Cuiabá, Segunda-Feira, 22 de Dezembro de 2025
MORTE DE CUIABANA
16.01.2022 | 11h35 Tamanho do texto A- A+

Caso agora é investigado por setor de violência doméstica no Chile

Nayara Vit morreu no dia 7 de julho após cair do 12º andar do prédio em que morava, no Chile

Arquivo Pessoal

Nayara foi morreu quatro dias depois de completar 33 anos

Nayara foi morreu quatro dias depois de completar 33 anos

LIZ BRUNETTO
DA REDAÇÃO

A morte da modelo cuiabana Nayara Vit, de 33 anos, ocorrida em julho do ano passado no Chile, completou seis meses nesta sexta-feira (7). Ainda sem respostas oficiais, a família se diz esperançosa com uma mudança importante no rumo das investigações. O inquérito agora corre em um setor do Ministério Público chileno criado para apurar crimes de gênero e violência doméstica. 

 

Nayara morreu em 7 de julho de 2021, depois de cair do 12º andar do edifício onde morava com o namorado em Santiago, Capital do Chile. O imóvel de alto padrão está localizado no Bairro Las Condes, um dos mais belos da cidade.

 

Quem estava à frente das investigações era o fiscal (equivalente e promotor) Omar Mérida, do Ministério Público do Chile. Atualmente a investigação está a cargo da fiscal Carolina Fuentes Remy-Maillet, da “Fiscalía de Crímenes de Género y Violencia Intrafamiliar”, novo setor do MP chileno.

 

Nós estamos bastante esperançosos, já que depois de todo o processo de investigação e reconstituição, de ouvir testemunhas, eles já concluíram que foi um feminicídio

A mudança do inquérito reforça a suspeita da família de que Nayara fora vítima de feminicídio e não de um acidente ou suicídio, como se falou inicialmente. 

 

Em entrevista ao MidiaNews, Eliane Vit, mãe da modelo, afirmou que a mudança de departamento renovou as esperanças da família, que busca respostas para o crime. “Nós estamos bastante esperançosos, já que depois de todo o processo de investigação e reconstituição, de ouvir testemunhas, eles já concluíram que foi um feminicídio”, afirmou.

 

O departamento especializado em questões de gênero é novo e o caso de Nayara, que passou a ser investigado como suspeita de feminicídio, é o primeiro sob a responsabilidade do setor. Com a mudança, Eliane acredita que “já está meio caminho andado”.

 

Um passo mais perto da verdade

  

Além da mudança de “Fiscalía” - órgão que dirige as investigações criminais no País -, aguarda-se a conclusão dos exames de tanatologia.  O objetivo é esclarecer as reais condições que envolveram a morte.

 

Segundo o advogado Cristián Cáceres, contratado pela família, esse exame ainda está em fase de construção. “Efetivamente há um segundo exame tanatológico, mas com outros componentes, componentes fisiológicos, de queda, é mais do que um simples exame”.

 

De acordo com o advogado, o procedimento tem como base a realização de outros exames, tornando-o um documento detalhado e bastante complexo.

 

“Uma das dificuldades de um documento dessa natureza é determinar se há uma cronologia nas feridas e determinar quais são atribuídas à queda e quais são atribuídas não à queda, mas sim a acontecimentos anteriores a ela”, explicou.

 

Apesar de não entrar em detalhes por não ter tido acesso ao documento, Cáceres afirmou que, a partir das investigações, até o momento, é possível afirmar que há indícios de que Nayara tenha sido vítima de violência antes da queda.

 

Não há prazo para a conclusão do inquérito. No entanto, segundo o advogado, a conclusão e apresentação do exame de tanatologia seria “quase que determinante” para as investigações. 

 

Contradições e inconsistências

 

A morte de Nayra foi tida inicialmente pela Polícia, e consequentemente pela imprensa chilena, como um caso de suicídio. A hipótese foi descartada com o passar das investigações, que em seus primeiros dias foi rodeada de falhas e contradições.

