O empresário José Ferreira Gonçalves, sócio da EIG Mercados e réu confesso dos crimes investigados na Operação Bereré, afirmou ter pago R$ 1 milhão ao deputado estadual Mauro Savi (DEM) para encerrar o esquema de propina com os representantes da gestão passada do Governo do Estado.
A declaração foi dada ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), no dia 27 de março, e embasou a deflagração da segunda fase da Bereré, na semana passada, denominada “Bônus”. Mauro Savi foi preso por conta das investigações.
A Bereré apura esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran-MT, na ordem de R$ 30 milhões, que operou de 2009 a 2015.
Segundo as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados por conta do contrato com o Detran retornava como propina a políticos e empresários, dinheiro esse que era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.
José Ferreira relatou ter contratado o executivo José Kobori para gerir a EIG e tentar cessar os pagamentos de propina para a Santos Treinamento.
De acordo com ele, Kobori o informou que o maior problema para encerrar o esquema era em relação às propinas pagas a Claudemir Pereira, sócio da Santos, cujos valores eram repassados a Mauro Savi.
“Eu pedi para Kobori marcar diretamente com o deputado estadual Mauro Savi uma reunião para tratar sobre o término dos pagamentos de propina para a Santos Treinamento”.
Tal reunião, conforme o empresário, ocorreu na casa do parlamentar, em agosto de 2014, no período noturno, ocasião em que Savi exigiu R$ 1 milhão para aceitar a proposta.
“Eu informei a Savi que não iria mais efetuar os pagamentos das propinas para a Santos, sendo que no início Mauro Savi não concordou com o término dos pagamentos, mas, em razão da minha insistência, Mauro Savi disse que concordaria com o término dos pagamentos das propinas desde que fosse pago o montante de R$ 1 milhão”.
José Ferreira disse que ele e Kobori concordaram em fazer o pagamento, ficando combinado que os valores seriam quitados por meio de Claudemir Pereira, considerado o “braço-direito” de Savi no esquema, em troca de a EIG poder romper o contrato com a Santos.
“Conforme o acordado na reunião, Kobori efetuou os pagamentos das propinas para Mauro Savi através de Claudemir Pereira dos Santos, vulgo ‘Grilo’,
depositando o valor aproximado de R$ 1 milhão da FDL/EIG para Claudemir, que iria repassar para Mauro Savi”.
Após o pagamento, segundo José Ferreira, Kobori disse a ele: “resolvido o problema com o governo passado, agora com governo novo, precisamos de um acerto novo".
Desta forma, com a proximidade da entrada da nova gestão do Governo do Estado, o empresário disse que Kobori acertou pagamentos de propina ao ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, no intuito de manter o contrato da EIG com o Detran-MT.
Veja fac-símile de trecho do depoimento:
A operação
A segunda fase da Operação Bereré resultou na prisão dos seguintes alvos: o deputado estadual Mauro Savi (DEM); o ex-secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques e seu irmão Pedro Jorge Taques; os empresários Roque Anildo Reinheimer e Claudemir Pereira dos Santos, proprietários da Santos Treinamento; e o empresário José Kobori, ex-diretor-presidente da EIG Mercados.
De acordo com as investigações, entre os meses de julho e agosto do ano de 2009, quando Teodoro Moreira Lopes o “Dóia” ocupava o cargo de presidente do Detran, foi convocado para uma reunião no gabinete do deputado Mauro Savi. No local estavam presentes, além do parlamentar, Marcelo da Costa e Silva e Roque Anildo Reinheimer, ambos investigados no caso.
Na ocasião, Marcelo Silva e Roque Anildo teriam oferecido a Dóia a execução da atividade de registro junto ao Detran dos contratos de financiamento de veículos com cláusula de alienação fiduciária, de arrendamento mercantil, de compra e venda com reserva de domínio ou de penhor dizendo que apresentariam ao então presidente da EIG Mercados.
Conforme, o MPE, na ocasião a empresa se oferecia a formular contrato administrativo com o Detran para prestar o serviço de registro de contratos junto à entidade de trânsito. Na oportunidade, um dos sócios da empresa, a fim de garantir a prestação de serviços, teria se comprometido a repassar o valor equivalente ao pagamento de um mês às campanhas eleitorais do deputado Mauro Savi e do então governador Silval Barbosa.
Os promotores dizem que a promessa teria sido cumprida no valor de R$ 750 mil para cada um dos candidatos, logo após a assinatura do contrato.
Para que a empresa fosse a vencedora do edital, na época o antigo presidente do Detran determinou que a comissão de licitações do Detran confeccionasse o edital de licitação nos mesmos moldes que a empresa FLD Fidúcia - hoje EIG Mercados - já havia vencido no Piauí. Desde então, segundo o MPE, a empresa é responsável pelo pagamento de propinas a organização ciminosa.
Consta nas investigações que após a assinatura do contrato administrativo, "Mauro Savi, Claudemir Pereira dos Santos, Teodoro Lopes e outros investigados se organizaram a fim de garantir a continuidade do contrato, formando uma rede de proteção em troca do recebimento de vantagens pecuniárias da parte da FDL, propina na ordem de 30% (trinta por cento) do valor recebido pela FDL do Detran repassado por intermédio de empresas fantasmas que foram criadas em nome dos integrantes da rede de proteção do contrato".
"Esquema que teve continuidade com a mudança de Governo e a participação de Paulo César Zamar Taques e seu irmão Pedro Jorge Zamar Taques", afirmou o MPE.
Os promotores explicam que no ano de 2015 - quando Silval da Barbosa deu lugar ao atual governador Pedro Taques -, ao ter informações do esquema de recebimento de propinas operado dentro do Detran, Paulo Taques e Pedro Zamar Taques - primos do governador - apropriaram-se do esquema de recebimentos, com ajuda de Valter José Kobori.
Em depoimento colhido junto a um dos proprietários da empresa EIG Mercados Ltda, foi revelado ao MPE que após acertar os pagamentos com a antiga gestão Silval Barbosa a EIG Mercados contratou Valter Kobori como CEO (Chief Executive Officer). Desde então seria ele a pessoa responsável em receber pessoalmente a propina sob título de bônus pelos serviços pessoais prestados a empresa e repassar o dinheiro para Paulo Taques.
Segundo o depoimento as negociações foram feitas antes mesmo do resultado das eleições de 2014 onde Valter Kobori já havia combinado com Paulo Cesar Zamar Taques o auxílio para manutenção do esquema.
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1 Comentário(s).
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Mario 14.05.18 11h42 |
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