Cuiabá, Sábado, 5 de Julho de 2025
MULHERES VÍTIMAS
02.04.2019 | 16h50 Tamanho do texto A- A+

Anuário aponta que maioria das vítimas tem "subempregos"

Para delegada, dependência financeira contribui para permanência da vítima no ciclo de violência

Alair Ribeiro/MidiaNews

Jozirlethe Criveletto, titular da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher da Cuiabá

Jozirlethe Criveletto, titular da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher da Cuiabá

BRUNA BARBOSA
DA REDAÇÃO

A maioria das mulheres vítimas de violência doméstica em Cuiabá é solteira, de cor parda, com idade entre 35 a 45 anos, com ensino médio completo, desempregada e ex-convivente do agressor. 

 

O perfil foi traçado no 2º Anuário Estatístico da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher da Cuiabá e usa dados referentes ao ano de 2018.

 

De acordo com a delegada titular da unidade especializada, Jozirlethe Aparecida Magalhães Criveletto, os dados mostram a necessidade de políticas públicas para o acolhimento dessas vítimas.

 

De acordo com o anuário, 1.577 vítimas não souberam definir suas profissões e encontram-se em situação de subemprego, ou seja, exercendo empregos não qualificados, de remuneração baixa, informais ou sem vínculo e garatias trabalhistas.

 

A delegada titular da unidade especializada, Jozirlethe Aparecida Magalhães Criveletto, definiu a situação como "problemática" e chamou atenção para a necessidade de assistências sociais para as mulheres vítimas de violência. 

 

A taxa de subemprego que temos hoje em mulheres vítimas de violência é muito alta. A maioria delas se encontra desempregada ou se encontra em nível de subemprego, precisando de politicas públicas nessa área

"Elas não querem ser enquadradas como 'do lar', mas não tem uma profissão definida, então colocamos como 'não identificado'. A taxa de subemprego que temos hoje em mulheres vítimas de violência é muito alta. A maioria delas se encontra desempregada ou se encontra em nível de subemprego, precisando de politicas públicas nessa área", avaliou. 

 

Perfil

 

A maioria das mulheres atendidas pelas equipes da unidade especializada se declara "solteira" com relação ao estado civil, num total de 1.214 vítimas. De acordo com a delegada, isso acontece pelo fato de que muitas delas já não possuem mais nenhum tipo de relacionamento com o autor das agressões. 

 

Em seguida, 565 se declaram casadas e 491 informaram que conviviam com o agressor. 

 

Com relação a cor da pele das vítimas, conforme o anuário, existe dificuldade por parte das mulheres atendidas autodefinirem o quesito, fazendo com que a maior taxa registrada seja "não informado", somando 1.463 delas. 

 

Mesmo diante da dificuldade para preencher este campo, a maioria da vítimas atendidas em 2018 se definiu como "parda", sendo 916 mulheres. 

 

Ainda com relação a cor da pele, 487 das mulheres que registraram denúncias naquele ano eram brancas, 126 negras e 62 "amarelas".

 

A faixa etária das vítimas relacionada no anuário demonstra que 802 delas possuíam entre 35 e 45 anos, sendo a maior taxa de registros de ocorrências relacionadas a agressão contra mulheres.

 

Porém, conforme apontado pela delegada, a média de idade das vítimas agredidas fica em torno de 25 a 45 anos, somando 1.786 dos Boletins de Ocorrência registrados em 2018. 

 

Quanto a escolaridade das vítimas, 1.027 delas informaram ter concluído o ensino médio, seguido por aquelas possuíam apenas o ensino fundamental, sendo 527. Em terceiro lugar, o anuário apontou mulheres com ensino superior completo, sendo 493.

 

Dependência financeira

 

Ainda de acordo com o anuário, 234 mulheres informaram estar desempregadas e 214 se definiram como donas de casa. 

 

Mulheres que possuem ensino médio completo são maioria entre as vítimas - totalizando 1.027 -, mas a maior parte das que buscaram a Delegacia Especializada de Defesa da Mulher da Capital em 2018 se encontra em situação de vulnerabilidade financeira. 

 

Quando fazemos explanações sobre violência doméstica fala-se muito em 'quebrar' o vínculo, mas e essas mulheres que já 'quebraram' o vínculo e ainda continuam sendo vítimas desses agressores?

Filhos com o agressor 

 

 

Conforme o anuário, a maioria das vítimas de violência doméstica em 2018 informaram possuir um filho com o agressor, somando 599 das mulheres atendidas.

 

Em segundo lugar aparecem as ocorrências registradas por mulheres que possuíam dois filhos com o agressor. Apesar disso, o maior índice de registros também é o "não informado", com 1.503 vítimas. 

 

Tempo de relacionamento

 

O anuário coletou ainda dados acerca do tempo de relacionamento entre vítima e agressor, sendo que, na maioria das ocorrências registradas em 2018, as mulheres atendidas pela delegacia informaram não possuir vínculos com o suspeito, somando cerca de 1.432 mulheres naquele ano. 

 

Conforme a delegada, o fato de a maioria das mulheres não possuírem vínculos com o agressor é justificado pelo relacionamento já ter sido encerrado, ou seja, quando a mulher consegue "quebrar" a conexão com o agressor e pelo fato da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher da Cuiabá realizar atendimentos com vítimas de violência de genêro, onde vítima e suspeito não possuem ligações. 

 

"Quando fazemos explanações sobre violência doméstica fala-se muito em 'quebrar' o vínculo, mas e essas mulheres que já 'quebraram' o vínculo e ainda continuam sendo vítimas desses agressores?", explicou. 

 

Foram listados vínculos de um dia a nove anos entre a vítima e o agressor, sendo que 542 mulheres afirmaram se relacionar com o suspeito há mais de nove anos. 

 

Com relação ao tempo de separação entre as partes, foi constatado que a maioria das mulheres, totalizando 333 das ocorrências, haviam se afastado do agressor entre cinco meses e um ano. 

 

Porém, prevaleceram o número de de registros em que a mulher afirmou não possuir vínculo conjugal com o agressor ou não informou, sendo 1.681 delas. 

 

Quanto ao tipo de relacionamento entre vítima e agressor, os dados coletados pelo anuários demonstraram que, em 361 dos Boletins de Ocorrência registrados na unidade especializada, o homem era ex-convivente da mulher agredida, ou seja, ambos já haviam "quebrado" o vínculo entre eles. 

 

"O anuário traz vários vínculos como 'sobrinho' e até mesmo odontólogo. Mas, quem mais registrou denúncias em 2018 foram as ex-companheiras, seguido por ex-maridos e vizinhos [somando 103 e 63 das ocorrências respectivamente], já que a Delegacia da Mulher trabalha com todos os tipos de violência de gênero", disse a delegada.

Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).




Clique aqui e faça seu comentário


COMENTÁRIOS
0 Comentário(s).

COMENTE
Nome:
E-Mail:
Dados opcionais:
Comentário:
Marque "Não sou um robô:"
ATENÇÃO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. Comentários ofensivos, que violem a lei ou o direito de terceiros, serão vetados pelo moderador.

FECHAR

Preencha o formulário e seja o primeiro a comentar esta notícia