O café amargo, sem açúcar ou adoçante, impõe uma pausa na entrevista, até porque Christiane Torloni precisa remover o aparelho ortodôntico. “Parece coisa de criança, né? Mas isso mantém o alinhamento de dente e gengiva. Dente é saúde. Não é só estética. A gente precisa ter o equipamento todo funcionando direitinho”, diz a atriz de “O tempo não para”, da TV Globo.
Aos 61 anos, Christiane agarra-se com unhas e dentes a outra bandeira que também inspira cuidados: o meio ambiente. Lança-se no Festival do Rio como diretora do documentário “Amazônia — O despertar da florestania”, com pré-estreia na próxima sexta-feira, no Estação Net Gávea.
"Senti necessidade de me expressar, e o cinema foi a ferramenta. Não penso que agora começa a carreira de uma diretora. Na verdade, precisei do cinema como ferramenta para poder contar essa história", diz a atriz.
A vocação para abraçar causas não é de hoje. Em 1984, em um cenário de dúvidas, ela já mostrava a face de ativista na campanha das “Diretas já”. Mas a durona engajada também vê a fortaleza balançar.
Christiane sucumbe quando fala sobre a trágica perda de um dos filhos gêmeos do casamento com o ator e diretor Dennis Carvalho — Guilherme, de 12 anos, morreu em outubro de 1991, em um acidente de carro, praticamente nos seus braços. A dor ainda umedece os olhos e amarga a vida, 27 anos depois.
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
"Não existe superação. Nada fica igual como antes. Mas o dia a dia vai reconstruindo as pessoas", diz Christiane, que luta para manter-se firme e forte: "Hoje, sou uma pessoa muito mais frágil do que era há 27 anos. Tomo cuidado com os que estão à minha volta para que não me desestabilizem".
No ar como Carmen, em "O tempo não para", Christiane usa o trabalho para buscar a superação diária. Empolgada com sua 27ª novela, ela comenta uma cena que está para ir ao ar: Dom Sabino, personagem de Edson Celulari, aparecerá lavando a louça, em alusão à igualdade de gênero.
"A novela tem dado uma contribuição maravilhosa, de uma maneira leve. Faz um mergulho antropológico e um questionamento de valores e princípios. Você pega um homem que era um grande proprietário de terras e diz assim: 'Vamos lavar a louça juntos?' Ele não sabe nem o que fazer com um copo. Mas não sabe por enquanto. Vai aprender", diz ela que, na vida real, vibra com a mobilização política de um povo que em outras épocas "esteve anestesiado": "Parecia que estavam botando Rivotril no Rio Guandu".
0 Comentário(s).
|