As imagens da câmera de segurança do hangar de João Antônio Pinto, de 87 anos, morto a tiros pelo policial civil Jeovanio Vidal Griebel durante uma suposta abordagem, registraram parte da ação dos peritos e a retirada do corpo da vítima. Segundo a perícia, no entanto, o equipamento não teria captado o momento da morte.
A família contesta o laudo da Politec, que afirma que o aparelho de DVR continha registros apenas de antes e depois do homicídio, ocorrido em 23 de fevereiro, na propriedade da vítima, localizada na região do Contorno Leste, no Bairro Jardim Imperial.
O MidiaNews teve acesso a uma hora e vinte minutos de gravação do local do crime. Desde o início das imagens, o hangar já estava repleto de policiais e peritos da Politec. Em determinado momento, o corpo é retirado do local, e os profissionais permanecem realizando as demais perícias.
Até o final do registro, é possível ver a equipe em diferentes pontos do hangar, realizando os trabalhos periciais.
De acordo com o laudo encaminhado à Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), após alguns testes, o perito identificou que a bateria responsável por manter as configurações do dispositivo salvas após o desligamento estava descarregada.
“Sendo assim, na ausência de alimentação (falta de energia ou desligamento do dispositivo), todas as informações de configurações do dispositivo são perdidas, inclusive data e hora”, diz trecho do documento.
Pedido de Justiça
Segundo a advogada Gabriela Zaque, que representa a família, no final de 2024 a Polícia arquivou o inquérito alegando legítima defesa do policial. O caso foi encaminhado ao Ministério Público Estadual (MPE), que pediu novas diligências. Desde então, a família perdeu acesso aos autos e afirma estar “no escuro”.
O caso segue inconcluso e, conforme a advogada, os resultados da perícia — especialmente os do DVR — não convenceram.
“A família quer justiça e só conseguimos chamar a atenção das autoridades através dos jornais”, afirmou.
“A perícia do DVR demorou a sair e, quando finalmente saiu, veio aquele laudo dizendo que a câmera estava filmando, mas não gravando no momento do crime, e que voltou a gravar logo quando a Politec chegou”, explicou.
“Esse laudo técnico causou estranheza e revolta na família. Eles têm certeza de que as câmeras estavam funcionando e buscam justiça”, completou a advogada.
Um dos pontos que levantou suspeitas na família foi o fato de terem conseguido acessar as imagens logo após o crime. Gysela Maria Ribeiro Pinto, filha de João Pinto, que mora no Canadá, conseguiu visualizar as gravações assim que soube da morte do pai.
“O que mais causou estranheza é o resultado do laudo. Eles atestaram que as câmeras voltaram a funcionar somente quando a Politec chegou lá. Como assim? Ficaram sem gravar por mais de um mês e voltaram a funcionar justamente quando a Politec chegou? Eles garantem que estavam funcionando o tempo todo”, disse a advogada.
Veja o vídeo:
O laudo
Segundo o perito Túlio de Assis Bianchini, que assina o documento, a última gravação antes da morte de João Pinto é de 13 de janeiro de 2022, considerada irrelevante para a investigação.
As imagens seguintes são posteriores ao crime, “já com as equipes de perícia e PJC no local, realizando seus respectivos trabalhos”. O último arquivo registrado tem aproximadamente 1h50 de duração.
“Uma das hipóteses levantadas pelo perito é que o dispositivo estava apenas no modo de visualização; ou seja, era possível acessar e ver as imagens em tempo real, mas nenhuma gravação posterior a 13/01/2022 estava sendo feita, retornando somente após o acesso da equipe de investigação na busca por imagens do crime”, explica o documento.
O perito afirmou ter buscado imagens apagadas no dispositivo, mas não encontrou nenhum registro relevante.
O caso
João Pinto foi assassinado no dia 23 de fevereiro, no hangar de sua propriedade, localizada na região do Contorno Leste, no Bairro Jardim Imperial, em Cuiabá. O autor dos disparos foi o policial civil Jeovanio Vidal Griebel.
Conforme um dos laudos da Politec, o atirador efetuou ao menos um disparo de arma de fogo a cerca de 12 metros de distância da vítima e fora do hangar em que o corpo foi encontrado.
Seu João Pinto foi ferido na altura do ombro direito.
Jeovanio foi acionado pelo cunhado Elmar Soares Inácio, com quem João teria um litígio fundiário. Em uma viatura descaracterizada e sem mandado judicial, o policial foi até a propriedade acompanhado de outros cinco colegas.
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