A morte da modelo cuiabana Nayara Vit, de 33 anos, ocorrida em julho do ano passado no Chile, completou seis meses nesta sexta-feira (7). Ainda sem respostas oficiais, a família se diz esperançosa com uma mudança importante no rumo das investigações. O inquérito agora corre em um setor do Ministério Público chileno criado para apurar crimes de gênero e violência doméstica.
Nayara morreu em 7 de julho de 2021, depois de cair do 12º andar do edifício onde morava com o namorado em Santiago, Capital do Chile. O imóvel de alto padrão está localizado no Bairro Las Condes, um dos mais belos da cidade.
Quem estava à frente das investigações era o fiscal (equivalente e promotor) Omar Mérida, do Ministério Público do Chile. Atualmente a investigação está a cargo da fiscal Carolina Fuentes Remy-Maillet, da “Fiscalía de Crímenes de Género y Violencia Intrafamiliar”, novo setor do MP chileno.

A mudança do inquérito reforça a suspeita da família de que Nayara fora vítima de feminicídio e não de um acidente ou suicídio, como se falou inicialmente.
Em entrevista ao MidiaNews, Eliane Vit, mãe da modelo, afirmou que a mudança de departamento renovou as esperanças da família, que busca respostas para o crime. “Nós estamos bastante esperançosos, já que depois de todo o processo de investigação e reconstituição, de ouvir testemunhas, eles já concluíram que foi um feminicídio”, afirmou.
O departamento especializado em questões de gênero é novo e o caso de Nayara, que passou a ser investigado como suspeita de feminicídio, é o primeiro sob a responsabilidade do setor. Com a mudança, Eliane acredita que “já está meio caminho andado”.
Um passo mais perto da verdade
Além da mudança de “Fiscalía” - órgão que dirige as investigações criminais no País -, aguarda-se a conclusão dos exames de tanatologia. O objetivo é esclarecer as reais condições que envolveram a morte.
Segundo o advogado Cristián Cáceres, contratado pela família, esse exame ainda está em fase de construção. “Efetivamente há um segundo exame tanatológico, mas com outros componentes, componentes fisiológicos, de queda, é mais do que um simples exame”.
De acordo com o advogado, o procedimento tem como base a realização de outros exames, tornando-o um documento detalhado e bastante complexo.
“Uma das dificuldades de um documento dessa natureza é determinar se há uma cronologia nas feridas e determinar quais são atribuídas à queda e quais são atribuídas não à queda, mas sim a acontecimentos anteriores a ela”, explicou.
Apesar de não entrar em detalhes por não ter tido acesso ao documento, Cáceres afirmou que, a partir das investigações, até o momento, é possível afirmar que há indícios de que Nayara tenha sido vítima de violência antes da queda.
Não há prazo para a conclusão do inquérito. No entanto, segundo o advogado, a conclusão e apresentação do exame de tanatologia seria “quase que determinante” para as investigações.
Contradições e inconsistências
A morte de Nayra foi tida inicialmente pela Polícia, e consequentemente pela imprensa chilena, como um caso de suicídio. A hipótese foi descartada com o passar das investigações, que em seus primeiros dias foi rodeada de falhas e contradições.
Reprodução
Nayara abraçada à mãe, Eliane Vit
Desde o início a família desconfiou da versão e pressionou as autoridades do país para investigarem o caso. De acordo com Sérgio Henrique Puga, primo da modelo, a Polícia trabalhou com três hipóteses iniciais: suicídio, acidente ou homicídio (neste caso feminicídio).
Quando a modelo caiu do prédio, ela estava na companhia do então namorado, o executivo Rodrigo del Valle Mijac, um dos homens fortes de uma das subsidiárias da empresa Raylex, sediada em Santiago, no Chile.
A primeira versão apresentada por ele, segundo Cáceres, é bastante vaga e simples. “Nele ele dizia que Nayara entrou, saiu correndo e se lançou pela sacada”. O executivo teria prestado um novo depoimento, dessa vez na “Fiscalía” que investiga o caso, no entanto, por tramitar em segredo de justiça o advogado não teria tido acesso a esse novo documento.
Muitas situações envolvendo o empresário teriam despertado a desconfiança da família, dentre elas a tentativa de cremar o corpo como se ele pretendesse fazer “uma queima de arquivos”.
Quando o ex-marido de Nayara, pai da filha dela, foi até o Instituto Médico Legal, em companhia de uma amiga da modelo, para realizar a liberação do corpo, diversos detalhes teriam chamado à atenção fazendo-os suspender a liberação.
“A Marcela [amiga de Nayara] quando viu o corpo, viu muitos detalhes. Ela viu que tinha marcas de agressão no pescoço, ela viu marcas que não correspondiam [à queda], que ela tinha sido agredida”, explicou Eliane.

Segundo Sérgio, extraoficialmente a modelo teria caído sobre os arbustos e não teria batido a cabeça. “Aparecem lesões que não seriam oriundas à queda, seriam agressões anteriores, mas nada disso é oficial”, disse.
De acordo com a imprensa Chilena, investiga-se o envolvimento de terceiros no crime, pois câmeras de segurança teriam registrado a presença de outra pessoa no apartamento.
Se comprovado o envolvimento no crime, Rodrigo pode ser condenado a 20 anos de prisão.
Apesar de não haverem prazos estipulados para a conclusão do caso, Cáceres explica que existem prazos estabelecidos pelo código chileno. “Uma investigação judicializada não pode durar mais de dois anos”. Ou seja, a partir do momento em que o Ministério Público formaliza a investigação ela não pode ultrapassar esse período.
A espera por respostas
Eliane confidenciou que com a demora na conclusão do inquérito, às vezes, é tomada por um sentimento de agonia. “É uma coisa que está tão evidente”, diz ela citando diversas circunstâncias que envolvem a morte da filha. “A gente pensa, poxa são tantas provas que já era para estar resolvido”.
Devido à situação pandêmica, Eliane não teve a entrada permitida pelas autoridades Chilena para participar do enterro da filha.
“Na verdade, eu ainda não enterrei minha filha. Como ela vivia no Chile, a gente ainda fica com aquela impressão de que a qualquer hora ela vai ligar, vai voltar pro Brasil. Nós pulamos essa etapa, então esse vazio ainda está no meu coração”, desabafou.
Apesar do inquérito não ter sido concluído, a família tem um certeza: “Nayara não se suicidou”. Agora eles aguardam a versão oficial para afastar de vez o estigma de suicida da modelo e esclarecer as circunstâncias que levaram à sua morte.
“Nós queremos saber como foi que aconteceu e o porquê”, ressaltou Eliane. “Ela era uma pessoa que só dava amor”.
“A gente busca pela verdade, para que a filha dela [hoje com 4 anos] saiba, no futuro, o que de fato aconteceu, que ela não se matou”, finalizou Sérgio.
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