É bem verdade que ocorrem muitas coisas erradas no processo político brasileiro e mundial. Agora, não vejo com bons olhos as campanhas difamatórias da política e dos políticos como um todo. Isso porque, além de não acrescentar qualquer conhecimento construtivo e/ou transformador da realidade, tais campanhas, muitas das vezes, fomentam a alienação e afastam as pessoas de bem da política e permitem que as más intencionadas se perpetuem no centro do poder.
Dizer que na política somente existe o mal, é o mesmo que dizer que você nunca cometeu erros em sua vida. Ou seja, os dois extremos são falaciosos.
Como disse Bertolt Brecht: "O pior analfabeto é o analfabeto político. (...) O analfabeto político é tão ignorante que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe ele que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
Antes de demonizar a política, é importante sabermos que ela nada mais é do que o meio humano existente para se administrar a pluralidade dos interesses existentes na sociedade, que ainda não é homogênea (e, provavelmente, nunca será - pelo menos aqui na Terra), em busca da promoção do bem comum, equilibrando as condições fundamentais existentes e gerando oportunidades para todos.
Quando algo destoa disso, daí se configura a manifestação da famigerada corrupção, de várias formas possíveis, desde o modo tradicional de desvios de recursos, como o mais sutil, porém não menos pernicioso, da inversão das prioridades, colocando os interesses privados, e às vezes não confessáveis, à frente do interesse público primário da sociedade.
Ocorre que, ao invés de se omitir perante os erros cometidos por outros seres-humanos, na política, a sociedade tem que se levantar e ocupar todos os espaços existentes na estrutura estatal vigente, bem como reivindicar o aprofundamento dos instrumentos de participação social na administração pública brasileira, para combatermos o mal e cooperarmos para a implementação do bem - inclusive, mediante a correição dos nossos próprios equívocos.
Deveríamos nos unir e exigir que no caput do artigo 37 da Constituição Federal da República seja acrescentado mais um princípio da administração pública brasileira, talvez o primeiro e o mais importante, o princípio da participação social, a fim de fazermos com que o orçamento participativo, os conselhos gestores e de direitos, as conferências, as ouvidorias, os plebiscitos e referendos sejam considerados regra, direito fundamental e inalienável da sociedade, e não mera exceção, facultativa, como é hodiernamente.
Por fim, como bem exclamou Martin Luther King: "O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons."
Paulo Lemos – advogado administrativista e eleitoralista, membro da Comissão de Direito Eleitoral da OAB/MT, atual Ouvidor-Geral da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso,