Acompanhei anos a fio a luta do meu saudoso pai no sentido de preservar a história e a cultura deste Estado e principalmente da nossa querida Cuiabá.
Madrugador como foi, sentava-se impreterivelmente às 4 horas da manhã em frente a sua surrada máquina de escrever para colocar no papel as lembranças da cidade que amou como poucos.
Produzia páginas e páginas de compilações que futuramente fariam parte de uma das 40 obras que deixou.
Procurava a todo custo, e com a única ajuda que recebeu nos seus livros, o depoimento de seus amigos pesquisadores, testemunhas vivas de vários acontecimentos da cidade e deste Estado, deixar registrado para as futuras gerações um pouco da nossa história.
Convocado pelo ex-governador Garcia Neto para ser o primeiro presidente da Fundação Cultural de Mato Grosso e, através dela, organizar estruturar e fomentar a nossa cultura, começou a juntar cacos dessa desorganizada e esparramada história com a finalidade de disponibilizar, aos jovens desta terra, um banco de dados riquíssimo e desconhecido da maioria da população.
Anos depois, a Fundação Cultural de Mato Grosso deu origem à Secretaria de Cultura do Estado de Mato Grosso, hoje, segundo o que a imprensa divulga, prestes a ser implodida, não se sabe se por motivos pessoais ou partidários.
Ah, pai, se hoje você estivesse vivo, e lendo estas notícias, veria como a força de uma caneta pode apagar a história de um bravo povo.
Estaria lamentando ao ver seu sonho e de seus amigos ir por água abaixo para satisfazer vaidades políticas e picuinhas de quem não tem nenhum compromisso e que nada, eu disse absolutamente nada, conhece da nossa história.
Tudo que fizeram Eurico Gaspar Dutra, Candido Mariano da Silva Rondon, Joaquim Murtinho, Estevão e Rubens de Mendonça, Dom Aquino Correa, Corsindio Monteiro, Isac e Nilo Póvoas, Silva Freire e milhares de outros nomes importantíssimos que construíram nossa historia é insignificante e secundário a quem não tem intimidade com ela. Alias, na ótica de quem quer implodir o nosso passado, esse “povinho” que citei aí em cima deve ter a mesma importância que os “brothers” de um imoral programa de TV.
Aposto que o autor da ideia mal ouviu falar deles, e se ouviu, aposto que sabe muito pouco sobre os mesmos.
E olha que o autor da ideia já foi executivo! O que deve ter feito no seu município pela cultura e pelo esporte?
Um Estado prestes a receber uma Copa do Mundo, e mesmo que nunca recebesse, merece viver sem uma Secretaria de Esportes, sabidamente sendo uma das maneiras de se tirar o jovem da rua?
Governador Silval, nosso povo e nossa gente têm a certeza absoluta de que absurda proposição será rechaçada de maneira veemente por V. Excia. Vilipendiar em cima de nossos antepassados, personagens que ajudaram a escrever com sangue e glória as páginas que nos orgulham, é falta do que fazer.
Realmente, como dizia um velho poeta: “sentir cultura é para poucos!”.
EDUARDO PÓVOAS é cidadão cuiabano.
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