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DANOS MORAIS
22.09.2011 | 14h33 Tamanho do texto A- A+

STF condena Saga Veículos por discriminação sexual

Concessionária rejeitou participação de ator em comercial por ele ser homossexual

MidiaNews/Arquivo Pessoal

STF deu ganho de causa a Menotti Griggi (destaque), que foi discriminado pela Saga por ser gay

STF deu ganho de causa a Menotti Griggi (destaque), que foi discriminado pela Saga por ser gay

KATIANA PEREIRA
DA REDAÇÃO

O Supremo Tribunal Federal (STF) condenou a empresa Saga Pantanal Comércio de Veículos Ltda. - concessionária Ford em Cuiabá - a pagar uma indenização, por danos morais, no valor de R$ 15 mil ao empresário Menotti Reiners Griggi.

A empresa foi condenada, em todas as instâncias, após ter vetado a participação de Menotti em um vídeo comercial, pelo fato de ele ser homossexual.

A ação foi movida em 2008, na Primeira Vara Cível de Cuiabá. No processo, consta que Menotti foi convidado para fazer o comercial pela equipe de produção da empresa GMA Propaganda, contratada pela Saga para produzir o vídeo. Mas, após a empresa saber de sua opção sexual, ele foi vetado.

O empresário disse ao MidiaNews que a decisão do Supremo é importante não só para ele, mas para toda a comunidade LGBTTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), que, segundo Menotti, constantemente, é discriminada e submetida a situações vexatórias.

"Diante do constrangimento que passei, a decisão foi justa. Eu me preparei, cheguei para a gravação, com o figurino que me pediram, e fui barrado. Mentiram que o comercial tinha sido cancelado. Depois, falaram a verdade. Eu fui barrado por ser homossexual", afirmou o empresário.

Para Menotti, a condenação da Saga Veículos deve ser amplamente divulgada para que outras pessoas que passaram pela mesma situação tomem como exemplo e busquem seus direitos.

"Não está escrito na minha testa que sou gay. O preconceito e a discriminação por parte dessa empresa fizeram com que minha orientação sexual aparecesse. Isso não pode acontecer. O que faltou à Saga Veículos e à sua diretoria foi o respeito ao próximo", disse Menotti.

O caso

O comercial de venda de automóveis era para representar três tipos de clientes: uma família, um jovem e um aposentado, seguindo o piloto da propaganda, feito em Brasília. Menotti faria o papel do pai da família.

A equipe da GMA mostrou para a diretoria da Saga Veículos fotos de dois atores. Um foi recusado, segundo testemunhos revelados na ação, porque teria uma aparência de "bicho grilo" (denominação dada aos hippies). Já Menotti teve o perfil aprovado por apresentar o biótipo necessário para o roteiro.

A princípio, o empresário havia recusado a oferta da GMA, por conta de outro compromisso que tinha assumido anteriormente. Desmarcado o compromisso, o autor acabou aceitando a oferta da agência.

Ocorre que, ao se dirigir ao local e a data combinados para a realização da gravação, Menotti ficou sabendo que o trabalho havia sido cancelado, mesmo verificando que todo o elenco já estava pronto para fazer o comercial.

Consta na ação que o proprietário da GMA Propaganda, Danilo Rondinelle, recebeu ordens da diretora executiva da Saga, Adriane Palmeira de Oliveira, para que cancelasse a gravação do comercial. A justificava seria porque Adriane teria sido informada que Menotti é homossexual e dono da boate Zum Zum, voltada para o público gay, em Cuiabá.

Adriane teria rejeitado a participação de Menotti por não querer que a empresa fosse representada por homossexuais, justificando que não passaria a verdade no vídeo. Consta ainda que a diretora despediu a produtora Glenda Pereira Garcia, por causa desse episódio.

A Saga Veículos providenciou, logo após o ocorrido, a contratação de outro ator, com o mesmo biótipo do Menotti, para gravar o comercial. Tendo conhecimento dos fatos, Menotti pediu para conversar com o responsável pela empresa, mas não foi atendido.

Por causa disso, ele ficou muito abalado, não conseguindo trabalhar por três dias. Nos dias que seguiram o ocorrido, o autor ainda passou pelo constrangimento de ser questionado, por amigos e conhecidos, com havia sido a gravação do comercial e quando iria passar na TV, ficando numa situação de desconforto.

