Cuiabá, Terça-Feira, 5 de Agosto de 2025
GONÇALO ANTUNES DE BARROS
17.01.2024 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

Por quer as pessoas se matam?

Uma das maiores preocupações das ciências é o suicídio

Uma das maiores preocupações das ciências que cuidam da mente, como psicologia, psiquiatria, sociologia ou mesmo filosofia, é o suicídio e o estado psicológico anterior do suicida.

 

Em 1897, o sociólogo francês Émile Durkheim publicou "O Suicídio", uma obra seminal. Neste trabalho, Durkheim empreende uma investigação pioneira sobre o fenômeno do suicídio, explorando suas causas sociais e apresentando uma análise inovadora que fundamenta a sociologia como disciplina autônoma.

 

A abordagem de Durkheim é notável por sua ênfase na influência dos fatores sociais sobre o comportamento individual. Ele rejeita explicações puramente psicológicas ou biológicas para o suicídio, buscando compreender as dinâmicas sociais que levam a taxas variáveis desse fenômeno em diferentes grupos e contextos.

 

Durkheim classifica o suicídio em quatro tipos: egoísta, altruísta, anômico e fatalista. O suicídio egoísta resulta da falta de integração social, onde o indivíduo se sente isolado; o altruísta ocorre quando há uma integração excessiva, levando a um sacrifício pessoal pelo bem do grupo; o anômico é associado à desregulação social, como em períodos de crise econômica; e o fatalista decorre da opressão excessiva e regulamentação rigorosa.

 

Um dos conceitos-chave de Durkheim é a ideia de "solidariedade social". Ele argumenta que sociedades com maior solidariedade têm taxas mais baixas de suicídio, pois os indivíduos se sentem conectados e integrados. Contrariamente, sociedades com baixa solidariedade, onde prevalece o individualismo, apresentam taxas mais altas de suicídio egoísta.

 

Também, relevante é a teoria da anomia, que Durkheim desenvolve para explicar os altos índices de suicídio durante períodos de desorganização social.

 

A anomia ocorre quando as normas sociais são enfraquecidas, seja devido a mudanças rápidas na sociedade ou a crises econômicas, resultando em um estado de desconexão e falta de orientação.

 

Outros pensadores abordam o tema/fato do suicídio. A pergunta ainda persiste: afinal, por que as pessoas se matam?

 

Em sua análise fenomenológica, Heidegger explora a natureza da existência e como o ser humano é lançado no mundo. Ele argumenta que a ansiedade existencial, derivada da consciência da própria finitude, pode levar a uma busca por sentido. O suicídio, nesse contexto, pode surgir como uma tentativa desesperada de confrontar ou escapar dessa ansiedade.

 

Essas perspectivas oferecem uma gama variada de insights sobre o suicídio, desde análises sociológicas que consideram fatores sociais e estruturais até reflexões existenciais sobre liberdade, sentido e o confronto com o absurdo da existência humana. A compreensão do suicídio é complexa e multifacetada, exigindo uma abordagem holística que leve em consideração não apenas os aspectos sociais, mas também os filosóficos e psicológicos que moldam a experiência humana.

 

Sartre, em "O Existencialismo é um Humanismo," aborda a liberdade e a responsabilidade individual, discutindo como cada escolha molda nossa existência. O suicídio, para Sartre, é a "conclusão lógica" da liberdade, uma escolha extrema diante da responsabilidade radical que vem com a liberdade de criar o próprio significado na existência.

 

"O Mito de Sísifo," de Camus, é outra obra literária que explora a filosofia do absurdo e como a consciência desse absurdo pode levar ao questionamento da existência e, por vezes, à contemplação do suicídio. Ali, ele argumenta que o suicídio é uma fuga, uma recusa em viver em um mundo absurdo.

 

Enfim, sem querer dar o fim, antes, fazer florescer, especialmente em reflexão, vale muito o ensinamento de Albert Camus: a aceitação do absurdo, em vez da fuga, pode levar a uma revolta significativa contra as incertezas da vida.

 

É por aí...

 

Gonçalo Antunes de Barros Neto é juiz. 

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).




Clique aqui e faça seu comentário


COMENTÁRIOS
1 Comentário(s).

COMENTE
Nome:
E-Mail:
Dados opcionais:
Comentário:
Marque "Não sou um robô:"
ATENÇÃO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. Comentários ofensivos, que violem a lei ou o direito de terceiros, serão vetados pelo moderador.

FECHAR

Elis Catão  17.01.24 12h14
A Liberdade individual levada à conseqüencia última. Se temos direito à vida também temos direito à morte? Ou não temos direito, senão DEVER à vida?? São problemas que gosto de cavoucar na Filosofia. Ótimo texto, nobre amigo Saíto.
6
0



Leia mais notícias sobre Opinião:
Agosto de 2025
05.08.25 05h30 » Os seus frutos
05.08.25 05h30 » Como tornei-me negro
04.08.25 05h30 » A lenda Anita Garibaldi
04.08.25 05h30 » A Geometria das Florestas
04.08.25 05h30 » Adjudicação compulsória
04.08.25 05h30 » Diabetes tipo 2
03.08.25 08h30 » Agosto Lilás
03.08.25 05h30 » A távola redonda