Cuiabá, Segunda-Feira, 13 de Outubro de 2025
RENATO DE PAIVA PEREIRA
13.10.2025 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

O Rico e o Novo-rico

O desejo de parecermos melhores do que somos é uma balda que nos acompanha

“Coisa de Rico: A vida dos endinheirados brasileiros” (Editora Todavia) é um livro do antropólogo Michel Alcoforado lançado em agosto último, que está fazendo grande sucesso no país.

 

Alguns se fixam em joias exuberantes e extravagantes vestidos de festa

Ele investiga como funciona o mundo dos muito ricos no Brasil, não apenas em termos financeiros, mas também seus hábitos sociais e comportamentos extravagantes. Alcoforado parte da ideia de que, para eles, não basta ter dinheiro — é preciso “parecer rico”.

 

A escrita é leve, bem humorada e embasada em observações coletadas pelo autor para uma tese de doutorado. Chama a atenção a dificuldade do escritor em entrevistar os ricaços, que sempre mantêm prudente distância dos “de fora”. Alcoforado só começou a ser aceito no reduto deles quando ficou conhecido como “antropólogo do luxo”.

 

Talvez fosse interessante algum mestrando ou doutorando de antropologia desenvolver uma tese de final de curso com o título de “Novo-rico: uma praga urbana”. Neste caso, diferente do “antropólogo do luxo”, o acadêmico teria abundante material de pesquisa e fácil acesso a ele.

 

Novo-rico é aquele que ganhou uma boa grana de repente e, querendo mudar de turma, faz o impossível para participar de outro estrato social que ele considera mais “chic”. O problema é que sua falta de educação, de refinamento e de cultura passam a ser motivo de chacota no meio que deseja frequentar.

 

Novo-rico (substantivo) ou “noveau-riche”, como dizem os franceses, é diferente de novo rico (assim sem hífen). Este também fez fortuna rapidamente, mas continua “na dele”, preservando seus valores, os antigos amigos, seus hábitos simples e o comportamento discreto.

 

A maioria de nós conhece um nouveau-riche. Eles falam alto, são espaçosos e deselegantes no condomínio, onde quase sempre se recusam a cumprir as normas. Andam com os cachorros em lugar proibido, jogam lixo em qualquer lugar e latas de cerveja pela janela do carro.  São barulhentos nas suas recorrentes festas noturnas, que incomodam o quarteirão inteiro. Seus filhos são grosseiros, esnobes e vulgares.

 

Muitos têm um prazer mórbido em exibir suas embarcações luxuosas e carros esportivos.  Outros falam de seu avião particular e bolsas Louis Vuitton ou Hermès.  Alguns se fixam em joias exuberantes e extravagantes vestidos de festa. 

 

Há os que organizam bibliotecas por metro de lombada e, para se passarem por cultos, compram coleções de livros caríssimas que nunca vão ler ou consultar.

 

Outros brigam com os garçons no restaurante, dão “bafão” nos hotéis, humilham os funcionários que os atendem. Conheço alguns que usam sinetas para chamar a empregada doméstica, que nunca é tratada pelo nome.

 

Não acho que os ricos tradicionais com sua exibição discreta — o que hoje chamam de luxo silencioso — sejam melhores ou piores que os inconvenientes e ruidosos “noveau-riches”. Somos todos oriundos da mesma cepa (dividimos um ancestral comum com os chimpanzés, como nos ensina Darwin) e o desejo de parecermos melhores do que somos é uma balda que nos acompanha sempre, seja exibindo — cada um para seu público — um discreto e caro relógio Patek Philippe, uma Ferrari esportiva ou uma Moto CG 125.  

 

Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor. 

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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