalhar com a lavoura de milho, que terá custo bem menor. O custo da lavoura de milho é em torno de R$ 1,5 mil a R$ 1,8 mil contra R$ 8,5 mil do algodão.
MidiaNews - Na sua opinião, a história de querer tirar dinheiro do agronegócio para colocar na máquina estatal é querer jogar a culpa da incompetência deles nas costas de vocês?
Alexandre Schenkel - Acredito que sim. Buscando apenas um setor para jogar a incompetência de uma má gestão do dinheiro público. E, principalmente, buscando apenas um setor para pagar o pato. E tudo isso, falando por meio da imprensa, sem procurar o setor para saber qual seria a ideia de contribuição ou de que forma o setor poderia contribuir.
MidiaNews - Quando o senhor fala setor, está falando do agro como um todo ou somente do algodão?
Alexandre Schenkel - Hoje falo do algodão. Mas a gente sabe que isso ocorre no setor em geral.
MidiaNews - Então, o senhor entende que o governo Mauro Mendes começa mal nesse aspecto?
Alexandre Schenkel - Uma gestão é muito diferente da outra. No governo Pedro Taques tivemos aspectos positivos e negativos. O Taques renovou o Proalmat, fazendo com que o pequeno e médio produtor se mantivesse na atividade. E também teve a questão de nos procurar para conversar sobre o Fethab 2. Houve diálogo em cima de uma ideia a ser feita.
O grande ponto negativo do Fethab 2 foi o desvio de função. É incrível usar inclusive um recurso criado para ser investido em infraestrutura e querer utilizar para quitar folha de pagamento ou demais gastos. Não pode haver esse desvio. E outro ponto negativo foi a gestão, deixar crescer muito os gastos com folha, com os poderes. Falou-se muito em termos grandes lucros por hectare - não se falou nem em receita - chegou-se a falar que o lucro [do agronegócio] é maior que o dos traficantes. Mas onde se gasta em Mato Grosso o maior recurso por metro quadrado? Dentro do Centro Político - Assembleia, TCE... Assim como somos produtores responsáveis, o Governo tem que ser responsável no trato do dinheiro público.
Sobre o novo Governo, vejo um ponto muito positivo quando ele diz que é preciso tratar os gastos com responsabilidade. Acredito que ele fará um bom trabalho nesse aspecto dos gastos públicos. Agora, sobre a questão de taxação do agro, do algodão, isso não sentamos a mesa ainda para conversar.
MidiaNews - O fato de ele não ter chamado para conversar já é um mal sinal?
Alexandre Schenkel - Claro. Teria que ter chamado.
MidiaNews - Se começar a taxar demais o agro, o governo dará um tiro no pé?
Alexandre Schenkel - Repito: é importante analisar os números. O que vimos na imprensa não são números corretos.
MidiaNews - O secretário de Fazenda, Rogério Gallo, está dizendo que quer o Fethab 2 permanente. Ou seja, não seria mais uma contribuição só por um ano.
Alexandre Schenkel - Pode ser que ele desconheça qualquer realidade nossa. No setor do agro, 85% da área de algodão do Estado vem em segunda safra, que seria uma safra posterior ao plantio da soja. Então, somos produtores de soja, de milho, de algodão e temos uma dependência muito grande do clima e do mercado externo. Isso é variável ano após ano. Imagina num ano onde teremos uma produção baixa por conta do clima, de intempéries e aí fisicamente não conseguimos produzir um volume grande. E ao mesmo tempo a gente tem preços muito baixos, inclusive, como já ocorreu anteriormente, em lavouras de algodão e milho, em que tivemos que pagar para produzir. E ajudar integralmente todos os anos daqui para frente [com o Fethab], sem saber como está a realidade financeira do setor? Tem mais carrapato na vaca que a capacidade dela de produzir sangue.
MidiaNews - Fala-se muito na sonegação de impostos. Existe muita sonegação no setor?
Alexandre Schenkel - O bom produtor rural é fiscalizado pela Sefaz, pela Receita Federal - na hora de declarar seu Imposto de Renda - é uma fiscalização severa. É fiscalizado pelo Meio Ambiente, trabalhista... Qualquer área plantada hoje é preciso ter o reconhecimento do Crea. Então, o produtor está suscetível a tudo isso. É uma coisa muito pesada. Se ele falhar num, ele prejudica todo. Então, o produtor tem que ter o rigor próprio de andar em dia com suas declarações, seja fiscal, ambiental e trabalhista.
O produtor que sonega tem que ser penalizado. E se ocorre, deve haver alguma conivência dentro da Sefaz também.
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