O ex-secretário de Estado de Indústria, Comércio, Minas, Energia e Casa Civil, Pedro Nadaf, afirmou que já presenciou o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) autorizando o filho do mesmo, o médico Rodrigo Barbosa, a pegar dinheiro de propina dentro do banheiro do Palácio Paiaguás.
A revelação foi feita em audiência da ação penal derivada da 2ª e 3ª fase da Operação Sodoma, que ocorre na tarde desta segunda-feira (29). A audiência é conduzida pela juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital.
"O Rodrigo eu o via sempre no Palácio. Presenciei o pai [Silval] entregando propina para o Rodrigo, mais de duas vezes. Mas eu vou me reservar ao silêncio de onde veio essa propina. Já presenciei também o governador autorizando o Rodrigo a pegar o dinheiro dentro do seu banheiro no gabinete", contou.
Ele também afirmou que Silval Barbosa transferiu para o MT Par o ex-secretário de Estado de Administração, César Zílio, após desconfiar que Zílio não estaria repassando as propinas da forma correta.
"O governador disse que tinha que silenciar o César e por isso mandou ele para o MT Par".
Em audiência realizada anteriormente, Nadaf - que está preso desde setembro do ano passado - já havia confessado sua participação no esquema que exigia propina de empresários em troca da concessão e manutenção de contratos com o Estado.
Ele se desculpou e prometeu devolver aos cofres públicos o valor que recebeu indevidamente a título de propina.
Confira a audiência em tempo real:
Silêncio de César Zílio (atualizada às 15h40)
Pedro Nadaf contou que, em 2012, Silval Barbosa fez uma grande reforma administativa e, pela suspeita de que o ex-secretário de Estado de Administração, César Zílio, estar o enganando, o ex-governador transferiu Zílio para o MT Par.
"O governador disse que tinha que silenciar o César e por isso mandou ele para o MT Par. Eu particulamente não sabia da questão da Consignum [uma das empresas que pagava propina], vim a saber pela imprensa".
"Quanto ao Marcel [de Cursi, ex-secretário] eu já disse aqui: ele era o grande mentor da organização".
Propina ao filho de Silval (atualizada às 15h57)
Nadaf afirmou que o ex-secretário Pedro Elias disse a ele que foi colocado na gestão a pedido do médico Rodrigo Barbosa, filho de Silval. Segundo ele, o próprio governador confirmou a informação.
"Em outra situação ele [Pedro Elias] me procurou e disse que tinha que encontrar alguma forma para repassar propina para o Rodrigo. Na última situação, o governador pediu para eu falar com o Pedro Elias para conseguir mais propina, mas o Pedro afirmou que não queria mais se enrolar com isso".
"O Rodrigo eu o via sempre no Palácio. Presenciei o pai [Silval] entregando propina para o Rodrigo, mais de duas vezes. Mas eu vou me reservar ao silêncio de onde veio essa propina. Já presenciei também o governador autorizando o Rodrigo a pegar o dinheiro dentro do seu banheiro no gabinete".
Veja trecho do depoimento de Pedro Nadaf:
Participação de outros réus (atualizada às 16h10)
Nadaf falou um pouco sobre a participação do ex-secretário adjunto de Administração, coronel José Jesus Cordeiro, e do procurador aposentado Francisco Lima Filho, o "Chico Lima".
"O coronel Cordeiro tinha uma relação muito forte com o Silvio [Araújo, ex-assessor de Silval]. Já o vi com o próprio governador, tratando de licitações direcionadas, no sentindo de dar ganho para alguma empresa que ia dar retorno para a organização. Já o Chico Lima, como eu já disse antes, dava pareceres favoraveis que fossem contribuir com a organização. Ele atendia diretamente o governador e nos auxiliava na lavagem de dinheiro. Ele tinha uma articulação própria também ".
Ele também admitiu que sua ex-secretária na Fecomércio, Karla Cintra, ajudou nos crimes.
"Ela trabalhava comigo; Eu a trouxe para a organização, ela era ligada mim, ela dava mobilidade para mim. As vezes que eu não podia buscar dinheiro, ela ia, ela tinha uma participação pequena, mas tinha. Ela sabia que o dinheiro era ilícito, mas não sabia de onde vinha".