Reprodução

Nayara Vit e mãe

Nayara abraçada à mãe, Eliane Vit

 

Desde o início a família desconfiou da versão e pressionou as autoridades do país para investigarem o caso. De acordo com Sérgio Henrique Puga, primo da modelo, a Polícia trabalhou com três hipóteses iniciais: suicídio, acidente ou homicídio (neste caso feminicídio).

 

Quando a modelo caiu do prédio, ela estava na companhia do então namorado, o executivo Rodrigo del Valle Mijac, um dos homens fortes de uma das subsidiárias da empresa Raylex, sediada em Santiago, no Chile.

 

A primeira versão apresentada por ele, segundo Cáceres, é bastante vaga e simples. “Nele ele dizia que Nayara entrou, saiu correndo e se lançou pela sacada”. O executivo teria prestado um novo depoimento, dessa vez na “Fiscalía” que investiga o caso, no entanto, por tramitar em segredo de justiça o advogado não teria tido acesso a esse novo documento.

 

Muitas situações envolvendo o empresário teriam despertado a desconfiança da família, dentre elas a tentativa de cremar o corpo como se ele pretendesse fazer “uma queima de arquivos”.

 

Quando o ex-marido de Nayara, pai da filha dela, foi até o Instituto Médico Legal, em companhia de uma amiga da modelo, para realizar a liberação do corpo, diversos detalhes teriam chamado à atenção fazendo-os suspender a liberação.

 

“A Marcela [amiga de Nayara] quando viu o corpo, viu muitos detalhes. Ela viu que tinha marcas de agressão no pescoço, ela viu marcas que não correspondiam [à queda], que ela tinha sido agredida”, explicou Eliane. 

Na verdade, eu ainda não enterrei minha filha. Como ela vivia no Chile, a gente ainda fica com aquela impressão de que a qualquer hora ela vai ligar, vai voltar pro Brasil. Nós pulamos essa etapa, então esse vazio ainda está no meu coraçã

 

Segundo Sérgio, extraoficialmente a modelo teria caído sobre os arbustos e não teria batido a cabeça. “Aparecem lesões que não seriam oriundas à queda, seriam agressões anteriores, mas nada disso é oficial”, disse.

 

De acordo com a imprensa Chilena, investiga-se o envolvimento de terceiros no crime, pois câmeras de segurança teriam registrado a presença de outra pessoa no apartamento.

 

Se comprovado o envolvimento no crime, Rodrigo pode ser condenado a 20 anos de prisão.

 

Apesar de não haverem prazos estipulados para a conclusão do caso, Cáceres explica que existem prazos estabelecidos pelo código chileno. “Uma investigação judicializada não pode durar mais de dois anos”.  Ou seja, a partir do momento em que o Ministério Público formaliza a investigação ela não pode ultrapassar esse período.

 

A espera por respostas

 

Eliane confidenciou que com a demora na conclusão do inquérito, às vezes, é tomada por um sentimento de agonia. “É uma coisa que está tão evidente”, diz ela citando diversas circunstâncias que envolvem a morte da filha. “A gente pensa, poxa são tantas provas que já era para estar resolvido”.

 

Devido à situação pandêmica, Eliane não teve a entrada permitida pelas autoridades Chilena para participar do enterro da filha.

 

“Na verdade, eu ainda não enterrei minha filha. Como ela vivia no Chile, a gente ainda fica com aquela impressão de que a qualquer hora ela vai ligar, vai voltar pro Brasil. Nós pulamos essa etapa, então esse vazio ainda está no meu coração”, desabafou.

 

Apesar do inquérito não ter sido concluído, a família tem um certeza: “Nayara não se suicidou”. Agora eles aguardam a versão oficial para afastar de vez o estigma de suicida da modelo e esclarecer as circunstâncias que levaram à sua morte.

 

“Nós queremos saber como foi que aconteceu e o porquê”, ressaltou Eliane. “Ela era uma pessoa que só dava amor”.

 

“A gente busca pela verdade, para que a filha dela [hoje com 4 anos] saiba,  no futuro, o que de fato aconteceu, que ela não se matou”, finalizou Sérgio.

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