O processo 

A sentença foi dada pela Juíza Dra. Serly Marcondes Alves, no 1º Juizado Especial da Capital, condenando a ré, Saga Veiculos em R$ 15 mil. Em sede de recurso na 2ª Turma Recursal o Dr. Nelson Dorigatti, reduziu para R$ 9,3 mil.

Não restando mais alternativas, a empresa interpôs um agravo de instrumento, junto ao Supremo Tribunal Federal, onde também teve negado seu seguimento pelo relator, o ministro Luiz Fux.

A condenação da Saga Veículo foi publicada no Diário Oficial, em 05/09/11. O advogado João Emanuel Moreira Lima, que representa Menotti, já entrou com pedido para o cumprimento da sentença.

Outro lado

Ao MidiaNews, a Saga Veículos se pronunciou por meio do gerente comercial, Rafael Serra. Segundo ele, a empresa lamenta toda a situação e garante que não tem por norma discriminar quem quer que seja.

"O fato ocorreu logo após a inauguração da loja, em 2007. Na época, uma profissional que dirigia a empresa pediu que o ator fosse barrado no comercial. A decisão foi somente dessa profissional. E, logo em seguida, ela foi desligada do nosso quadro de funcionários. A Saga não adota a postura de discriminação", disse Serra.

Sobre o fato da empresa ter ido até o Supremo Tribunal Federal para recorrer da decisão que deu ganho de causa ao empresário Menotti Griggi, o administrador explicou: "O autor da ação não se interessou em fazer um acordo. É uma postura da empresa dar seguimento em ações judiciais, até a última instância".

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RAFAEL COSTA  25.04.12 22h00
PARA TODOS AQUELES QUE DISCORDAM DA DECISÃO DO STF, QUERO SALIENTAR QUE MENOTTI JÁ TINHA SIDO CONTRATADO PARA FAZER O VÍDEO, E QUE SE CRITICAM A DECISÃO DO STF, PQ NÃO ESTUDA: DIREITO E DEPOIS ESTUDA MAIS AINDA PRA SER UM JUIZ, DESEMBARGADOR E ATÉ MESMO UM MINISTRO DO SUPREMO, VÃO ESTUDAR POVO ANTES DE CRITICAREM OS GAYS. HOMOSSEXUALIDADE NÃO É PATOLOGIA, ENTÃO PAREM DE CRITICAR AQUILO QUE NÃO SE SABE. VÃO ESTUDAR MEU POVO!!!
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Flores de Sousa  17.10.11 11h46
Eu acredito que não foi realmente da Empresa Saga esse tipo de preconceito, mas por causa de um funcionário a empresa peca e paga o pato...por isso tem que pensar bem antes de contratar pessoas de cabeça oca...mediocres... eu trabalhei numa universidade onde alguns funcionários acabavam com a imagem da instituição, sendo que os proprietários eram pessoas maravilhosas, mas por terem mal gestores, a instituição vivia direto no pau...na justiça.... Essa sacanagem que fizeram com o Menotti não tem preço, e vivem fazendo direto por aí: com negros, com pobre, com gordo, com anão, com gente alta demais, magro demais...a sociedade ao invés de evoluir ...regride...
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Pedro Britt  02.10.11 18h32
Muito bom, chega de segregação. Se ele foi vetado por ser gay, se esse foi o motivo, então está certo o STF e empresa deveria pedir desculpas publicamente pela segregação e exclusão imposta aos homossexuais
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Rogério Marques  23.09.11 23h54
Amigos, A justiça simplesmente compensou o constrangimento, danos e prejuízos do ator. Realmente a empresa tem todo direito de escolher os atores e assim foi feito. A justiça nao mandou a empresa refazer o comercial. No mais o ator ia interpretar um papel de hetero, coisa mais normal. O ator Miguel Falabela já fez inumeros comerciais de tv interpretando muitissimo bem homens heteros. E me parece que o ator Menotti é muito talentoso e de muito bom estilo tbm.
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luana   23.09.11 16h59
Sou gay e compro meu carro la sim, quem nao compra é pq nao tem dinheiro mesmo pra comprar, nunca mais piso meus pes nessa zum zum, estao achando q por sermos gays temos mais direitos do que qualquer outro ser humano?? isso ja ta virando palhaçada ser gay por gostar de outra pessoa do mesmo sexo? ou pq é moda?? eis a questao..
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