No final do ano que passou a imprensa noticiou que 50% dos vereadores de Osasco (SP) foram presos acusados de contratação irregular de funcionários, cujo salário dividiam.
Em Foz do Iguaçu (PR) 80% dos nobilíssimos edis também foram ver o sol nascer quadrado porque recebiam verbas mensais para aprovarem projetos do executivo.
Na semana que passou no Tribunal de Contas do corrupto e quebrado estado do Rio de Janeiro cinco conselheiros foram conduzidos para depoimento ou alvos de mandados de busca e apreensão. Dos sete membros somente um escapou da investigação, pois o outro que ficou de fora era o delator do esquema e também participante dele.
Na mesma semana o ex-poderoso presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso declarou em depoimento que trinta e três deputados e ex-deputados participavam de desvios recorrentes por longo tempo, apropriando-se de milhões de reais do estado. Somente cinco, citados nominalmente pelo depoente, não participavam da gatunagem.
Quatro dos trinta e tantos deputados citados conseguiram uma vaga no Tribunal de Contas do Estado e outros três disputam uma boca vitalícia no mesmo órgão, onde poderão continuar a prestar seus relevantes serviços ao estado. Entretanto estes números não nos assustam mais, pois estamos acostumados com as constantes acusações que existem contra os vereadores, deputados e conselheiros em todo Brasil.
Parece que há uma concentração de pessoas de má índole 50% em Osasco, 80% em Foz do Iguaçu, 6 dos 7 no Rio de Janeiro e trinta e três em Cuiabá) nas câmaras municipais, nos tribunais de contas e nas assembleias legislativas. Suspeitas e confirmações de crimes são percentualmente muito maiores nesses ambientes do que no resto da população.
Se o vício e a virtude, esta com parcimônia e aquele com abundância, estão democraticamente espalhados por toda a população, qual seria a razão da visível concentração de desonestos em algumas instituições e de éticos em outras?
No Brasil há uma percepção geral, mostrada em pesquisas de que o Exército, a Polícia Federal e o Ministério Público (estadual e federal) entre outras, são instituições confiáveis e que Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas, Congresso Nacional e Tribunais de Contas convivem bem com desvios éticos.
Teorias como a do “efeito fundador” buscam explicações para comportamentos mais virtuosos ou menos louváveis de cada nação. Por ela explica-se que a grande diferença entre a sociedade da Islândia e a brasileira, por exemplo, estaria na qualidade dos primeiros habitantes. A Islândia que foi colonizada por noruegueses começou com uma boa base e nós que recebemos a escória dos portugueses, ainda não conseguimos romper com essa herança.
Será que essa teoria tem o poder de explicar a concentração de virtudes em uma instituição e de vícios em outra? Ou dito de outra forma, no nascedouro forjaram a sina de cada uma e não há forma de se livrar dela.
Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor [email protected]
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