Trânsito em transe

"Convulsão, choque de partidos, de tendências políticas, de interesses econômicos, violentas disputas pelo poder é o que ocorre em Eldorado, país ou ilha tropical. Situei o filme aí porque me interessava o problema geral do transe latino-americano e não somente do brasileiro. Queria abrir o tema "transe", ou seja, a instabilidade das consciências. É um momento de crise, é a consciência do barravento." Glauber Rocha.

"Instabilidade das consciências" seria o termo que melhor define hoje o pensar cuiabano, o viver cuiabano, ou melhor ainda, o viver no trânsito em Cuiabá. Não há um só momento de tranqüilidade no trânsito. Lugar de apelido como também Cuiabá foi outrora, hoje não mais transfere às pessoas um segundo identificar, mas sim, um identificar lugares de tristeza e de dor, de nervosismo, de transe: "rotatória da discórdia" (a do Despraiado ou do motel da bundinha), "rotatória do Santa Rosa" (em que basta seu nome, para imaginarmos o sofrimento das pessoas na "hora do rush"). Em todas elas não há solução, só transe.

Cuiabá cresceu, mas continua sendo administrada por alguns planejadores e gestores de trânsito com cabeça da década de 80, como se poucos carros tivessem circulando e poucas ruas fossem o necessário para o bem estar da cuiabania. E os problemas se avolumam com declarações descabidas de seus gestores máximos.

Isto é a tristeza do transe, que como Glauber Rocha, resplandece uma convulsão próxima, a cada dia que pensamos na Cuiabá da Copa, choque de interesses no circular nas ruas provocando instabilidade das consciências, choque de interesses econômicos e de cargos para ajustar outros interesses.

Mesmo quando ouvimos poucas e isoladas vozes afirmando que "é muito bom viver em Cuiabá" não conseguimos imaginar senão transes, pois a nossa realidade é outra, bem diferente da que ouvimos e vemos. E a realidade do sistema de gerenciamento do trânsito parece viver em outro planeta, ou talvez no Eldorado do saudoso Glauber Rocha.

Assim, as consciências que se formariam na realidade a cada dia se aproximam do transe, enxergando a Cuiabá que não vivemos distorcendo a realidade para a Cuiabá que de fato queremos, mas que estamos a cada dia tão distante dela. Como enxergar a Copa? Como enxergar fatos que de fato, possam nos conduzir a uma outra realidade que não conseguimos sequer imaginar.

Queremos acreditar que Cuiabá está se preparando para a Copa, mas as dificuldades e os problemas graves que ora vivemos nos fazem imaginar uma Cuiabá tão distante desse novo evento. E que nos faz entrar em transe. Mesmo a urgência, a premência de tempo não nos consegue nos fazer enxergar que estamos caminhando para um melhor evento. Sobretudo quando imaginamos automóveis e pessoas de outros Estados e de outros países circulando em nossas salas de visitas: o centro de Cuiabá, a Avenida Historiador Rubens de Mendonça, a Avenida Getúlio Vargas, a Avenida Fernando Corrêa, a Beira-Rio, Rua XV de Novembro e, indo para o Verdão, a já famosa ou tristemente famosa Miguel Sutil. Nenhuma destas vias está sofrendo intervenção das melhorias que precisam e dos prazos para se aperfeiçoar. Quanto transe viveremos... assim, viva Glauber Rocha. Cuiabá está em transe!

ILSON SANCHES é advogado em Mato Grosso, professor universitário e membro da Academia Mato-grossense de Direito Constitucional.

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