Arquivo história do gil - posto gil

Às margens da BR-163, no município de Diamantino, em 1968, o empresário Gilberto Silvério de Almeida, mais conhecido como Gil, fundava, ao lado da esposa, Ivete Borges de Almeida, de 82 anos, o Posto Gil — que mais tarde se tornaria não apenas um ponto de referência, mas um símbolo para Mato Grosso.
O empresário partiu no último dia 1° de abril, em Cuiabá, aos 81 anos, depois de sofrer falência múltipla dos órgãos, em decorrência de uma broncopneumonia e hemorragia digestiva.
A família agora lida com a saudade e, para Ivete, a ficha sequer caiu. “Vejo a cama e é a mesma coisa que ver ele ali. A ficha não caiu. Para mim, parece que ele está vivo”, disse ela em conversa com o MidiaNews.
Para Claudia Borges de Almeida, de 49 anos, única filha do casal e braço direito do empresário, será difícil viver com a ausência do pai.
“Saudade! Vai ser difícil! Eu era muito grudada com meu pai. Mas ele estava sofrendo, a família sofria e sei que ele está em bom lugar, que descansou”, disse, emocionada.
À frente de seu tempo
Nascido em Itamaracá, no Paraná, Gil era o filho mais velho de sete irmãos e veio com a família para Cuiabá quando ainda era um menino, em 1955.
Divulgação/Arquivo Pessoal
Gil sofreu um acidente em 3 de julho de 2013
Adalberto Lebrinha Carvalho de Almeida, de 76 anos, irmão de Gil, conta que, à época, os tempos eram difíceis. “Todo mundo teve que sair para trabalhar, porque a coisa era braba. Não tinha nada por aqui”.
Ainda muito jovem, Gil começou a trabalhar na Companhia Construtora Brasil e, segundo Adalberto, pode ter sido ali que surgiu a ideia de montar o posto de combustível. “A construtora fazia a BR e o Gil começou a conhecer máquinas ali”.
Dois anos depois de se casar com Ivete, o casal rumou ao norte do Estado e fundou a empresa em um terreno que já havia sido comprado há tempos. “Dois corajosos resolveram, como diziam os antigos, quase sem eira nem beira, partir para o norte”, disse Adalberto.
No ano de 1972, o 9º BEC (Batalhão de Engenharia de Construção) precisava de apoio logístico para a construção da BR-163 e usou o Posto Gil como base. “Gil emprestou uma área para eles ficarem, fizeram um poço artesiano, casas, tinham pista de avião. O 9º BEC ficou dez anos lá”, contou Adalberto.
“No google, você procurava entroncamento da BR-163 e 364 e tinha o georreferenciamento do posto mais famoso do Brasil e do mundo talvez”.
Por essa contribuição, Gil recebeu nesta semana a Ordem do Mérito General Couto de Magalhães, “em reconhecimento aos serviços relevantes em prol do interesse e do bom nome desta Organização Militar”, diz a honraria enviada pelo Exército Brasileiro.
Adalberto contou que, no início, o casal passou por muitas dificuldades. “Tudo era difícil. Mão de obra, ninguém sabia mexer nos postos, tinha que ensinar tudo. Tinha que dar desde café da manhã, almoço, não tinha onde os funcionários dormir. Era só o posto de gasolina e o movimento. A dificuldade era tremenda”.
Para Adalberto, o irmão sempre foi um “desbravador” e queria sempre “chegar na frente”, além de ter um coração enorme.
Gil chegou a comprar um avião para atender os amigos na época em que as estradas não eram boas. “Sempre acudindo todo mundo. Um cara super relacionado, bom demais. Não é porque era meu irmão, mas era bom demais. Era meu xodó”.
Posto, hotel e restaurante
Divulgação/Arquivo Pessoal
Gil e esposa em inauguração do Posto Gil
O Posto Gil foi o mais importante dos empreendimentos, mas não o único. Gil construiu também um hotel, um restaurante e até um loteamento na região, que também leva seu nome. E doou terras para a construção de uma capela para Nossa Senhora Aparecida.
Mais do que um posto de combustível, o Posto Gil, que fica no entroncamento entre Sinop, Diamantino e Cuiabá, se tornou um ponto de encontro. O empresário organizava bailes, provas de laço e outros eventos para reunir os amigos.
“Pelo relacionamento com todo mundo e com a Prefeitura, Gil foi o único civil que subiu na ponte do Teles Pires, que foi inaugurada pelo 9º BEC, quando o presidente [Ernesto] Geisel veio”, disse Adalberto.
Hoje, a família já não administra mais o Posto Gil, que segue levando seu nome. No loteamento, com direito a rodoviária e onde hoje moram aproximadamente 500 pessoas, muitos dos terrenos ainda pertencem à família.
