Do latim lupanare, a denominação vem da Roma Antiga, significa lugar de lupa (Loba), como eram chamados os prostíbulos, local onde frequentadores pagam pelo serviço sexual, podendo variar em termos de luxo e serviços oferecidos, frequentado por pessoas de todas as classes sociais.
No Aurélio o significado à mostra é conciso: S. m. V. prostíbulo. Mas seu sinônimo é abrangente: zona, bordel, cabaré, rendez-vous, casa de tolerância, casa de prazer, casa da tia, meretrício, ou popularmente puteiro etc.
Em Pompeia, considerada a cidade mais promíscua do Império Romano, as escavações arqueológicas resgatam, em 1862, a estrutura de uma edificação de dois andares, bem preservada, datada do século I a.C., tendo dez quartos (incomum à época) e inúmeros afrescos eróticos nas paredes, retratando mulheres e homens envolvidos em atos sexuais. Com população de 10 mil habitantes, durante o primeiro século, contava 35 lupanares, o que representa um prostibulo para cada 71 homens.
No Egito Antigo, 2000 a.C., não havia prostíbulo, “a prostituição” estava mais relacionada com a prática de rituais em cultos religiosos e a troca de favores na vida social. Em contexto religioso, as sacerdotisas ou servas do templo podiam ter envolvimento sexual como parte de rituais sagrados (conexão com o divino). Havia também a troca de favores em contextos sociais, as relações sexuais eram vistas como uma prática de poder ou de assistência mútua.
Em Cuiabá, cidade conhecida pela intensa e agitada vida noturna, os prostíbulos sempre estiveram presentes no cenário urbano, em todas as épocas. Nos redutos boêmios, ainda hoje, costumam-se ouvir histórias inusitadas ocorridas nos cabarés da cidade, homens presos em afrodisíacos leitos, frequentemente indiferentes à crueza e aos riscos vivenciados pelas protagonistas (violência, doenças, drogas etc.). Na noite cuiabana, não era incomum ‘prostitutas de luxo’ serem vistas em ambientes frequentados por ditas ‘mulheres de bem’ (high society), caso de casas como Sayonara e Balneário.
Na linguagem popular, o prostibulo costuma ser conhecido pelo nome da proprietária, geralmente ex-prostitutas mais velhas, ou do lugar em que funciona, ou mesmo de fantasia etc. Quase sempre suas proprietárias (ou proprietários) gozam de prestígio e respeito na comunidade. Em Cuiabá não é diferente, citamos, dentre outros, Lurdinha, Carminha, Juvenilha, Ponciana, Xá Rosa, Nhozinho Fonfom, Popozudas, Executives Night Club, Bar Lago das Rosas, Bar Colorido, Escritório Bar, Arranha-céu, Bar Brotinho, Bar São José, Bar da Gaúcha, Valdir Drinks, Tabaris, Palácio das Águias, Cabeça de Boi, Ribeirão, Beco da Lama, Pedra Branca, Bataclan, Crystal Night Club.
Consabidamente a zona boemia abriga inter-relações sociais, notadamente quando inserida na comunidade. O preconceito que grassa gera sofrimento, mas ocorre também compreensão, principalmente ao se reconhecer que, longe de ser má, cada mulher tem motivos específicos que a mobiliza a tal prática, sobretudo por carência econômica e/ou afetiva.
Prostíbulos, tanto quanto prostituição, são fenômenos atemporais, mostra a história. A mídia local tem informado, com repercussão nacional, que o gestor municipal da capital ameaça acabar com os cabarés em área urbana do município. Talvez devesse o nobre alcaide propor algo mais efetivo: primeiro levantar o número de prostíbulos, suas condições sanitárias, examinar a saúde e conhecer o perfil social das prestadoras de serviços, buscando assim oferecer subsídios à elaboração e implementação de um programa social e de saúde pública voltado ao acompanhamento, bem-estar e saúde das trabalhadoras do sexo e, inclusive, oferecer alternativas e apoio para aquelas que queiram deixar a prostituição. No entanto, a interpretação dessa realidade não deve ser atravessada pela fantasia, o parecer socioeconômico e de saúde pública deve abordar com profissionalismo e zelo à questão.
Que a demografia de luxúria e sexualidade na Cidade Verde, em seu tricentésimo sexto aniversário, não desbanque a célebre Pompeia.
Paulo Modesto Filho é engenheiro e doutor em Meio Ambiente e Biologia Aplicada pela UCL-Bélgica
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