O ator João Sales ganhou projeção nas redes sociais de uma forma curiosa. Ele posta vídeos em que analisa a atuação de artistas da TV brasileira, sem poupar críticas diretas e contundentes e, vá lá, alguns elogios.
Num react recente, ele chega a perder a paciência ao exibir uma cena de "Vale Tudo" em que Bella Campos (Maria de Fátima), discute com Alice Wegmann (Solange). Bella o tirou do sério.
"Pelo amor de Deus, algum professor de atuação, de voz, ensina essa mulher a respirar entre uma fala e outra", começa João.
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"A gente não se comunica por palavra, a gente se comunica por ideia. Ela fala o texto todo com se fosse uma ideia só, e não é", diz, indignado, antes de também criticar sua postura corporal, a "jogadinha no cabelo", enfim, tudo o que a atriz fez em cena.
Formado em artes cênicas e com pós-graduação em direção teatral, João começou compartilhando dicas para estudantes da área, mas logo passou a fazer críticas de obras nacionais, que viralizam e dividem opiniões. Nos vídeos de "Vale Tudo", ele comenta atuações, escolhas de direção e problemas que considera recorrentes no remake.
Para João, sua proposta não é atacar atores, mas analisar o que eles entregam em cena. Ele estabelece uma distinção clara entre crítica e hate: "Se eu digo que uma cena foi mal executada ou que um ator não domina a técnica, isso é uma análise. Agora, se eu falo que ele é desleal ou mau caráter, aí é pessoal. E eu não faço isso", explica em entrevista ao F5.
A crítica mais frequente às análises de João é a de que elas seriam duras demais, beirando o desrespeito com o trabalho dos atores. Mas João insiste que o problema não está no tom e sim na ausência de parâmetros técnicos para se avaliar o ofício.
"Atores não são julgados como médicos ou engenheiros. Existe uma romantização da atuação, como se fosse só talento ou carisma. Mas tem técnica. E se a pessoa não domina isso, não deveria estar naquele papel." Ele afirma que muitos erros recorrentes, como voz espremida, gestos que bloqueiam o rosto ou falta de presença de cena, são objetivos e observáveis. "O público pode não saber nomear, mas sente quando algo está errado."
E é justamente por confiar na percepção do público que João continua produzindo seus vídeos.
"As pessoas adoram ver crítica. Não é só polêmica. É porque elas querem entender melhor o que estão assistindo", diz. Ele afirma que seu objetivo não é convencer ninguém, mas abrir conversas —inclusive com os próprios artistas. "Já recebi mensagens de atores da novela agradecendo e pedindo indicação de livros. Eu não estou aqui para derrubar ninguém."
Você acredita que suas críticas acabam atraindo hate para os atores? Atraem, sempre vai atrair. Só que dentro dos haters que vão aparecer, tem gente inteligente que quer entender mais do assunto também. Porque o hater não tem filtro, ele não escuta o que está sendo dito.Eu tenho meus haters também. O hater, para mim, é muito mais um estado mental do que uma opinião.
Assim como você critica os atores, muitos também te criticam. Como você lida com isso? Faço uma autorreflexão, entendo o que originou aquilo, se é uma crítica genuína ao meu trabalho. Mando para pessoas em quem confio, que dizem "isso aqui pegou pesado", ou "não ficou legal". Aí faço testes, vídeos um pouco diferentes, levando em consideração essas críticas.
Como você define uma boa atuação? É equilíbrio entre técnica e estado emocional. O ator tem que conseguir alcançar estados emocionais profundos, mas não pode sair da técnica. A técnica ajuda a plateia a ver o que está acontecendo. A emoção sem técnica não comunica por completo.
E o que seria técnica, afinal? Para TV e cinema, por exemplo, a voz tem que estar relaxada e natural, porque o microfone tá muito perto. A gente precisa ver o rosto e o olhar do ator. Ele não pode cobrir o rosto com o cabelo, nem com a mão, mesmo que esteja emocionalmente abalado. Isso é básico. Técnica é garantir que a emoção chegue ao público.
Cite um ator que você considera supervalorizado. Fernanda Torres. Acho que ela tem um excesso de máscara —quando o ator indica com o rosto qual o sentimento que sentindo ao invés de deixar a câmera— e bloqueio emocional. Os personagens dela também são muito heroicos, ela está sempre em um estado de confronto, nunca se fragiliza. Por outro lado, ela deveria ter levado o Oscar de melhor atriz, não porque sua atuação é incrível, mas comparado com a concorrência, ela foi melhor.
A Bella Campos é uma das atrizes mais criticadas em seu perfil pelo papel de Maria de Fátima. Muitas pessoas apontam uma evolução dela na trama. Você concorda?
O problema da Bella Campos não é esforço. A gente vê que ela está tentando melhorar. Mas ela não tem a técnica necessária para o papel que está fazendo. E a gente não senta para assistir novela para ver um ator tentando melhorar, a gente quer ver a história. É como ler um livro onde o autor vai melhorando a escrita com o tempo. Não é isso que se espera. Ela começou robotizada, depois foi tentando expressar mais, mas acabou caindo em outros problemas técnicos.
Quais? Por exemplo, ela usa uma voz espremida, com muita tensão, que impede a emoção de passar. Isso não é sobre sentimento, é técnica mesmo. E o problema é que ela está num papel protagonista em que ela não entrega uma atuação no nível esperado.
Taís Araújo é frequentemente apontada como a melhor atriz da novela. Você concorda?
Ela acessa bem os estados emocionais, e isso é maravilhoso. Mas ainda peca na técnica. Às vezes entrega tudo de uma vez, grita onde não precisa. Quando ela segura, como naquela cena do sanduíche na praia, é muito mais potente. A emoção aparece sem precisar gritar. Técnica é isso: saber quando entregar e quando conter.
Você elogiou a atuação de Paolla Oliveira em uma fase mais recente da novela. O que mudou?
No começo, recebi muitas mensagens de pessoas em grupos de apoio que se sentiam constrangidas com a forma como a personagem era retratada. Depois, notei que ela começou a se preocupar mais com a mensagem do que com um tique que ela criou para personagem. A relação com a mãe ficou mais forte, e isso tocou as pessoas. Eu mesmo fiz dois vídeos parabenizando. Ela me emocionou. As críticas chegaram, e ela reagiu bem. Isso é evolução.
Quem é injustiçado no elenco de "Vale Tudo"?"
Karine Teles. Achei que ela, a Belize Pombal e aquele núcleo estavam mandando muito bem e ninguém falava. Fiz questão de destacar nos meus vídeos. E vou além, Cauã Reymond também é injustiçado. Ele sabe qual é o papel dele, sabe que ele tem que ficar de cueca em cena, dar uns três sorrisos a cada duas palavras, porque o sorriso vende demais. Ele não tenta ser um ator que ele não é, e eu respeito isso.
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