Cega desde os 3 anos, a escritora mato-grossense Michelli Lopes lança nesta quinta-feira (26) seu livro "Quando uma Mulher Descobre o Mundo”. O evento acontece a partir das 18h, na Casa Barão, sede da Academia Mato-Grossense de Letras.
Na obra, Michelli Lopes, uma mulher negra, pobre, cacerense, que foi alfabetizada pela oralidade, narra suas experiências pessoais e dá o tom maior para sua poesia. Fala, dentre outras vivências, sobre o abandono paterno e da luta de sua mãe Nilza Lopes, uma guerreira que criou sozinha três filhos, relata seu caminhar para a alfabetização, com poucas incursões, não bem sucedidas, pelo Braile, ainda quando nem mesmo os professores dominavam a técnica. O livro tem a chancela da Mágico de Oz Editora.
A autora traz através de relatos fortes, ora pela poesia que nem sempre abranda um cotidiano carregado de superações, preconceitos e exclusões; ora pelo percurso que percorreu para ser ouvida e lida, que foi longo, pois foram muitos anos de isolamento social, desde que ficou cega. Ela acredita, entretanto, que pode ir mais além, tendo um sonho ainda maior, o de cursar a Faculdade de Serviço Social.
O livro, não só por uma evidência da influência de sua escrita, dentro da chamada literatura decolonial, deu voz para Michelli, que viveu sua vida até 28 anos, fora suas passagens pela Associação de Pais e Amigos de Excepcionais-APAE, de Cáceres, em solidão, enclausurada em casa, entre quatro paredes, sem muitas perspectivas de uma vida fora do ambiente familiar, temendo sempre ser marginalizada, subalternizada e distante da chamada justiça social.
Na parte 3 da obra, a lira de Michelli grita. No texto intitulado “Divisor de águas, desaguar?", a autora diz que houve um dia, em que ela parou de chorar. Depois um dia que parou de concordar! E, então, foi quando percebeu que assustou as pessoas por manifestar as suas vontades, inclusive de vestir-se com roupas de baixo, e além desta dignidade, queria mais, a exemplo de estudar, ouvir música e escrever.
Jornalistas sensíveis
A apresentação e o prefácio da obra de Michelli Lopes foram escritos pelas jornalistas e escritoras Sueli Batista e Mirella Duarte. Sueli, que também é empreendedora social, produtora cultural e empresária, viabilizou a obra e a noite de lançamento, através de suas redes de relacionamentos. Ela deixou registrado que a inspiração de Michelli trafegou pela via da oralidade e foi convertida em texto, com precisão, por uma professora da Apae, de Cáceres. “Isso mostra a importância dos educadores na construção da cidadania”. Numa forma de homenagem para a professora Maria José, uma das páginas do caderno com a poesia “a força do querer” que foi datada em 4 de abril de 2017, quando ela assinava Michelli Roberta, foi reproduzida no final da obra.
A homenagem para Maria José, que elaborou uma primeira versão do livro, que foi escrita a tinta, em um caderno, no qual Michelli ditava e a professora escrevia mostra o quanto devemos sempre lembrar daqueles que ajudam no percurso. O caderno foi encapado e entregue para a autora, que agora está debutando como escritora. Sueli diz que Michelli é a personificação da resiliência.
Descobertas e inspirações
A escrita de Michelli é fruto de seus vários momentos de descobertas e inspirações, seja dentro de suas vivências, pelo que lia e ouvia através da música. Ela cita, dentre suas referências, duas negras que saíram do caminho comum: a escritora mineira Conceição Evaristo e a cantora Elza Soares, sendo que esta inspirou até mesmo o título do seu livro, com a composição “A Mulher do Fim do Mundo”, de Romulo Froes e Alice Coutinho, que Elza interpretou tocando a autora pelas vias do seu coração. A composição depois que ouviu pela primeira vez, ela guardou a referência, e diz que após seis meses, veio a sua mente para dar nome edição: “Quando uma mulher descobre o mundo”.
Mirella Duarte, vencedora do Prêmio Literário ExpoFavela 2023, no prefácio do livro, o considerou como “uma obra prima que desnuda dores e amores, nem sempre reveladas tão honestamente pela humanidade, de forma fácil e breve”. Ela disse que cada poema de Michelli é como arrancar um curativo recém-feito, deixando as feridas arderem sem medo e expondo-o ao tempo. Para ela a coleção de poemas mostra a dor da solidão de uma escritora descobre máscaras com direito a frustrações, mágoas, reencontros e descobertas. Mirella foi além, comparando o livro como um portal de autoconhecimento para um mundo. Classificou a obra com indicativo para pessoas maduras e dispostas a observar as fragilidades com o ponto de partida e para recomeços.
Serviço
Lançamento do livro “Quando uma mulher descobre o mundo”- Jornada de resistência e superação de uma escritora cega
Dia/hora: 26 de junho (quinta-feira) – 18h
Local: Casa Barão, sede da Academia Mato-Grossense de Letras
Rua Barão de Melgaço, 3684 – Centro Norte – Cuiabá/MT
Valor do livro: R$ 50
Contatos com a autora:
Ayo Adeola (65) 99667-4769 e Sueli Batista (65) 99981.3389
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