Dia desses, o deputado Percival Muniz, presidente do PPS, propôs a gênese de uma candidatura híbrida à sucessão estadual em 2010. Um postulante que fosse meio governo e meio oposição. Muniz batizou essa figura de ‘candidato minotauro'. Ou seja, com a cabeça renovada, mas o corpo equilibrado na estrutura oficial.
Talvez por desconhecimento da mitologia grega, o parlamentar tenha buscado, justamente, essa lenda. Minotauro tinha físico humano e cabeça de touro. Era selvagem, devorava jovens atenienses e vivia num labirinto construído sob o castelo do rei Minos, em Creta.
A ‘candidatura minotaura', defendida por Percival Muniz pode padecer das mesmas características de seu inspirador mitológico. Sem uma identidade política objetiva, está fadada a viver num labirinto de contradições. Como o mito helênico, tem vocação para devorar os homens de boa fé.
Na percepção do deputado estadual, no entanto, uma postulação branda que adote uma atitude crítica frouxa e, ao mesmo tempo, herde o espólio eleitoral do governador Blairo Maggi, teria amplas chances de se firmar no pantanoso terreno das conveniências políticas. Mas, como minotauro, essa figura tem as deformações de um monstro. E, convenhamos, um monstro não passa despercebido de ninguém.
Diante do monumental desejo de criar eufemismos, Muniz, que nos últimos dias empregou seus recursos lingüísticos para afrontar os colegas da Assembléia Legislativa, comparando-os a caititus, ocupou farto espaço na mídia na semana que passou.
Ousaria dizer que a engenharia genética de Percival (aliás, nome retirado de uma fábula britânica, a do Cavaleiro da Távola Redonda, que perseguia o cálice sagrado) poderia gerar outro postulante de proporções mitológicas: o ‘candidato sereia'. De ótima aparência da cintura para cima, mas com um enorme rabo!
Coerência é o mínimo que os eleitores esperam de seus representantes. Não adianta mais inventar moda sem combinar com o povo. A literatura é farta em demonstrar que a sociedade estranha casuísmos e arranjos espúrios. Políticos experientes foram vítimas das armadilhas da presunção e do excesso de confiança.
Não se pode amarrar num mesmo saco conveniências e convicções. São substantivos femininos que coexistem perfeitamente na gramática; mas se conflitam no aspecto doutrinário e filosófico.
Eleição é um movimento político, uma revolução involuntária que renova as esperanças da sociedade de tempos em tempos. Introduzir nódoas neste debate significa conspurcar a importância desta manifestação popular. Não dela como parte de um protocolo institucional, mas sim como a virtude das legítimas aspirações democráticas da comunidade.
O povo não quer saber de minotauros ou de sereias, quer candidatos que espelhem suas verdades, que tenham a sua cara e saibam falar a sua língua.
Na mitologia grega, Teseu ludibriou o minotauro estendendo um novelo de lã pelo labirinto, matando-o em seguida; Ulisses singrou o mar das sereias, sem perigos, tapando os ouvidos dos argonautas com cera, que, assim, não foram seduzidos pelo canto das mulheres peixe.
Eleição não é lenda; nem tampouco candidaturas podem ser confundidas com mitos. Eleição é fato e, como escreveu Chico Buarque, "feita de lágrima e lama no sapato".
PAULO LEITE é jornalista e escritor em Cuiabá.
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