Riva é citado (atualizada às 16h16)
O ex-deputado José Riva foi confirmado por Nadaf como integrante da organização. O ex-secretário disse que Riva não era um membro direto, mas tinha "muitos negócios" com Silval.
"Sobre o caso da Consignum, em junho de 2014 nós estavamos tratando um assunto da Assembleia na minha sala, quando ele insistia com o governador pela substuição da Consignum. O Silval olhou para o Pedro Elias e falou para ele ver isso aí. Foi aÍ que eu fiquei meio assim, pensei que tinha alguma coisa. Ele [Riva] falou que tinha que mudar porque a outra empresa ia dar resultado bom para nós".
Lavagem da propina (atualizada às 16h23)
Nadaf disse que comprava gado de César Zílio para lavar parte do dinheiro arrecadado com a propina.
"Mas eu vou devolver tudo para o Estado. Quando o Cesar foi preso, ele ficou preso comigo no CCC [Centro de Custódia da Capital] uns três dias. Ele relatou esse negócio do terreno, e aí eu combinei com ele que eu iria ocultar a questão desse gado. O gado ficava em nome do pai do Cesar [Antelmo Zílio]".
A promotora de Justiça Ana Bardusco perguntou se Nadaf tinha conhecimento do terreno de R$ 13 milhões que foi adquirido por Zílio com dinheiro de propina. "Não, soube pela imprensa", respondeu.
Ela também questionou sobre a propina paga por Júlio Tisuji, da empresa Webtech, ao grupo criminoso.
"Não, eu conheci o Júlio há 15 anos, mas não tinha conhecimento desse fato".
Percentual de propina (atualizada às 16h37)
Nadaf explicou que quando o grupo precisava levantar recursos para pagar dívidas de campanha, parte do valor era repassado para quem conseguia a propina.
"Não havia um percentual estabelecido entre os membros da organização".
Ameaças de Sílvio Araújo (atualizada às 16h47)
Nadaf voltou a falar sobre as ameaças que o ex-chefe de gabinete de Silval, Sílvio Araújo, fez a ele na cadeia.
"Circulou em um site que eu estaria fazendo delação e o Silvio foi várias vezes na minha cela, sentou ao meu lado, fez gestos com o dedo, e disse: 'esses delatores ai, Pedro Elias, Cesar Zilio, não vai passar de um ano, vai ter bala perdida, assalto'. Quando nós estavamos no governo ele era sempre muito arrogante, ele sempre falava nas reuniões: 'negocio é o seguinte, quem tem c* tem medo', querendo dizer que quem não fizesse aquilo que fosse acertado estaria correndo risco de vida".
Atritos com agente penitenciário (atualizada às 17h02)
A defesa do ex-prefeito Walace Guimarães, feita pelo advogado José Patrocínio, perguntou qual foi a orientação de César Zílio sobre o pagamento a gráficas que, em tese, teriam ajudado seu cliente no alegado esquema.
"Eu fiz uma adesão para fazer um pagamento de R$ 700 mil a uma gráfica apenas, a Intergraf.".
O advogado questionou quanto ele recebeu desse valor, mas Nadaf se manteve em silêncio.
Já o advogado Leonardo Bassil, que faz a defesa de Silvio Araújo, colocou em xeque a afirmação de Nadaf, que pediu transferência do CCC por contas de ameaças do seu cliente.
O advogado juntou aos autos um documento que comprovaria que Nadaf teve um atrito com um agente penitenciário, e, por conta disso, teve alguns direitos suspensos dentro do CCC.
Nadaf confirmou o atrito, mas não quis contar o caso, se mantendo no direito de ficar calado.
Propina de outras origens (atualizada às 17h18)
O advogado Bruno Alegria, que faz a defesa de Rodrigo Barbosa, perguntou a Nadaf se ele viu seu cliente recebendo propina de Silval e quando isso teria acontecido.
"Foi em 2013, 2014, presenciei duas vezes. A primeira foi eu que entreguei para o Silval e ele repassou para o Rodrigo, não se tratava de dinheiro da Consigum, nem da WebTech. A outra vez que eu presenciei, eu não sei a proveniencia da propina.
Bruno Alegria questiona quanto o Rodrigo recebeu, mas Nadaf se manteve no direito em ficar em silêncio.
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