Mesmo com a notificação do Ministério Público Estadual (MPE) sobre o suposto risco de desabamento, os moradores dos Residenciais Nicolina de Oliveira e João Alfredo de Oliveira, no Centro de Cuiabá, descartam o perigo e se sentem seguros em continuar morando nos imóveis.
Além de abrigar as duas torres, o lugar foi construído há 40 anos para ser o primeiro shopping center de Cuiabá, entre a Rua Barão de Melgaço e a Comandante Costa.
Somando os dois edifícios, há 96 apartamentos, sem contar as diversas lojas no térreo.
O desembargador José Zuquim, que mora na torre João Alfredo de Oliveira há 10 anos, se diz tranquilo.
Para ele, as providências tomadas pela síndica Maria de Brito França - antes mesmo da notificação do MPE - já são suficientes para sanar o problema. Maria França contratou uma empresa especializada em janeiro deste ano para iniciar os reparos nos pilares da garagem onde foram encontradas fissuras e infiltrações.
“No momento, não vejo nenhum risco. Participei da reunião dos esclarecimentos que foram feitos pelo engenheiro após a contratação pelo condomínio e não vejo risco. Não tenho nenhum receio de continuar morando ali”, afirma.
Segundo o magistrado, o problema de infiltração nas pilastras é antigo e sempre foi motivo de preocupação. Ele acredita que, se não for resolvido, a situação pode crescer e se tornar um risco aos moradores.
“Vejo risco futuro se não fizer nada. Lá existem fissuras, existe constante vazamento de água e isso causa, conforme constatado pelo engenheiro e pela empresa, umidade das colunas. E o externo da coluna começa a se comprometer”, explica Zuquim.
No entanto, o magistrado conta que foi pego de surpresa com as notícias sobre um possível risco de desabamento de sua casa.
“Causou-me surpresa. Então precisou ocorrer tudo isso para que a gente realmente tomasse conhecimento e passasse a participar dos problemas do condomínio. Quando tomei conhecimento, vi que não há risco de desabamento”, relata.
Mesmo com aborrecimento de obras e taxas extras no valor do condomínio para arcar com os custos dos reparos, o desembargador não vê a possibilidade de se mudar. Ele conta que tem um grande apego ao edifício, pois foi onde encontrou o seu lar após morar de aluguel.
“Sou apaixonado por aquele lugar. É um local aconchegante, todos se conhecem, é um apartamento bem espaçoso, daqueles antigos ainda. Muito apego porque já vivi de aluguel, sei o que é a dificuldade do aluguel, já conheci outros lugares”, revela Zuquim.
Outra moradora, a professora Jane Rocha, de 55 anos, está no Nicolina de Oliveira há apenas três anos, mas o enxerga como seu lar.
“Sairia correndo se fosse verdade. É meu lar. Fiz amizades com os vizinhos, fui às assembleias, venho usufruindo desse espaço que eu nunca imaginei que fosse ter”, afirma.
Ela conta que nunca havia imaginado que conseguiria comprar o apartamento. A aquisição foi a realização de um sonho.
“Eu não tinha dinheiro para comprar, foi um presente que Deus me deu. Vendi minha casinha lá no CPA 4 e, com aquele dinheiro, consegui comprar aqui”.
A notícia sobre o risco de desabamento foi chocante para a professora, mas ela também optou por confiar nos trabalhos contratados pela síndica.
“Não é motivo de pânico, nem de medo. É uma coisa que poderia acontecer com qualquer condomínio como já aconteceu. Não vai desmoronar. A empresa especializada está trabalhando, nós estamos pagando taxa extra além do condomínio”, tranquiliza Jane.
Victor Ostetti/MidiaNews
O desembargador José Zuquim se sente tranquilo com a reforma no prédio
Estigma
Apesar do ar de despreocupação, a notícia de risco de desabamento tem causado outros danos ao imóvel.
De acordo com a síndica, a imagem do condomínio foi manchada e os impactos já são aparentes. Apartamentos e lojas já foram desvalorizados e a procura para alugar caiu em uma semana, diz ela.
“Pessoas passavam do outro lado da rua e mostravam o prédio. Foi um estrago muito grande o que fizeram. Desvalorizou nosso prédio, nossos apartamentos, as lojas. Hoje ninguém quer alugar aqui. A maioria dos moradores está chateada com o que está acontecendo”, expõe.
Os proprietários ficaram tensos ao saberem da notificação do MPE. O telefone da síndica não parava de tocar. Maria conta que desenvolveu até laringite de tanto ter que dar justificativas.
“Recebi ligação da Alemanha, dos EUA, do Brasil inteiro, perguntando o que estava havendo, se era verdade que o prédio iria cair. Quando foi para a mídia, nem eu sabia. O estrago está feito”.
Providências
Maria França, que comprou o apartamento ainda na planta, conta que ficou "pasma" quando a bomba surgiu. Até então, ela afirma que não tinha sido notificada pelo MPE.
Porém, a síndica já tinha iniciado as obras em janeiro. Ela relata que desde o ano passado vinha procurando empresas para realizar a obra.
“Na verdade, não sei o que está acontecendo. Também quero saber o porquê da notícia de que o prédio iria cair. Fiquei tão nervosa porque nós estamos tomando todas as providências”.
Conforme seu advogado Thomas Ubirajara, a vistoria da Defesa Civil foi feita em novembro e o laudo foi concluído em 9 de dezembro. Entretanto, o material só chegou ao condomínio no dia 20 de fevereiro.
Ainda de acordo com ele, o laudo foi feito apenas com imagens fotográficas e não analisou o material das pilastras. Somente com isso, a Defesa Civil apontou o risco de desabamento, diz ele.
“Nesse laudo, feito apenas com base em registros fotográficos, um laudo que não respeitou as normas da ABNT [Associaação Brasileira de Normas Técnicas], fala em risco de desabamento, o que não é verdade”, afirma Ubirajara.
A situação alarmante logo foi retratada pela engenheira que elaborou o documento, segundo o advogado. A avaliação da própria empresa contratada pela síndica também constatou que não há perigo.
“A gente tem um laudo do engenheiro que comprova que não há risco de desabamento. Isso é algo que foi dito sem análise profunda da estrutura do prédio”.
40 anos de história
Além de moradora, Jane também trabalhou para a empresa que construiu o imóvel. Na época, ela tinha apenas 14 anos e era secretária.
“A empresa ficava aqui na Comandante Costa e eu era secretária. Na época vendiam em dólar, as pessoas pagaram pelo apartamento em dólar”, conta.
Na parte de baixo foi feito o primeiro shopping de Cuiabá. Quando inaugurou, a galeria era tomada por lojas e até abrigou o primeiro McDonald’s da Capital, segundo Jane.
“Foi uma loucura. Tinha criançada, jovens, adultos. O primeiro McDonald’s que apareceu foi aqui. Toda a galeria era ocupada, havia lojas com roupas chiquérrimas, igual um shopping. Era o único lugar que havia”, relembra.
Agora, a professora pretende deixar o seu apartamento para seus dois filhos. Ela acredita que o imóvel ainda irá durar por várias gerações.
“Estou confiante. A construção desse prédio foi tão bem feita que o eletricista me falou que a fiação pode aguentar mais uns 50 anos tranquilamente”, garante.
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
0 Comentário(s).
|