Na 57ª Expoagro, realizada em Cuiabá, tive a oportunidade de ministrar uma palestra no Fórum do Setor Produtivo com o tema “Clima, Produção Animal e Cidades: como comunicar sem cair em extremos?”. O convite para esse diálogo reflete a urgência de construirmos pontes entre o que acontece no campo e o que é percebido nas cidades.
A agropecuária brasileira é, ao mesmo tempo, uma potência produtiva e um alvo constante de críticas. Quando o tema é mudança climática, surge um dilema comunicacional: o setor é frequentemente retratado como vilão, mesmo diante de evidências concretas de avanços tecnológicos, práticas regenerativas e sistemas produtivos que ajudam a mitigar os impactos ambientais.
Segundo o IPCC (2022), a agropecuária é responsável por cerca de 11% das emissões globais de gases de efeito estufa, menos do que os setores de energia, indústria e transporte. Ainda assim, essa porcentagem tem sido, muitas vezes, utilizada fora de contexto.
O problema, portanto, não está apenas nas emissões, mas na forma como comunicamos — ou deixamos de comunicar — o que acontece no campo. A desinformação, alimentada por redes sociais e marcada por extremismos e simplificações ideológicas, afasta o consumidor do produtor e gera ruídos que prejudicam a reputação do agro nacional, especialmente no exterior.
É urgente construir pontes entre o campo e a cidade. Isso exige uma comunicação equilibrada, fundamentada em evidências científicas e aberta ao diálogo. Não se trata de negar que existam impactos ambientais na agropecuária — porque eles existem em todo processo de intervenção humana. O ponto é que devemos tornar conhecidos os avanços e apontar os caminhos possíveis. Produzir proteína animal de forma mais sustentável já é uma realidade no Brasil, e pode ser ampliada com a criação e o fortalecimento de conexões entre a ciência, o setor produtivo, o setor público e a sociedade.
O futuro do agro não depende apenas do que produzimos, mas de como contamos o que produzimos. Em tempos de polarização, comunicar com base na ciência é o caminho mais seguro para gerar confiança, promover entendimento e garantir que o agro brasileiro siga crescendo com responsabilidade, legitimidade e reputação global.
Lucas Oliveira de Sousa é professor e pesquisador da Faculdade de Agronomia e Zootecnia da UFMT, consultor e palestrante.
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