Março de 2018: a vereadora Marielle Franco (PSOL) foi morta a tiros dentro de um carro no Rio de Janeiro. Anderson Pedro Gomes, motorista do veículo, também foi baleado e morreu. A outra passageira, assessora de Marielle, foi apenas atingida por estilhaços.
A principal linha de investigação da Delegacia de Homicídios é execução. Logo após o crime, pipocaram vários boatos pela internet: “Marielle engravidou aos 16, foi casada com Marcinho VP e foi eleita pelo Comando Vermelho”.
Todas as informações são falsas! Marielle teve a única filha, Luyara Santos, aos 19, e o pai dela é Glauco dos Santos. Não faz sentido também a afirmação de que Marielle foi eleita pelo CV. Ela recebeu 40% dos votos na Zona Sul e na Barra da Tijuca – foi a quinta mais votada em toda a cidade.
Esses boatos são conhecidos como “fake news” – histórias falsas que parecem ser notícias, espalhadas na internet ou por meio de outra mídia, normalmente criadas para influenciar visões políticas ou como piada, segundo o dicionário de Cambridge.
Um boato se propaga porque encontra eco nos ouvintes – a história faz sentido naquele momento. Aliás, a fonte da informação influencia diretamente na decisão do receptor de passar ou não a mensagem adiante – se o transmissor é de sua confiança, a história lhe parece crível e provavelmente você vai compartilhá-la.
A questão é que antes a credibilidade de uma pessoa era baseada em seu trabalho, seus estudos etc. Hoje em dia, a confiabilidade de alguém é medida pelo número de seguidores em suas redes sociais. Caro leitor, preste atenção!
A disseminação de boatos pode ter consequências muito graves, inclusive a morte de pessoas inocentes. Não acredita? No dia 5 de maio de 2014, a dona de casa Fabiane Maria de Jesus foi espancada até a morte por moradores de Guarujá, no litoral de São Paulo. O motivo? Fabiane foi acusada de praticar magia negra com crianças por causa de uma notícia falsa compartilhada pelas redes sociais.
O boato gerado em uma página do Facebook e um retrato falado da dona de casa se espalharam pela internet. Cinco pessoas foram condenadas pelo crime e, em decorrência dessa tragédia, Fabiane pode dar nome a uma nova lei, em tramitação no Congresso Nacional, que visa punir quem incitar crimes pela internet.
A despeito de todos os problemas já citados e tantos outros, como a criação de páginas de cunho político que propagam “fake news” em mídias sociais, sites hospedados em países distantes e com legislação branda ou inexistente sobre a disseminação de mentiras, como a Macedônia (veja o ótimo documentário “Fake News: Baseado em fatos reais”, da GloboNews), e jovens brasileiros pagos para administrar contas falsas e publicar opiniões forjadas em redes sociais durante as eleições de 2014 (leia a excelente matéria “Exclusivo: investigação revela exército de perfis falsos para influenciar eleições no Brasil”, da BBC Brasil), temos que fazer um mea-culpa. Somos todos culpados! Ou não?
Pare e pense: você já compartilhou notícias no WhatsApp, Facebook ou em qualquer outra plataforma online sem checar a veracidade da informação? Pois é! Eu também! Como combater a disseminação de notícias falsas? Fique atento aos sinais: sites registrados com domínios suspeitos (diferentes de .com e .br), matérias não assinadas, textos cheios de opiniões e discursos de ódio (“haters”) e sites com propagandas por toda parte (ads do Google, por exemplo) – costumam ser reprodutores de “fake news”.
Cuidado também com o “clickbait” – título chamativo que caça cliques e compartilhamentos nas redes sociais. Além disso, desconfie de matérias com muitos erros de português.
A pressa é inimiga da perfeição – e da verdade. Em contraposição ao 1° de abril, conhecido como o dia mundial da mentira, foi criado o Dia Internacional da Checagem de Fatos – 2 de abril.
O objetivo é incentivar a prática da verificação das informações para combater a disseminação de notícias falsas.
As eleições estão chegando. Duvide! Verifique! Não seja cúmplice!
ALEXANDRE GUIMARÃES é jornalista, professor e servidor público.
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