História do Shopping Popular

O incêndio que destruiu o Shopping Popular na última segunda-feira (15), em Cuiabá, foi sentido de uma maneira mais intensa pela jornalista Sandra Carvalho.
Repórter na época em que os camelôs lutavam - e muitas vezes apanhavam - para vender seus produtos nas ruas da Capital, ela também é autora do livro "Shopping Popular de Cuiabá", que conta a história do chamado "Camelódromo", como o local ficou conhecido.
"Pareceu um filme de ficção. Quando eu vi aquele fogo lá, tudo que eu narrei no livro parece que foi um enredo de um filme e que depois, no final, queimou tudo”, lamenta. Ela destacou a importância cultural e econômica do shopping para Cuiabá. "É uma perda irreparável".
Sandra começou a trabalhar no projeto do livro em 2014, após ser contatada pela diretoria da associação local.
No entanto, seu envolvimento com os ambulantes começou muitos anos antes, em 1995, quando cobriu a transferência dos camelôs do Centro de Cuiabá para o bairro Dom Aquino, contra a vontade da categoria.
Na época a presença dos camelôs no Centro incomodava o comércio, que alegava concorrência desleal pela informalidade em que eles atuavam. Diante do problema econômico e social, a decisão da Prefeitura foi de permitir que eles seguissem vendendo suas mercadorias, mas distantes da região central. O local escolhido foi o terreno na esquina da Avenida Carmindo de Campos com a Prainha, onde estavam instalados até a última segunda-feira.
"Os camelôs enfrentaram a Polícia, foram presos, tiveram suas mercadorias apreendidas, mas não desistiram. Eles resistiram à transferência, com medo de não terem clientes no novo local, que era deserto", recorda Sandra.
"No dia da transferência, teve prisão e muito choro. O lugar era deserto, tinha apenas uma casinha com dois banheiros e uma sala".
Fotos que ilustram o livro mostram cenas de protesto, enfrentamento à Polícia, pneus queimados e até prisão.
O início
Sem alternativa, os ambulantes acabaram aceitando o novo endereço. "Eles marcaram no chão o número das bancas e começaram a montar suas barracas ali", segue a jornalista.
A partir desse dia, nasceu a Associação dos Camelôs do Shopping Popular. "Eles realizaram eleições ao ar livre e começaram a se organizar."
Com o tempo, a associação se aproximou do poder público. "Graças a esse relacionamento, eles conseguiram um termo de ajustamento de conduta e buscaram sempre a legalidade", explica Sandra. "Eles foram evoluindo, instalando bancas mais modernas, informatizando a sede da associação e ampliando o espaço."
Divulgação/Arquivo Pessoal
A jornalista Sandra Carvalho, durante pesquisas para seu livro
O livro documenta toda essa trajetória. "Escrevi com base nas notícias da época e entrevistas com pessoas que participaram da luta, tanto camelôs quanto autoridades. Falei com os ex-prefeitos Coronel Meirelles (já falecido), Wilson Santos e Chico Galindo. Também entrevistei camelôs que participaram ativamente da resistência."
O livro, que foi publicado em 2023, passou por diversas atualizações para incluir eventos recentes, como a pandemia e o projeto de expansão. "Contei ali uma história de sucesso, inspiradora, de luta, de resistência, de perseverança de pessoas que não desistiram. E sempre buscando sair da marginalidade, pelo fato de venderem coisas do Paraguai", explica Sandra.
"E agora queimou tudo, mas isso não diminui a história deles, realmente são inspiradores."
Apesar da destruição, Sandra acredita na força e resiliência dos comerciantes. "A história nunca vai ser esquecida. Eles vão se reerguer, e daqui a uns dias o Shopping Popular estará de volta".
Veja fotos antigas do inicio do shopping popular:
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2 Comentário(s).
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Benedito da costa 21.07.24 14h45 | ||||
Mesmo que teve muita briga e poderia ter mais outra briga e das grandes. Pois sabiam que a permissão que foi concedida a associação se levar ao pé da letra é ilegal a concessão? Ocorre que a localidade é denominada de "Acampamento de Couto Magalhães era uma área de ± 65ha e ali existência aquela època várias olaria e as pessoas que residam ali antes ao parque de exposição. Daí no governo de Kubitschek doou a área sob lei federal para a Prefeitura sob a condição de que a mesma promovesse a titularização a os oleiros que ali trabalha e habitavam. Pois bem! A Prefeitura desviou a finalidade da Lei patrolou tudo e não deu nenhum palmo de título aos oleiros da época nem tampouco seus sucessores e ninguém ali tem seu documento de propriedade, salvo, alguns comerciantes e a sanecap, o shopping popular, o ginásio, o.parque de exposição. Os demais tão chupando dedo até hoje que são alguns comrciantes da beira rio empate do são mateus, parte dos moradores da rua barão de vila bela | ||||
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Ronaldo 21.07.24 10h04 | ||||
Três ponderações e perguntas que nã calam: 1.Aquele local, antes pertencente a Marinha do Brasil, foi doado de maneira definitiva ou os camelos foram ali colocados provisoriamente; 2. Quantos camelos tiveram permissão para lá instalar; 3. A prefeitura estipulou um limite para a acomodação uma vez que havia um projeto em curso: de uma escola e uma creche com direito a estacionamento. | ||||
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