Cuiabá, Quinta-Feira, 7 de Agosto de 2025
CPI DA COPA
22.04.2015 | 20h01 Tamanho do texto A- A+

"Não posso sair com um revólver atrás da construtora do VLT"

Valter Boulos, da Planserv, afirma, em depoimento, que notificou Secopa sobre irregularidades

Demóstenes Milhomem/ALMT

Valter Boulos, da Planserv, depõe em CPI: diversas etapas do projeto de implantação do VLT estavam incompletas

Valter Boulos, da Planserv, depõe em CPI: diversas etapas do projeto de implantação do VLT estavam incompletas

DOUGLAS TRIELLI
DA REDAÇÃO
“Se eu cumpri o contrato e vossa excelência ainda não fica satisfeita, não sei o que mais posso fazer. Eu não tenho poder de polícia, não posso sair com um revólver na rua atrás da construtora, não é minha função". A declaração foi feita por Valter Boulos, representante da Planserv Engenharia, na tarde desta quarta-feira (22), durante depoimento à CPI da Copa, na Assembleia Legislativa.

Contratado por R$ 46,9 milhões, ele disse que o Consórcio Planserv–Sondotécnica fez o que estava ao seu alcance para apontar as diversas irregularidades na implantação do Veículo Leve sobre os Trilhos (VLT).

A empresa foi contratada em janeiro de 2013 para fazer o gerenciamento e fiscalização das obras do VLT, em Cuiabá e Várzea Grande.

De acordo com Boulos, foram emitidos 570 relatórios à Secopa, apontando irregularidades nas obras. Ele, no entanto, eximiu o Governo e disse que diversos problemas foram sanados.

“Nós cumprimos o que o contrato definiu. Fomos a campo, acompanhamos as obras, recebemos o projeto, demos sugestão. Quando tinha inconformidade, apontávamos o problema. Foram 570 notificações. Em uma determinada época, a Secopa estava recebendo tanto IP (Identificador de Problema), que pediu para mandar direto ao consórcio”, disse.

"Nossa obrigação é informar o cliente com exaustão.Mas nosso relacionamento era com o cliente, não temos poder sobre o empreiteiro"


“Nossa obrigação é informar o cliente com exaustão. Nós suspendemos alguns serviços, porque não concordávamos. Esses foram corrigidos. Mas uma atitude maior quem podia tomar era a Secopa. Nosso relacionamento é com o cliente, não temos poder sobre o empreiteiro", afirmou.

Questionado pelo deputado Wilson Santos (PSDB) sobre o fato de a empresa ter sido contratada por R$ 46,9 milhões para apenas emitir relatórios “aos ventos” e “sem créditos”, o empresário voltou a afirmar que fez apenas o que determinava o contrato.

“Eu tenho 46 anos trabalhando nessa área e nunca vi, nunca gerenciei, uma obra que eu fosse agravar alguma coisa. Devo atender o que está no contrato, atender o cliente. Não tenho mais nada a fazer além do que está no contrato”, disse.

Wilson, entre outros deputados, questionou a quantidade de funcionários da Planserv que estavam in loco nas obras. O deputado tucano afirmou que, segundo denúncia, apenas 12 pessoas trabalhavam em Cuiabá.

“Ao dividir R$ 47 milhões, por 27 meses, dá um pouco mais de R$ 1 milhão ao mês. Se realmente só existiam 12 funcionários, cada um estava custando em torno de R$ 145 mil mês. Algo que chama a atenção”, disse.

O empresário negou que havia apenas 12 funcionários na Capital. Ele não soube precisar o número exato, e disse que irá enviar todos os nomes a comissão.

Entretanto, acrescentou que, além dos funcionários em Cuiabá, outro tanto estava em São Paulo, sede de Planserv, e mais outro no Rio de Janeiro, sede da Sondotécnica.

"Eu não tenho poder de polícia, não posso sair com um revolver na rua atrás da construtora, não é minha função, desculpa"


“As colocações do nobre deputado [Wilson Santos] são completamente infundadas. Não tenho somente 12 funcionários, é muito mais que isso. E peço que antes de fazer qualquer afirmação, espere que eu mande os documentos. Porque fazer acusação sem conhecer o outro lado não é uma boa política”, rebateu.

“Nós mantivemos uma equipe de campo em Cuiabá permanentemente ligada à obra. E mantínhamos uma equipe em São Paulo e no Rio de Janeiro. E fizemos questão de colocar uma equipe adicional para dar suporte aos nossos trabalhos e, ao mesmo tempo, fazer uma transferência de know-how com profissionais locais”, disse.

Projeto inacabado


O diretor da empresa fiscalizadora confirmou que diversas etapas do projeto de implantação do VLT estavam incompletas.

Segundo ele, foram recebidos mais de 4.8 mil pranchas com etapas da obra. No entanto, por diversas vezes, o consórcio fiscalizador rejeitou total ou parcialmente, por estarem fora dos padrões da engenharia civil.

