08.06.2025 | 11h:00

TENDÊNCIA; VÍDEOS


Cabeleireiro defende o natural e vê apelo "gritante" pelo saudável

Paulo Maia fala sobre aprendizado na Europa, tons da moda e sua conexão espiritual com Chapada

Victor Ostetti/MidiaNews

O cabeleireiro e visagista Paulo Maia, que atua na área há cerca de 30 anos

Natural de Belém (PA) e há três décadas cuiabano de coração, o renomado cabeleireiro e visagista Paulo Maia tem vivido uma experiência profissional entre dois mundos aparentemente opostos: a efervescência fashion de Londres e o calor vibrante de Cuiabá. E destes cursos internacionais, extrai inspiração para fazer as cabeças de suas clientes. 

É sobre entender a fluidez do cabelo como parte da identidade da mulher

 

Com um pé na Capital mato-grossense e outro na metrópole europeia - onde tem se aperfeiçoado no ofício -, Paulo aprendeu a traduzir tendências globais para a realidade local e revelou como a tecnologia e a espiritualidade se entrelaçam em seu trabalho com um blend de muita personalidade. 

 

"Em Londres, meu professor me ensinou a criar um blend de cor, que não é só uma moda, é comportamental", explica.

 

Ele ensina que enquanto europeias abraçam tons quentes como ruivos e laranjas, porque têm fundo de clareamento natural, as brasileiras preferem nuances como mocha mousse, mel e doce de leite — tons que dialogam com a raiz escura, criando luz e movimento sem artificialidade, sempre com um pé no natural.

 

Mas há espaço para a ousadia. "Tem clientes que carregam o artificial como identidade. É rebeldia, e está tudo certo! Aqui, lutamos contra o fundo de clareamento que desbota fácil. O segredo é equilibrar luz e sombra no cabelo", afirma. 

 

 

Veganismo e tecnologia

  

Na sua última temporada em Londres, em fevereiro deste ano, o que mais chamou sua atenção foi a explosão de produtos veganos e menos agressivos.

 

"Depois da pandemia, 80% das mulheres tiveram queda capilar por estresse. Produtos sem PPD (parafenilenodiamina) ou PDT (paratoluenodiamina) são prioridade. A busca por saúde veio para ficar e as linhas veganas também", observa.

 

No Brasil, a mudança ainda é gradual, mas Paulo celebra marcas e profissionais que já adotam a causa. "O apelo pelo saudável é gritante", reforça. 

 

Entre um curso no renomado Vidal Sassoon — onde aprendeu a história do icônico bob de Chanel, símbolo de empoderamento feminino — e visitas ao Sky Garden, Paulo absorve inspiração em cada esquina.

 

"Londres é uma cidade onde cada clique vira foto. E as exposições, como a da Naomi Campbell, são de tirar o fôlego". Para quem planeja visitar, ele recomenda: "Vá no verão, quando os parques estão verdes e a energia é única". 

 

 

Mocha e chocolate

 

A cor mocha — mistura de café com leite no espectro do bege ao escuro — virou febre no Brasil e tendência entre muitas celebridades, diz. 

 

"Toda mulher que quer ser loira passa pelo mocha", brinca. A cor, que varia do café com leite ao bege profundo, é a porta de entrada para transições suaves. "O truque é mesclar raiz escura com mechas claras, criando movimento".

 

E para as amantes do loiro que resistem em abandonar o platinado, ele ensina: "Mostro que o natural tem luz e dimensão. E lembro que o loiro exige manutenção, e nem todo cabelo aguenta". 

 

"Vejo cada cliente como um celular: tem que estar carregado para funcionar", compara. Em 30 anos de profissão, ouviu de tudo — de divórcios a bullying. "Não sou psicólogo, mas levo tudo na brincadeira. Às vezes, um corte novo é só o empurrão que faltava para a autoestima".

 

E quando o resultado não agrada o cliente, Paulo explica que não é possível controlar tudo no processo.

 

"O cabelo tem memória química, e o diálogo honesto é essencial para tentar entender o cabelo e o resultado esperado". 

 

O tempo, diz, o ensinou a aceitar melhor as críticas no trabalho. "Antes, me afetava. Hoje, estudo marcas e técnicas para entregar segurança".

