Cuiabá, Quinta-Feira, 19 de Junho de 2025
PAULO LEMOS
04.11.2012 | 12h52 Tamanho do texto A- A+

O que mais me preocupa é o silêncio dos bons

A sociedade tem que se levantar e ocupar todos os espaços existentes

É bem verdade que ocorrem muitas coisas erradas no processo político brasileiro e mundial. Agora, não vejo com bons olhos as campanhas difamatórias da política e dos políticos como um todo. Isso porque, além de não acrescentar qualquer conhecimento construtivo e/ou transformador da realidade, tais campanhas, muitas das vezes, fomentam a alienação e afastam as pessoas de bem da política e permitem que as más intencionadas se perpetuem no centro do poder.

Dizer que na política somente existe o mal, é o mesmo que dizer que você nunca cometeu erros em sua vida. Ou seja, os dois extremos são falaciosos.

Como disse Bertolt Brecht: "O pior analfabeto é o analfabeto político. (...) O analfabeto político é tão ignorante que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe ele que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Antes de demonizar a política, é importante sabermos que ela nada mais é do que o meio humano existente para se administrar a pluralidade dos interesses existentes na sociedade, que ainda não é homogênea (e, provavelmente, nunca será - pelo menos aqui na Terra), em busca da promoção do bem comum, equilibrando as condições fundamentais existentes e gerando oportunidades para todos.

Quando algo destoa disso, daí se configura a manifestação da famigerada corrupção, de várias formas possíveis, desde o modo tradicional de desvios de recursos, como o mais sutil, porém não menos pernicioso, da inversão das prioridades, colocando os interesses privados, e às vezes não confessáveis, à frente do interesse público primário da sociedade.

Ocorre que, ao invés de se omitir perante os erros cometidos por outros seres-humanos, na política, a sociedade tem que se levantar e ocupar todos os espaços existentes na estrutura estatal vigente, bem como reivindicar o aprofundamento dos instrumentos de participação social na administração pública brasileira, para combatermos o mal e cooperarmos para a implementação do bem - inclusive, mediante a correição dos nossos próprios equívocos.

Deveríamos nos unir e exigir que no caput do artigo 37 da Constituição Federal da República seja acrescentado mais um princípio da administração pública brasileira, talvez o primeiro e o mais importante, o princípio da participação social, a fim de fazermos com que o orçamento participativo, os conselhos gestores e de direitos, as conferências, as ouvidorias, os plebiscitos e referendos sejam considerados regra, direito fundamental e inalienável da sociedade, e não mera exceção, facultativa, como é hodiernamente.

Por fim, como bem exclamou Martin Luther King: "O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons."

Paulo Lemos – advogado administrativista e eleitoralista, membro da Comissão de Direito Eleitoral da OAB/MT, atual Ouvidor-Geral da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso,

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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COMENTÁRIOS
9 Comentário(s).

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REGINA MARIA FREITAS DA SILVA  07.03.21 09h29
Gostei muito de sua explanação. Objetiva, contendo até a solução do assunto abordado, sobre o item que deveria ser inserido nano art.37 da CF. Parabéns!
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João Ricardo Nogueira  05.11.12 17h46
Parabéns Paulo! As pessoas precisam entender, que é participando do processo político que conquistamos as mudanças necessárias na construção de uma sociedade melhor, e que reclamar sem nada fazer é o mesmo que se omitir, e que a omissão nos torna cúmplices das várias mazelas sociais.
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Vinícius  05.11.12 14h02
Rui barbosa certa vez disse "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto." Mas o mestre não se desanimou, não envergonhou-se, ao contrário, lutou por toda a vida contra as mazelas da corrupção, ergueu a bandeira da honestidade e da esperança no congresso nacional, e pelo mundo afora. Mesmo dentro da Política (demonizada pelo opinião publica), só depende do homem manter-se no caminho reto, facil não é, mas pode e deve ser feito.
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Julio Cesar  05.11.12 10h33
Gostei muito de sua dissertação a respeito da política . Estava tentando encontrar pessoas que concordassem que o mais preocupante na sociedade hoje seja a falta de participação dos jovens para com a política
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BRUNO FREITAS ARAUJO  05.11.12 07h51
Precisamos desenvolver em nossas crianças um sentimento de nacionalismo, onde "o nosso estará antes do meu". Deveríamos nos sentir privilegiados por vivermos nesta terra, assim, o comprometimento de cada um seria maior. Enfim.... Parabéns Dr pelas belas colocações, peculiares em sua fala.
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