“Nós recebemos muitos projetos, foram mais de 4.8 mil pranchas e dessas algumas recusamos, outras aprovamos com ressalva. Mas houve uma boa vontade da construtora em fazer as correções necessárias”, disse.

“Algumas coisas não foram cortejadas. Por exemplo, o assunto da drenagem da UFMT não foi resolvido até hoje. Há uma discussão entre a Secopa e a Prefeitura sobre quem vai resolver esse problema. Então, não existe projeto nesse quesito”, afirmou.

Falta de pagamentos


Segundo Valter Boulos, a empresa parou de fazer o gerenciamento e fiscalização das obras, poucos meses antes do final do ano passado. Segundo ele, a Secopa e o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) atrasaram, por diversas vezes, o pagamento.

"É muito cômodo dizer que não pode obrigar ninguém, recebendo mais de R$ 1 milhão por mês. E a idoneidade da empresa? No mínimo, ele poderia ter dito não querer ser conivente com os problemas"

Em crédito, a Planserv ainda teria a receber R$ 5 milhões.

“Tive uma grande decepção, porque o preço do serviço não é aquele nominal que aparece na licitação. Depende de outros fatores, como, por exemplo, receber em dia. Nós estamos com crédito de R$ 5.4 milhões, que não recebemos. E, durante todo o trabalho, sempre estiveram devendo, nunca nos pagaram de acordo com o contrato”, afirmou.

Nova convocação

O presidente da CPI da Copa, deputado Oscar Bezerra (PSB), disse não descartar uma nova convocação do diretor da Planserv.

Para ele, é preciso esclarecer qual a intenção de contratar uma empresa fiscalizadora para fazer relatórios que “não seriam respeitados”.

“É muito cômodo dizer que não pode obrigar ninguém, recebendo mais de R$ 1 milhão por mês. E a idoneidade da empresa? No mínimo, ele poderia ter dito não querer ser conivente com os problemas”, disse.

"Ficou evidenciado que havia o interesse de atender ao cliente, que, no caso, seria a Secopa. Receberam mais de R$ 1 milhão por mês para notificar irregularidades, mas, efetivamente, não há nenhum resultado com a contratação dessa empresa. Então, fica o questionamento: qual era o objetivo de contratar a Planserv?", disse após o fim da reunião.

Leia também:

Relatórios expõem erros e inoperância do Consórcio VLT


Eder diz desconhecer pagamento de propina em licitação do VLT

Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).




Clique aqui e faça seu comentário


COMENTÁRIOS
5 Comentário(s).

COMENTE
Nome:
E-Mail:
Dados opcionais:
Comentário:
Marque "Não sou um robô:"
ATENÇÃO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. Comentários ofensivos, que violem a lei ou o direito de terceiros, serão vetados pelo moderador.

FECHAR

Mauri  23.04.15 16h19
Como eu queria prestar um serviço desse, mis de 40 milhões apenas para emitir pareceres e ou fiscalizar. Onde estavam os tais fiscais da secopa.será que havia necessidade de contratar uma empresa para fiscalizar. Isso poderia até ser entendido como enriquecimento ilícito, pois é muito dinheiro para pouco serviço, ou melhor, um não serviço, eis que a obra executada e fiscalizada ficou uma .....
5
5
helton nascimento  23.04.15 09h51
O VALOR DO VLT, 1.5 BILHAO E MEIO, TEM ESSE CONTRATO REGISTRADO, COLOCA NA JUSTIÇA, SEJA EMPREITEIRA OU EX GOVERNADOR TEM QUE PAGAR. OUTAR COISA A PASSAGEM DO VLT EM MACEIO PARA ANDAR 40KM CUSTA 0,50, É VLT NOVO E FUNCIONA.
9
4
sergio souto  23.04.15 09h10
Fico super emocionado com o Wilson Santos - agora como inquisitor - mesmo sem ter explicado nada da caótica administração de Cuiabá, sob sua responsabilidade, quando deixou a cidade falida e destruida. Ele tambem deveria ser inquirido em CPI da CAB, mas alguns acham que não CAB CPI, pois está ótimo o serviço de água e esgoto em Cuiabá.
30
3
Paul  23.04.15 07h08
Senhores: Tenho dito que o VLT provocou um choque cultural violento na sociedade cuiabana. Ela não estava preparada para acolher esse moderno meio de transporte. Os políticos, até hoje, estão atordoados, incluindo o Sr. governador. Ficam se mordendo, se atacando quando, na verdade, deveriam colocar a obra para andar. Estão paradas a mais de 90 dias. Quanto custa essa omissão? O próprio governador admite que não é um homem cordial - isto é, em tese, ele admite que tem um viés tosco. Não adianta fazer cara feia, ser tosco, carrancudo. Tem que botar a obra do VLT para andar. O dinheiro público está indo pelo ralo!!!
20
14
Fonseca  22.04.15 21h25
Nosso Estado foi "ESTUPRADO" por algumas empresas como esta. E ainda nos ZOAM com um tom de arrogância. já passou do tempo de colocar esses responsáveis em seus devidos lugares.
62
9