Alvo de investigação da Delegacia Fazendária (Defaz), a contratação e implantação dos chamados "semáforos inteligentes" em Cuiabá foi base de auditoria de conformidade realizada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Entre outros pontos, os técnicos do órgão constataram a incompatibilidade da contratação com a realidade da Capital.
Isto porque a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) fez adesão à ata de preço do Município de Aracaju (SE). Entre os itens observados pelo TCE, está o fato de que, naquela cidade, foi implantado o sistema de Bus Rapid Transport (BRT), o que não ocorre em Cuiabá.
Ainda assim, o contrato firmado pela Semob com a empresa Semex – no montante de R$ R$ 15,4 milhões – traz itens relativos ao BRT.
“A Secex constatou a inviabilidade do cumprimento de parte do objeto do Contrato 258/2017, no que se refere ao controle remoto de priorização de transporte público, pois em Cuiabá não existe transporte coletivo BRT, o qual viabilizaria tal controle”, observou o TCE.
“Portanto, a adesão à Ata de Preço do município de Aracaju (SE), constando itens incompatíveis com a realidade do município de Cuiabá, resultou na contratação de objeto que não pode ser implementando, em especial quanto ao controle remoto de priorização do transporte público de tráfego”, acrescentou.
Esses apontamentos estão contidos na decisão relativa ao julgamento singular 1303/2018, de dezembro daquele ano, e que teve como relatora a conselheira Jaqueline Jacobsen.
A conselheira também observou, naquela ocasião, que o secretário de Mobilidade Urbana, Antenor Figueiredo, optou por firmar o contrato com a Semex, mesmo diante da ausência de estudo prévio da viabilidade da contratação e de projeto básico e após parecer contrário da Procuradoria Geral do Município.
Fato este, inclusive, reiterado pelo então ex-procurador-geral Nestor Fidélis, em depoimento prestado à delegada Alexandra Fachone, em 27 de novembro do ano passado.
Segundo Fidelis, o secretário Antenor Figueiredo desconsiderou o parecer da Procuradoria e afirmou que a contratação do semáforos inteligentes era “primordial e urgente”.
Auditoria
Na auditoria realizada pelo TCE constam sete apontamentos de irregularidades e os respectivos responsáveis por cada uma delas.
Das sete irregularidades, o secretário é apontado como responsável por cinco delas.
A auditoria destacou que ao menos seis itens relativos ao contrato (13, 15, 16, 17, 26 e 27) - referentes à priorização do transporte público de tráfego - têm como parâmetro o modelo de transporte coletivo BRT, inexistente em Cuiabá.
“Mesmo diante da impossibilidade do funcionado do referido sistema de inteligência, o item 13 do Contrato, que se refere a ‘Software de Gerenciamento Semafórico Spinnaker/EMTRAC’, foi integralmente liquidado, no valor de R$ 553.884,32. Ou seja, pagou-se por um serviço que não tem viabilidade técnica de ser implementado, em razão da ausência do item comunicação”, cita trecho da auditoria.
Veja cada um dos apontamentos feitos pelo TCE:
Achado de auditoria 1 – A adesão a ata de registro de preço relativa ao Contrato nº 258/2017 não foi precedida de planejamento, de projeto básico e de projeto executivo, com vista a atender os objetivos pretendidos pela contratação.
Responsável: Antenor de Figueiredo
Achado de auditoria 2 – Inviabilidade de implantar os demais cruzamentos semafóricos, visto que a parte de engenharia já foi praticamente executado 100%, além da inexistência de comunicação, elemento essencial para a centralização do sistema de informação de trânsito, bem como para o sincronismo dos tempos, necessário ao bom funcionamento do sistema.
Responsável: Antenor Figueiredo e Semex S.A.
Achado de auditoria 3 – Inviabilidade de controle remoto de priorização de transporte público, pois em Aracaju/SE há transporte coletivo BRT que viabiliza tal controle e em Cuiabá/MT não existe tal modalidade de transporte, inviabilizando o cumprimento dessa parte do objeto contratual
Responsável Antenor Figueiredo e Semex S.A.
