A família do idoso João Antônio Pinto, de 87 anos, morto a tiros por um policial civil durante uma suposta abordagem em 23 de fevereiro de 2024, em Cuiabá, teve as esperanças renovadas após o caso voltar às mãos do Ministério Público do Estado. Eles acreditam que os autores finalmente serão responsabilizados pela morte.

O idoso foi morto pelo policial civil Jeovanio Vidal Griebel, de 41 anos, no hangar de sua propriedade, na região do Contorno Leste, Bairro Jardim Imperial. O policial foi acionado pelo cunhado, Elmar Soares Inácio, de 45 anos, com quem João Pinto teria tido um desentendimento cerca de meia hora antes.
Segundo Gysela Maria Ribeiro Pinto, filha de João, a notícia de que o inquérito voltou às mãos do Ministério Público devolveu à família as esperanças de que a justiça seja feita.
“Sabemos que o inquérito da morte do nosso pai está nas mãos do Ministério Público. Nossa família está bastante esperançosa, pois já fazem quase dois anos e ainda não temos respostas. Só queremos que a justiça seja feita”, afirmou.
Gysela disse que o pai era um homem honesto, trabalhador e respeitado, e que o Estado falhou com ele.
“Contávamos com o apoio e a proteção do Poder Público, mas infelizmente ficamos reféns da omissão. Falharam em proteger nosso direito de propriedade e falharam em proteger o direito à vida do meu pai, sendo ele morto pelos próprios agentes estatais”, disse.
A filha afirmou ainda que a família está revoltada com tudo o que aconteceu e, especialmente, com a demora “absurda” na resolução do caso, classificando a situação como uma verdadeira “negligência”.
“Nada justifica a violência que sofremos desde o início do processo de invasão do Contorno Leste. Nós e as outras famílias proprietárias das áreas invadidas estamos no mesmo barco, sofrendo com a negligência estatal. Porém, no nosso caso, perdemos nosso pai, patriarca da família, para essa briga, e estamos desolados com toda a situação”.
“Agora que sabemos que o Ministério Público está com o inquérito em mãos, estamos com muita esperança de que a justiça seja feita e que o MP dê o andamento necessário, finalmente buscando justiça pela morte do nosso pai. Mesmo depois de tanto descaso e tristeza, ainda confiamos na justiça”, afirmou.
O MP
O promotor de Justiça do Ministério Público Estadual, Rinaldo Ribeiro de Almeida Segundo, afirmou ver com preocupação a dinâmica que envolveu a morte de João Pinto e disse que, por ora, não é possível afirmar se os envolvidos serão indiciados ou se o caso será arquivado.
Yasmin Silva/MidiaNews
Promotor Rinaldo Segundo, que falou sobre caso João Pinto
“Haverá um posicionamento conclusivo quando tivermos todas as informações, as que já estão no inquérito e essas que faltam chegar. Não posso dizer agora se vai ser denúncia ou arquivamento antes de ter todo esse material”, afirmou.
Segundo o promotor, falta a “juntada da apuração da corregedoria em relação aos policiais” e informações complementares que foram solicitadas à família da vítima, que podem ser “úteis para formar a convicção” da promotoria.
Ainda conforme o promotor, as manifestações do MP têm sido céleres e ágeis, e os questionamentos da família têm sido ouvidos.
“Eu vejo com preocupação esse caso, e essa é a razão de pedir diligências complementares. A polícia é uma instituição republicana, não é do promotor, não é do policial, não é do governador, não é do deputado, ela é da sociedade e deve servir à república”, afirmou.
“Vejo com bastante preocupação o que aconteceu no caso do Sr. João Pinto. Uma pessoa recebeu uma ligação dizendo que o seu cunhado estaria sendo ameaçado, pegou policiais que não têm atribuição de polícia ostensiva, porque eram policiais civis, levou para essa diligência, e acabou gerando essa morte em um contexto em que já existia um conflito fundiário que todos nós sabemos”, completou.
O promotor esclareceu, no entanto, que o inquérito não avalia a disputa de terra, mas a morte do idoso ocorrida durante uma suposta abordagem policial.
“Vejo com preocupação uma delegacia que não tem atribuição para isso, uma polícia que não é ostensiva, com uma ligação de um cunhado, ou seja, atuando por um interesse particular, fazer uma diligência ao seu bel-prazer, como se a polícia fosse sua”, afirmou.
Contradições

Em depoimento, Elmar afirmou trabalhar com construção civil e disse que, no dia dos fatos, foi buscar um funcionário em casa, “em um grilo próximo ao local do ocorrido”, conforme trecho do depoimento.
Segundo o relato, a esposa do funcionário informou que o marido “estaria roçando um terreno próximo à estrada dos fundos do Belvedere e Avenida Contorno Leste”. Por volta das 8h, Elmar teria parado sua caminhonete e esperado o funcionário terminar o serviço.
A versão apresentada por ele é de que João Pinto chegou ao local, desceu de sua caminhonete com uma arma na cintura, fez ameaças e, em determinado momento, o manteve sob a mira de uma arma.
A dinâmica descrita por Elmar já havia sido questionada pela família em entrevistas anteriores, sob o argumento de que “não teria dado tempo” de tudo ocorrer como relatado.
O relatório da empresa HD Sat Rastreadores, referente ao dia da morte de João Pinto, mostrou que o carro da vítima parou por mais de um minuto apenas no início do trajeto, ao abrir a porteira de sua propriedade e, depois, em frente ao hangar onde foi morto.
“Precisaria de mais do que um minuto para acontecer tudo isso que ele disse que aconteceu”, afirmou Gysela.
Entre outras supostas contradições citadas pela família em matérias anteriores do MidiaNews, está a perícia realizada no aparelho DVR que deveria conter as imagens da morte de João Pinto, mas apresentava registros apenas de antes e depois do crime. Além da alegação de Jeovanio de ter saído da cena para “procurar um local com melhor sinal” e informar o caso, mesmo havendo sinal de qualidade na região.
O caso
João Pinto foi morto no dia 23 de fevereiro de 2024, no hangar de sua propriedade, localizada na região do Contorno Leste, Bairro Jardim Imperial, em Cuiabá.
Conforme um dos laudos da Politec, o policial civil efetuou o disparo a cerca de 12 metros de distância da vítima e do lado de fora do hangar onde o corpo foi encontrado. João Pinto foi ferido na altura do ombro direito.
Jeovanio foi até a propriedade da vítima em uma viatura descaracterizada e sem mandado judicial, acompanhado de outros cinco colegas. Conforme imagens divulgadas à época, Elmar presenciou parte da ação.
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