Cuiabá, Segunda-Feira, 6 de Outubro de 2025
REGISTRO HISTÓRICO
21.07.2024 | 08h14 Tamanho do texto A- A+

Criação do Shopping Popular teve resistência, brigas e até prisão

Jornalista retrata em livro o início do funcionamento do centro comercial no Bairro Dom Aquino

Reprodução

Momento em que uma pessoa colocada dentro de camburão durante manifestação dos ambulantes

Momento em que uma pessoa colocada dentro de camburão durante manifestação dos ambulantes

PIETRA NÓBREGA
DA REDAÇÂO

O incêndio que destruiu o Shopping Popular na última segunda-feira (15), em Cuiabá, foi sentido de uma maneira mais intensa pela jornalista Sandra Carvalho. 

Os camelôs enfrentaram a Polícia, foram presos, tiveram suas mercadorias apreendidas, mas não desistiram

 

Repórter na época em que os camelôs lutavam - e muitas vezes apanhavam - para vender seus produtos nas ruas da Capital, ela também é autora do livro "Shopping Popular de Cuiabá", que conta a história do chamado "Camelódromo", como o local ficou conhecido. 

 

"Pareceu um filme de ficção. Quando eu vi aquele fogo lá, tudo que eu narrei no livro parece que foi um enredo de um filme e que depois, no final, queimou tudo”, lamenta. Ela destacou a importância cultural e econômica do shopping para Cuiabá. "É uma perda irreparável".

 

Sandra começou a trabalhar no projeto do livro em 2014, após ser contatada pela diretoria da associação local. 

 

No entanto, seu envolvimento com os ambulantes começou muitos anos antes, em 1995, quando cobriu a transferência dos camelôs do Centro de Cuiabá para o bairro Dom Aquino, contra a vontade da categoria.

 

Na época a presença dos camelôs no Centro incomodava o comércio, que alegava concorrência desleal pela informalidade em que eles atuavam. Diante do problema econômico e social, a decisão da Prefeitura foi de permitir que eles seguissem vendendo suas mercadorias, mas distantes da região central. O local escolhido foi o terreno na esquina da Avenida Carmindo de Campos com a Prainha, onde estavam instalados até a última segunda-feira.

 

"Os camelôs enfrentaram a Polícia, foram presos, tiveram suas mercadorias apreendidas, mas não desistiram. Eles resistiram à transferência, com medo de não terem clientes no novo local, que era deserto", recorda Sandra.

  

"No dia da transferência, teve prisão e muito choro. O lugar era deserto, tinha apenas uma casinha com dois banheiros e uma sala".


Fotos que ilustram o livro mostram cenas de protesto, enfrentamento à Polícia, pneus queimados e até prisão.

 

O início

 

Sem alternativa, os ambulantes acabaram aceitando o novo endereço. "Eles marcaram no chão o número das bancas e começaram a montar suas barracas ali", segue a jornalista.

 

A partir desse dia, nasceu a Associação dos Camelôs do Shopping Popular. "Eles realizaram eleições ao ar livre e começaram a se organizar."

 

Com o tempo, a associação se aproximou do poder público. "Graças a esse relacionamento, eles conseguiram um termo de ajustamento de conduta e buscaram sempre a legalidade", explica Sandra. "Eles foram evoluindo, instalando bancas mais modernas, informatizando a sede da associação e ampliando o espaço."

Divulgação/Arquivo Pessoal

História do Shopping Popular

A jornalista Sandra Carvalho, durante pesquisas para seu livro

 

O livro documenta toda essa trajetória. "Escrevi com base nas notícias da época e entrevistas com pessoas que participaram da luta, tanto camelôs quanto autoridades. Falei com os ex-prefeitos Coronel Meirelles (já falecido), Wilson Santos e Chico Galindo. Também entrevistei camelôs que participaram ativamente da resistência."

 

O livro, que foi publicado em 2023, passou por diversas atualizações para incluir eventos recentes, como a pandemia e o projeto de expansão. "Contei ali uma história de sucesso, inspiradora, de luta, de resistência, de perseverança de pessoas que não desistiram. E sempre buscando sair da marginalidade, pelo fato de venderem coisas do Paraguai", explica Sandra.

 

"E agora queimou tudo, mas isso não diminui a história deles, realmente são inspiradores."

  

Apesar da destruição, Sandra acredita na força e resiliência dos comerciantes. "A história nunca vai ser esquecida. Eles vão se reerguer, e daqui a uns dias o Shopping Popular estará de volta". 

 

 

 Veja fotos antigas do inicio do shopping popular:

 

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GALERIA DE FOTOS
Divulgação/Arquivo Pessoal

História do Shopping Popular

Divulgação/Arquivo Pessoal

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2 Comentário(s).

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Benedito da costa  21.07.24 14h45
Mesmo que teve muita briga e poderia ter mais outra briga e das grandes. Pois sabiam que a permissão que foi concedida a associação se levar ao pé da letra é ilegal a concessão? Ocorre que a localidade é denominada de "Acampamento de Couto Magalhães era uma área de ± 65ha e ali existência aquela època várias olaria e as pessoas que residam ali antes ao parque de exposição. Daí no governo de Kubitschek doou a área sob lei federal para a Prefeitura sob a condição de que a mesma promovesse a titularização a os oleiros que ali trabalha e habitavam. Pois bem! A Prefeitura desviou a finalidade da Lei patrolou tudo e não deu nenhum palmo de título aos oleiros da época nem tampouco seus sucessores e ninguém ali tem seu documento de propriedade, salvo, alguns comerciantes e a sanecap, o shopping popular, o ginásio, o.parque de exposição. Os demais tão chupando dedo até hoje que são alguns comrciantes da beira rio empate do são mateus, parte dos moradores da rua barão de vila bela
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Ronaldo  21.07.24 10h04
Três ponderações e perguntas que nã calam: 1.Aquele local, antes pertencente a Marinha do Brasil, foi doado de maneira definitiva ou os camelos foram ali colocados provisoriamente; 2. Quantos camelos tiveram permissão para lá instalar; 3. A prefeitura estipulou um limite para a acomodação uma vez que havia um projeto em curso: de uma escola e uma creche com direito a estacionamento.
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