Achado de auditoria 4 - Não houve demonstração da compatibilidade entre a demanda da Semob com o objeto discriminado na Ata de Registro de Preços, de forma a justificar a adesão à ata
Responsável: Antenor Figueiredo e Semex S.A.
Achado de auditoria 5 - Não ficou demonstrada a vantajosidade em se aderir à Ata de Registro de Preços nº 1/2017 do Pregão Eletrônico nº 65/2016 da SMTT, Processo nº 21.246/2016.
Responsável: Antenor Figueiredo
Achado de auditoria 6 - Os equipamentos do tipo EFI-III – Avanço de Semáforo, objeto do Contrato nº 10.710/2014, ficaram inativos por longo período em face da instalação dos semáforos inteligentes, objeto do Contrato nº 258/2017
Responsável Fabiano Dmytro Lysenko Pinto (Fiscal do Contrato); Michell Diniz de Paula (Gestor dos Contratos); Serget Mobilidade Viária Ltda (líder do Consórcio CMT – Cuiabá Monitoramento de Trânsito); Adrielle Oliveira Martins da Silva (Fiscal do Contrato) e Semex S.A de C.V.
Achado de auditoria 7 - Não há controle do material permanente (patrimônio mobiliário) dos conjuntos semafórico pertencente a Semob, objeto dos Contratos nº 340/2016, 636/2016 e 258/2017
Responsável: Nadia Escudero Santana (Diretora Administrativa e Financeira)
Clique AQUI e veja cada um dos itens contidos no contrato.
Outro lado
Em nota, a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) informou que o item relacionado ao controle remoto de priorização de transporte público, que considera a existência de BRT na cidade, foi suprimido no contrato de adesão.
Também de acordo com a Pasta, o sistema dos semáforos inteligente foi auditado pelo TCE no último ano e não apresentou nenhum tipo de irregularidade ou dano ao erário.
Leia nota na íntegra:
"A respeito da investigação instaurada pela Delegacia Especializada em Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (DEFAZ), a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) informa que:
- A denúncia, de 2017, foi representada ao Ministério Público do Estado (MPE) pelo Observatório Social de Cuiabá.
- À época, todos os questionamentos feitos pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) foram respondidos.
- O item relacionado ao controle remoto de priorização de transporte público, que considera a existência de BRT na cidade, foi suprimido no contrato de adesão.
- É importante destacar que, na ocasião debatia-se qual modal poderia ser adotado em Cuiabá. O item, contudo, era facultativo.
- O sistema dos semáforos inteligente foi auditado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) no último ano e não apresentou nenhum tipo de irregularidade ou dano ao erário.
- A Pasta está à disposição da Defaz para contribuir com as investigações e fornecer quaisquer informações."
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5 Comentário(s).
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jj 23.01.20 15h32 | ||||
Agora me pergunto, como que o tribunal de contas libera essas coisas que estão irregular, por que será! | ||||
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APOLINARIO USKNOV 23.01.20 08h37 | ||||
O velho e indolente modo Público de fazer as coisas, focando apenas no "PURFA". Se tem BRT no contrato, prova que sequer leram o certame. | ||||
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tom 22.01.20 22h23 | ||||
fiquem tranquilos esses itens que faltam foram pro bolso do paleto. | ||||
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Rebecca 22.01.20 16h28 | ||||
Mais de 15 milhões desperdiçados. Os semáforos que se dizem "inteligentes" são menos sincronizados que os anteriores, mudam para o vermelho mesmo não havendo pedestre ou cruzamento (ou seja, fecha para ninguém), prejudicando o fluxo do trânsito. Como exemplo, o cruzamento entre a 13 de junho com a getúlio vargas está bem pior que antes. Não há sequer toque sonoro para os deficientes visuais para justificar o alto valor da licitação. Incrível saber agora que pegaram o projeto de uma outra capital que tem uma realidade completamente diferente da de Cuiabá. Para mim, dinheiro público jogado fora pelo governo municipal. | ||||
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KEVIN 22.01.20 14h21 | ||||
quem não sabia disso ? quando vi aquela porcaria nas ruas eu falei em casa. Não o que fazer | ||||
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