Mesmo com quase duas semanas da morte do empresário, a família segue recebendo mensagens de pesar.
Em família
Gil foi descrito como um bom pai, bom marido e bom irmão. Firme quando precisava ser, mas amoroso com todos.
“Ele era um bom pai. Quando era para chamar atenção, chamava, ficava bravo. Mas era brincalhão e eu era muito apegada. E, depois que minha filha nasceu, ela virou o xodó dele. Fiquei meio enciumada, perdi meu colo, mas tudo bem”, disse Claudia.
Ivete contou que com Gil foi amor à primeira vista. Ela morava em Barra do Bugres quando o rapaz estava de passagem na cidade com o pai. “Eu era noiva, mas aí a gente começou a se olhar e, de repente, ele já mandou tirar a aliança e eu tirei. Era para ser com ele. Foi amor à primeira vista”, disse.
Pouco tempo depois, os dois se casaram em Cuiabá, na Igreja Mãe dos Homens. Ficaram casados por 59 anos. “Ele era calmo, bonzinho. Não tenho queixa dele. Não é porque morreu, não. Mas ele nunca me tratou mal”, disse.
Além do Posto Gil e da família, o empresário amava uma pescaria e tirar dias para curtir com os irmãos.
“A paixão do Gil era pescar. A gente inventava uma pescaria no meio de setembro, a semana da pátria era nossa. Entre os irmãos, a gente levava cozinheiro, levava motor estacionário, ficava oito dias no bem-bom, no meio do mato. Não era casa, não. Fazia barraco, fazia tudo”.
“Uma vez fizemos um rali daqui para Bolívia, Peru, Argentina, Chile e Uruguai. Vinte e um dias andando de carro, os quatro irmãos”, relembrou.
O acidente que mudou tudo
Divulgação/Arquivo Pessoal
Antiga imagem aérea do Posto Gil; localizado em Diamantino
Aconteceu em 3 de julho de 2013 o acidente que mudou drasticamente a vida de Gil e de toda sua família, pela displicência de um caminhoneiro. O empresário dirigia sozinho pela Estrada da Guia quando sofreu um grave acidente, chegando em Rosário Oeste.
“Era neblina e o rapaz quebrou o caminhão e largou na estrada, não botou nenhuma sinalização. Pela minha perícia, Gil virou para esquerda, vinha vindo um outro carro e ele voltou para trás e bateu”.
O Samu tardou a ser acionado e a chegar ao local do acidente para socorrer Gil. O empresário, sempre muito ativo, teve perda de massa encefálica e precisou de cuidados especiais ao longo de todos esses anos.
Depois do acidente, a família decidiu vender o Posto Gil e voltar de vez para Cuiabá. “Ele ficou doente muito tempo, até que foi para cama já no finalzinho”, contou o irmão.
Segundo Adalberto, apesar de precisar de cadeira de rodas para se locomover, Gil se recusava. “Ele não se sentia bem daquele jeito. Nessa parte, ele foi orgulhoso, tentando ser lembrado do jeito que era”, disse.
Mas Gil conseguiu, segundo o irmão, ser lembrado do jeitinho que era. “Pelo que a gente nota, ele acertou, porque todo mundo fala a mesma coisa. Ninguém fala mal do Gil. Todo mundo fala que era um cara que sempre foi prestativo, muito alegre, amigo. Até mão solta. Era corintiano roxo”.
“Foi o alívio mais doloroso que tivemos. Porque a gente ficava com dó de ver ele sofrer daquele jeito. Na hora que acontece, é um baque para todo mundo. Dói”, completou.
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4 Comentário(s).
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Joseneto 14.04.25 17h32 | ||||
BELA HISTORIA DE VIDA. VERDADEIRAMENTE UM DESBRAVADOR. | ||||
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Elizabeth Regina 14.04.25 11h14 | ||||
Eu envio os meus sentimentos aos familiares e obrigada por fazerem histórias e terem progredido a história do meu estado, pois tda vez que eu viajo sempre passo no posto Gil e mais uma vez minhas sinceras condolências só familiares | ||||
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Adriangelo 13.04.25 16h31 | ||||
A área em que se instalou o posto Gil foi adquirida de meu avô Nabor Barros dono da fazenda Estivado localizada perto do posto Era antiga parada de ônibus restaurante e pensão Ele veio da região do Araguaia e abriu os garimpos de Peba Cachoeira Rica na Chapada Era garimpeiro capangueiro e também com seringais do Nortão A família guarda boas lembranças do Sr Gilberto | ||||
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Milton 13.04.25 11h20 | ||||
Um grande cidadão tive a oportunidade de conhecer | ||||
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