 

 

Transição capilar e aceitação

 

Paulo é um entusiasta da naturalidade — seja para assumir cachos, grisalhos ou abandonar químicas. "Recentemente, clientes loiras decidiram parar de pintar. Hoje, estão com mechas prateadas lindíssimas e cabelos mais saudáveis". Mas ressalva. "A decisão é delas. Só ajudo a tirar o que não serve mais". 

 

Ele reforça a importância do apoio profissional: "Se uma cliente quer cortar o cabelo para iniciar a transição, sou o primeiro a incentivar. Sofrer bullying por cachos ou grisalhos é comum, mas a beleza está em se reconhecer. Meu papel é ser aliado nessa jornada".

 

Uma cliente loira que abandonou as tintas semanais virou caso de sucesso, recorda. "Hoje, ela tem mechas prateadas e um cabelo saudável. A decisão foi dela; meu papel foi incentivar a mudança".

 

 

Elegância e Chapada dos Guimarães

  

Para Paulo Maia, ser chique vai muito além de ostentar marcas. "É sobre não exceder, sobre ter leveza até no modo de sentar ou segurar um copo. Elegância tem tom", define.

 

"Tem mulheres simples que são elegantes pelo jeito, e outras que usam grife com equilíbrio. O que não é chique? Misturar tudo – sapato de uma marca, bolsa de outra, brilho exagerado. Menos é mais", ensina.  

 

Fora dos salões, ele recarrega as energias em Chapada dos Guimarães, onde mora e de onde sai todos dias para atender suas clientes no Belviso Face & Hair, em Cuiabá.

 

"Em 1994, a primeira vez que vi aqueles paredões, senti que pertencia ali". Hoje, ele descreve a ida e volta para a cidade como um ritual. "Subo ao pôr do sol agradecendo e desço ao amanhecer refletindo. A Chapada é meu lugar no Mundo".

 

"Cada viagem é única: tem dias de neblina, outros com o sol explodindo atrás das montanhas. É minha terapia". Afirma.

 

 

Ele também crê na energia do local: "Ali existem portais. Já senti presenças, como se a mata e as pedras fossem seres vivos. Não é só paisagem; é uma conversa silenciosa com algo divino".  

 

E sobre extraterrestres? "Acredito! Eu gosto de pensar que não somos a única forma de vida. Se um pousasse na Chapada, faria o primeiro corte alien da história", ri. 

 

Para Paulo, trabalhar com cabelos vai muito além da técnica. "A cabeça é um ponto energético, uma antena que emite e recebe vibrações", explica.

 

Ele descreve momentos em que tocar o couro cabeludo de uma cliente gera arrepios ou conexões inexplicáveis. "Tem dias que a pessoa chega estressada, e quando coloco as mãos nela, sinto que estou canalizando algo maior. Às vezes, elas até dormem durante o serviço — é como se eu as levasse para um estado de paz".

 

Essa visão mística se reflete em sua rotina. "Antes de pintar um cabelo, observo não só a cor da pele, mas a fase emocional que a mulher está vivendo. O cabelo é um mapa da jornada dela".  

 

Além disso, ele adianta que a inteligência artificial já está influenciando o mundo da beleza. "Já existem chats que analisam seu tom de pele e indicam a melhor cor para você. Robôs podem sugerir cores, mas nunca substituirão a emoção de transformar alguém com as mãos ", diz.

 

"Nada substitui o toque humano. Eles não serão capazes de se concetar profundamente com a cliente de entender a sua história. Uma cliente em Londres chorou quando passei horas transformando o cabelo dela, porque lembrou da mãe, que tinha um cabeleireiro dedicado. Robôs não dão esse afeto ". Diz.

 

 

 

Aos 54 anos, Paulo esta longe de se aposentar e planeja um estúdio para cursos e conteúdos com suas técnicas, além de expandir seu método para outros países.

 

"Quero deixar tudo mastigado para a próxima geração, gravar aulas, tutoriais, deixar meu legado para as próximas gerações de cabelereiros".

 

E encerra com uma lição: "Descobri minha vocação aos 15 anos. Trabalho deste então, se for até os 65, será com a mesma paixão. Se você faz com amor, nunca será só trabalho". Finaliza.

 

Confira a entrevista completa:

 

 


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