A América Latina Logística (ALL), herdeira da concessão por 90 anos da Ferronorte/Brasil Ferrovias está blefando, conforme anunciei neste espaço no início do ano. As obras não foram reiniciadas, não existe previsão da chegada dos trilhos até Rondonópolis e muito menos até Cuiabá.
Já se passaram mais de 8 anos que o trecho Alto Araguaia-Rondonópolis-Cuiabá não saiu do papel. Ou seja, é uma irresponsabilidade da ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre) ter aprovado um acordo por meio de troca de ações entre os controladores das empresas Ferronorte e ALL, sem qualquer preocupação com o prazo de entrega das obras. É mais um descaso do Ministério dos Transportes com Mato Grosso. A ALL começa quando quer, prioriza o que bem entende e entrega quando quiser.
A empresa ALL está muito mais preocupada em adquirir malhas ferroviárias existentes e divulgar nos jornais e revistas o seu patrimônio de mais de 20.000 (vinte mil quilômetros) de trilhos, incluindo sua rede de 8.000 quilômetros na Argentina, do que propriamente investir em Mato Grosso. O presidente da ALL, senhor Bernardo Hees, aliás, não gosta de Cuiabá, do nosso clima, da nossa gente e, por isso, aqui nunca vem. Ele só pensa no retorno financeiro. E a maior prova do que eu escrevo foi o financiamento de mais de 1(hum) bilhão de reais no BNDES que a ALL do senhor Bernardo Hees conseguiu, mas não para investir em Mato Grosso. Ele preferiu investir na Argentina.
Por ser um grupo privado, a ALL não respeita a história da ferrovia, de todos os seus participantes, da luta liderada por um cuiabano nascido no Coxipó da Ponte, da luta da imprensa, dos empresários, trabalhadores, políticos de todos os partidos por mais de 30 anos. A ALL não respeita, enfim, a população mato-grossense que aguarda há décadas a ferrovia até Cuiabá. Há um século atrás, o escritor Euclides da Cunha defendeu essa ligação pelos trilhos (livro "Contrastes e Confrontos".
Portanto, diante desse descaso com Cuiabá e Mato Grosso, diante do uso indevido dessa concessão, dos prejuízos econômicos e sociais ao nosso Estado, do atraso inexplicável há vários anos, peço publicamente ao Ministério Público Federal e a Justiça Federal - para o bem público - que encaminhe a cassação da detentora do contrato de concessão, a ALL, e que entregue na responsabilidade da União a construção da Ferrovia Senador Vuolo, a exemplo do que já acontece com a Ferrovia Norte-Sul e a Transnordestina.
Somente dessa maneira, o Governo Federal poderá cumprir o que determina a Lei número 6.346 de junho de 1976, que incluiu no Plano Nacional de Viação a ligação ferroviária São Paulo-Rubinéia(SP)-Aparecida do Taboado(MS)-Rondonópolis-Cuiabá.
Da forma como está colocada, é só enganação. O nosso Estado não merece esse tratamento inconseqüente e irresponsável para um projeto da maior envergadura como este. Como bem disse o ex-presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy "pode-se enganar a todos por pouco tempo, pode-se enganar alguns o tempo todo, mas não pode enganar a todos o tempo todo".
Esse descaso só contribui para a morte da ferrovia e a favor do fortalecimento de um modelo de transporte voltado totalmente para as rodas do caminhão, mais caro, mais poluente e mais individualista.
Qual será a próxima desculpa? Não sabemos, mas continuam inventando. "Aquele que diz uma mentira não sabe a tarefa que assumiu, porque está obrigado a inventar vinte vezes mais para sustentar a certeza da primeira". (Alexander Pope)
VICENTE VUOLO é filho do senador Vicente Emilio Vuolo (autor do projeto 312-A, transformado na lei 6.346/76 - Ferrovia São Paulo - Rondonópolis - Cuiabá).
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