Tá ficando chato ouvir e ler essa história que a educação no Brasil vai mal pelo descompromisso dos estudantes. Vou analisar este assunto por etapas.
Em primeiro lugar o processo educacional de uma criança começa em casa. Casa educacional não é esta que o governo está prometendo construir uma por hora. Isto é alojamento de pobre e modelo anti-educacional. Como as mansões dos privilegiados econômicos e sociais, que por falta muitas vezes de amor e tempo para se dedicarem às crianças, mais se assemelham a um ninho vazio cheio de serviçais. É a pobre criança rica criada pela babá. O filho do pobre e do rico muitas vezes crescendo neste ambiente de ausência de educação caseira, sofrem com o processo de descompromisso com o futuro.
É defesa natural daqueles que nunca sentiram o compromisso de casa e, depois da escola na sua formação. Casa educacional, daí o termo educação vem de casa, é aquela com a presença do pai e mãe empenhados na formação de seus filhos. São os melhores e insubstituíveis professores do mundo. Quando há falha neste início teremos, na maioria das vezes, o estudante descompromissado.
Num país tão injusto com os pobres e sem dignidade para tratar as suas crianças, o resultado é sempre desastroso. Poucas crianças têm casa com pais atentos à orientação dos valores de qualidade da vida e, muito menos acesso à educação infantil - obrigação do Estado.
Prosseguindo no processo de formação de gente, vem o ensino fundamental e médio. Pelo nome "ensino" pressupomos que estas crianças já estão na fase de aprendizagem. Há cem anos a população cuiabana e os políticos deixaram uma marca ideológica daquilo que consideravam educação, perpetuando no prédio mais bonito de Cuiabá ao lado da Catedral, o Palácio da Instrução. A geração que freqüentou o Palácio, então escola, já estava educada em casa. No Palácio procurava instrução.
O que dizer do Ensino Superior? Nós professores universitários recebemos um produto acabado da nossa sociedade em termos educacionais e apenas tentamos ministrar instruções técnicas para o exercício profissional. Após os dezesseis anos não mudamos mais os valores de um adolescente. Falar e, o pior, repetir que o aluno é o grande responsável pela péssima educação dos brasileiros é pelo menos uma frase infeliz.
Percorri Mato Grosso várias vezes e sempre conversei com sua gente trabalhadora e humilde. Com freqüência a família relatava-me que tirara os filhos da escola porque lá não estavam aprendendo nada e perdendo tempo.
A repetição escolar não existe mais, escondida pela promoção automática de uma série para outra. É um jeitinho malandro de arrumar as estatísticas vergonhosas e habilitar o Brasil a não perder os financiamentos externos.
A evasão escolar, altíssima entre nós, é justificada como mudança de domicílio como se fôssemos ciganos. O sistema racista e antidemocrático de ingresso nas Universidades só serve para entupir os brasileiros com diplomas ornamentais e ociosos e nos colocar, perante o mundo, como os inventores do analfabeto funcional em todos os níveis de ensino.
Este modelo surgiu na ditadura com a chamada lei do boi que favorecia os filhos dos fazendeiros nos cursos de Ciências Agrárias. É fácil imaginar o que aconteceu. Todo aluno morador da Avenida Atlântica no Rio e dos Jardins em São Paulo, arrumavam um atestado de filho de fazendeiro e ingressavam na Universidade. Este modelo agora em implantação é abrangente para todos os cursos superiores. Não vai dar certo. Falam do regime militar e vivem copiando, e mal, os projetos que não emplacaram durante este período. Entenderam?
Professor não é simplesmente aquele que repassa conhecimentos e sim o que aprende com os seus alunos. Caráter, personalidade e relacionamento com as pessoas são mais importantes que o conhecimento.
O professor do século XXI tem como característica principal motivar os seus alunos. Despertar neles o interesse pelo saber, pesquisa e compreensão dos fatos. O texto acadêmico encontra-se em livros e na Internet. Não podemos julgar os nossos jovens pela nossa incompetência. Eles percebem quando estão sendo logrados e procuram novos caminhos. A escola que temos hoje é a deformidade social onde estes jovens estão inseridos. Não é caminho. É uma fábrica de números para discursos políticos. Compreendamos os jovens. Reconheçamos o nosso erro. Não o julguemos. O mundo agora é plano. O que perdemos na infância não volta mais como quando o mundo era redondo e poderíamos recomeçar.
GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
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