Em Mato Grosso, há uma evidente presença de dois arquétipos culturais: o cuiabano, encontrado nas cidades centenárias e na Baixada Cuiabana; e o sulista, originado dos processos migratórios.
O sulista, que chegou na década de 1980, resultou na criação de dezenas de cidades e no fortalecimento do estado como uma potência econômica, impulsionada pelo agronegócio. Dois perfis bastante diferentes em relação aos comportamentos e às características psicográficas.
O cuiabano é irreverente, extremamente hospitaleiro e festeiro, resultado da combinação de povos indígenas e bandeirantes. Por outro lado, o sulista é mais destemido, empreendedor e introvertido, resultado da imigração alemã e polonesa em busca de oportunidades no Brasil. E qual é a relação disso com a eleição do governador de Mato Grosso?
Para se sentirem representados na escolha do voto, esses arquétipos recorrem a pressupostos estruturais do inconsciente coletivo. Não é um fator único e determinante, mas exerce uma influência significativa na percepção dos candidatos. Neste século, Mato Grosso foi governado pelos dois arquétipos mencionados anteriormente.
No perfil "Cuiabano", destacam-se Dante de Oliveira, Pedro Taques e Mauro Mendes. Embora seja natural de Goiás, Mauro Mendes se mudou para Cuiabá ainda na adolescência, onde construiu sua trajetória de sucesso. Por outro lado, no perfil "Sulista", estiveram Blairo Maggi e Silval Barbosa, ambos originários do sul e resultado dos processos migratórios.
Acredita-se que a combinação dos dois arquétipos na chapa majoritária — um governador e outro vice — é a fórmula para o sucesso eleitoral. E, de fato, praticamente todos tiveram êxito dessa maneira: Dante e Rogério Sales; Blairo e Iraci França; Taques e Fávaro; Mauro e Pivetta; Silval e Chico Daltro.
Finalmente, chegamos aos tempos atuais. Nas rodas de conversa das bolhas políticas, que vivem uma intensidade desproporcional ao processo eleitoral, percebo uma preocupação quase totalmente voltada ao fator ideológico. Isso ocorre como se a eleição de um governador não envolvesse também o componente pragmático como fator mais influente que o ideológico, o que é um grande erro.
Nesse contexto, dois nomes estão sendo fortemente considerados: o senador Wellington Fagundes e o vicegovernador Otaviano Pivetta. Fagundes é filho de Rondonópolis, cidade que desempenhou um papel importante no desenvolvimento do agro e na migração sulista. Por outro lado, Pivetta é sulista e chegou a Mato Grosso durante o processo migratório dos anos 80, estabelecendo-se em Lucas do Rio Verde. Portanto, temos dois perfis que representam o mesmo arquétipo.
E qual é o destino do arquétipo cuiabano? Na disputa, ele será considerado apenas como candidato a vice? É difícil conceber uma eleição acirrada em que apenas os arquétipos sulistas liderem as chapas. Em contrapartida, há nomes que se encaixam ao perfil “cuiabano’ enfrentando desafios para se colocar na competição, como Jayme Campos e Dra. Natasha .
Se isso acontecer, pela primeira vez que a disputa ao Governo de Mato Grosso será protagonizada por dois perfis do arquétipo sulista. A entrada de um nome que simbolize o arquétipo cuiabano pode revitalizar a competição, atrair um segmento do eleitorado que ainda não se vê representado pelos nomes mencionados e introduzir uma emoção a essa disputa, que está bastante trivial. Ou será responsabilidade dos candidatos encontrar vices à altura, essencialmente cuiabanos, que possam amenizar a sensação de vazio deixada pela ausência de um arquétipo.
E lembrem-se, o voto para Governador não é apenas baseado em ideologia; levem em conta o arquétipo e o pragmatismo.
Caíque Loureiro é mestre em marketing, professor de graduação e pós-graduação.
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